DIGO-TE O QUE COMO, DIREI-TE-EI QUEM SOU
Aquela sexta antes da Páscoa era sempre sagrada. Porquê? Porque além de ser feriado era o dia de ir ao mexilhão. Madrugava-se e lá ía a famelga toda com uma vestimenta de meia estação. Uma vestimenta "espera aí que eu já te digo", caso fica-se sol "bonito", caso fica-se frio e chuva "tomaaaaa!". Calçita arregaçada ou veste de ir banhos lá andavamos nós entre as rochas e se desse sorte com a maré baixar, mar adentro. Depois era uma tardada de mexilhões cozinhados de todas as maneiras e feitios. Como qualquer criança que se considere criança a casquinha do inofensivo crustáceo, que por o ser não tinha aquele olhar que nos fizesse pensar duas vezes antes de o engolir sem compaixão, fazia de belas e delicadas unhas de bruxa.
Anos mais tarde, lá para os lados das Alemanhas, que ávida de novidade espreitava atrás dum muro que nos entretantos já tinha desabado, o Poppe pediu para eu fazer um prato típico português apresentando com orgulho uma bela latita de mexilhões. Primeiro o rosto adquiriu um sembalnte de surpresa e dúvida, depois as mãos viraram e reviraram a latita. Eram mesmos mexilhões!!! Escusado será dizer que o corpo volteou confuso na pequena cozinha deixando os ombros abanarem-se de um riso dificil de conter.Uma lata de mexilhões!! Nunca visto em 19 anos de existência!! As cascas nem vê-las!... Que prato típico poderia fazer com meia dúzia de mexilhões em conserva?!!... Pasta com mexilhões e molho de tomate!... Very castiço! Cof cof. Assim como assim aquela sopa de legumes que havia sempre à mão de semear o amigo Poppe perguntava se eu tinha feito tudo tudo sózinha e de que marca era já agora...Bom, nada de espantar pois já havia quem perguntasse se havia carros em Portugal ou andávamos todos de carroça. Ao que respondi:"Claro! E nós mulheres andamos de lenço preto na cabeça, choramos muito em frente ao mar de cinto de castidade com chave desaparecida em mar alto!"
Bom, quando me convidaram para comer um prato típico alemão num apartamento no centro de Berlim cheio de pessoas e esperei horrores não esperava deparar-me com batatas cozidas degustadas com manteiga. Mais tarde perguntei a uma amiga se não estavam tirando onda da minha pessoa. Na boa, mas era só para saber e rir-me também. E ela respondeu que não, que aquele prato durante a guerra era um acepipe. Principalmente com manteiga!! Logo me lembrei do arroz à Valenciana que foi criado durante a guerra cívil espanhola com os ratos que ainda restavam pela cidade.
Hoje, recordo com alguma nostalgia essas sextas feiras sagradas da comezaina de mexilhão. Com o passar dos anos confirmei aquela tão conhecida expressã:" Quem se lixa é sempre o mexilhão." Pois... Mas isso agora não vem ao caso. A sorrir e a acenar que vida vai melhorar para quem assim acreditar. Dessas sextas e desses domingos de Páscoa guardo a memórias dos ovos de Páscoa com amêndoas lá dentro. Os ovos grandes eram para se comerem no domingo de Páscoa ou pequeninos no domingo de Pascoela, que seria dali a uma semana. Ainda hoje me pergunto se essa tal Pascoela não era uma invenção da minha mãe na esperança da chocolataria não ser devorada de uma só vez. Quanto aos preceitos das práticas religiosas, penso que eram estas básicamente as postas em ação. Havia uma ou outra prática levada mais a sério, mas só de vez em quando, que era beijar o pézinho do menino Jesus no dia 25 de Dezembro. Mas depois começou-se a falar lá por casa que aquelas senhoras todas de casacos com cheiro a naftalina beijavam o pézinho no preciso lugar onde eu beijava. Levantada a hipóte as poucas incursões ao pézinho do menino Jesus acabaram. Ainda degustei um óstia por engano... Soube-me bem. Um sabor simpático a papel. Vim dar a noticia, mas já era tarde. A minha mãe falou que era só para ter ficado sentada perto das outras crianças... Mas obediente como eu era, assim que o padre pediu para fazer fila eu também fui!...
Quanto à Biblia, li uma ilustrada, daquelas para criança. Até hoje tomo-a como um livro de poesia para levar só algumas coisas em consideração. Mas menina obediente como continuo a ser levo-as em consideração colocando os ismos de lado. Ismos são como espinhas no prato, riscam a garganta.
A piU
Br, 28 de Março de 2013
Aquela sexta antes da Páscoa era sempre sagrada. Porquê? Porque além de ser feriado era o dia de ir ao mexilhão. Madrugava-se e lá ía a famelga toda com uma vestimenta de meia estação. Uma vestimenta "espera aí que eu já te digo", caso fica-se sol "bonito", caso fica-se frio e chuva "tomaaaaa!". Calçita arregaçada ou veste de ir banhos lá andavamos nós entre as rochas e se desse sorte com a maré baixar, mar adentro. Depois era uma tardada de mexilhões cozinhados de todas as maneiras e feitios. Como qualquer criança que se considere criança a casquinha do inofensivo crustáceo, que por o ser não tinha aquele olhar que nos fizesse pensar duas vezes antes de o engolir sem compaixão, fazia de belas e delicadas unhas de bruxa.
Anos mais tarde, lá para os lados das Alemanhas, que ávida de novidade espreitava atrás dum muro que nos entretantos já tinha desabado, o Poppe pediu para eu fazer um prato típico português apresentando com orgulho uma bela latita de mexilhões. Primeiro o rosto adquiriu um sembalnte de surpresa e dúvida, depois as mãos viraram e reviraram a latita. Eram mesmos mexilhões!!! Escusado será dizer que o corpo volteou confuso na pequena cozinha deixando os ombros abanarem-se de um riso dificil de conter.Uma lata de mexilhões!! Nunca visto em 19 anos de existência!! As cascas nem vê-las!... Que prato típico poderia fazer com meia dúzia de mexilhões em conserva?!!... Pasta com mexilhões e molho de tomate!... Very castiço! Cof cof. Assim como assim aquela sopa de legumes que havia sempre à mão de semear o amigo Poppe perguntava se eu tinha feito tudo tudo sózinha e de que marca era já agora...Bom, nada de espantar pois já havia quem perguntasse se havia carros em Portugal ou andávamos todos de carroça. Ao que respondi:"Claro! E nós mulheres andamos de lenço preto na cabeça, choramos muito em frente ao mar de cinto de castidade com chave desaparecida em mar alto!"
Bom, quando me convidaram para comer um prato típico alemão num apartamento no centro de Berlim cheio de pessoas e esperei horrores não esperava deparar-me com batatas cozidas degustadas com manteiga. Mais tarde perguntei a uma amiga se não estavam tirando onda da minha pessoa. Na boa, mas era só para saber e rir-me também. E ela respondeu que não, que aquele prato durante a guerra era um acepipe. Principalmente com manteiga!! Logo me lembrei do arroz à Valenciana que foi criado durante a guerra cívil espanhola com os ratos que ainda restavam pela cidade.
Hoje, recordo com alguma nostalgia essas sextas feiras sagradas da comezaina de mexilhão. Com o passar dos anos confirmei aquela tão conhecida expressã:" Quem se lixa é sempre o mexilhão." Pois... Mas isso agora não vem ao caso. A sorrir e a acenar que vida vai melhorar para quem assim acreditar. Dessas sextas e desses domingos de Páscoa guardo a memórias dos ovos de Páscoa com amêndoas lá dentro. Os ovos grandes eram para se comerem no domingo de Páscoa ou pequeninos no domingo de Pascoela, que seria dali a uma semana. Ainda hoje me pergunto se essa tal Pascoela não era uma invenção da minha mãe na esperança da chocolataria não ser devorada de uma só vez. Quanto aos preceitos das práticas religiosas, penso que eram estas básicamente as postas em ação. Havia uma ou outra prática levada mais a sério, mas só de vez em quando, que era beijar o pézinho do menino Jesus no dia 25 de Dezembro. Mas depois começou-se a falar lá por casa que aquelas senhoras todas de casacos com cheiro a naftalina beijavam o pézinho no preciso lugar onde eu beijava. Levantada a hipóte as poucas incursões ao pézinho do menino Jesus acabaram. Ainda degustei um óstia por engano... Soube-me bem. Um sabor simpático a papel. Vim dar a noticia, mas já era tarde. A minha mãe falou que era só para ter ficado sentada perto das outras crianças... Mas obediente como eu era, assim que o padre pediu para fazer fila eu também fui!...
Quanto à Biblia, li uma ilustrada, daquelas para criança. Até hoje tomo-a como um livro de poesia para levar só algumas coisas em consideração. Mas menina obediente como continuo a ser levo-as em consideração colocando os ismos de lado. Ismos são como espinhas no prato, riscam a garganta.
A piU
Br, 28 de Março de 2013
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