sábado, 28 de janeiro de 2023

EU FALO E ESCREVO A PARTIR DE MIM série: aprender a aprender


Todxs nós viemos aqui para aprender. Ou não? Alguém nasce ensinado? Ótimo, óptimo, se uns já atingiram um nível de entendimento que a maioria não! Então partIlhem, compartilhem, dividam para somar. Eu tenho uma formação de esquerda, o que é que isso possa significar dentro deste sistema neo liberal como tal classista, em que nuns lugares é mais gritante que noutros. Falo e escrevo a partir do meu lugar, como tal a gerência agradece que não me coloquem em posições que não me pertencem por pura ignorância, lugares comuns, informação distorcida e equivoco. Gratinados.
Esta foto data de 1995, o meu primeiro trabalho como actriz/ atriz profissional. Sim, é um personagem masculino: o criado da peça original de Carlo Goldoni: A Estalajadeira. Por coincidência, se é que esta existe, eu iniciei o meu percurso artistico profisional no Alentejo,sul de Portugal, terra dos meus avós maternos. Porém, iniciei essa prática teatral em Lisboa, capital de Portugal. Primeiro no teatro amador depois num curso de actores. Conheço Lisboa e Portugal como a palma da minha mão, nomeadamente o meio artistico, no caso teatral. Como tal sou trabalhadora das artes cénicas desde 1990 e eu como a restante da classe artistica portuguesa não precisamos de lições de moral diante do desafio que é ser artista nesse país. Quanto muito precisamos de abanões, chacoalhos, como todas as classes artisticas em qualquer parte do mundo.
As minha origens são de trabalhadores braçais e criadagem, no caso os meus avós. Os meus pais já fazem parte duma pequeno burguesia trabalhadora que emerge no final dos anos 60,. Nunca tivemos criadagem nem pretendemos ter. Tampouco exploramos a força de trabalho de alguém como muitos por aí que se dizem de esquerda mas na hora H.... " venha a mim o que é teu".
Eu vivo do meu trabalho, que no caso é artístico, e que tem o seu lugar, a sua importância na sociedade. Há 11 anos que vivo no Brasil e muitas vezes não tenho sido acolhida pela classe artistica local na sua plenitude. Artistas das cénicas bem consolidados e referêncio nacional e também internacional. Os bambambam tão sorridentes e de esquerda ( gourmet) que tem hora que parece que visitamos o templo zen, mais o sambódromo em Orlando. E ainda bemos uma saché com comida japonesa. Sim, é uma provocação. Assumo. No meio disso tudo parece que a nossa experiência e formação não vale quase nada, não a temos, e ainda é esperado bajular com aquele sorriso maravilhoso e3 agradecido no rosto. Vai da estupefacção, ao enjoo. Daí a pessoa sabe que o Brasil
,como o mundo, é grande e vai em busca de outras acolhidas. Tem de tudo. Mas na hora do aperto quem nos enxerga como trabalhador(a)? Muito poucos sim, outros tantos nem tanto.
O episódio da atriz trans Keyla Brasil tem me deixado numa profunda reflexão acerca do lugar que nós ocupamos ou que desejariamos ocupar, nas inúmeras (in)visibilidades. Eu entendo o grito de dor e de pedido de ajuda de pessoas como a Keyla Brasil embora não concorde com a invasão de palco exigindo que um ator saia de cena porque é transfake. E dói confirmar que todxs nós somos vitimas do patriarcado, do neo libealismo. Todavia, por continuarmos vivxs há a esperança de aprendermos a aprender a nos escutarmos e enxergamos uns aos outrxs para viver com o coração mais quente numa grande rede de apoio.
A Piu
Campinas SP 28/01/2023

Sem comentários:

Enviar um comentário