domingo, 5 de setembro de 2021

QUE TITULO EU DOU A ISTO?


" Você é uma mulher politica", afirma a jovem mulher que terá a idade que eu tenho nesta foto. Uma mulher politica... O que é que isso significa? Eu sou mulher, cidadã, artista de profissão, trabalhadora, mãe solo, estudiosa de artes, ciências sociais e arteterapia e outros estudos realcionados com terapias alternativas. Sou politizada, mas apartidária. Nunca entrei no mundo da politica, nem pretendo. Além de não ter vida para isso há quem o faça melhor e torço que o faça bem por nós todes.
No texto passado não prometi, como os polticos, mas enunciei que iria falar sobre o acolhimento. O que é acoher para 'vocesses"? Para mim, antes de tudo, é escutar, observar sem julgamentos/ juizos de valor, ideias pré concebidas que viram num estalinho de dedos em preconceitos.
Como posso conhecer a outra pessoa se nem a mim me conheço? Tenho aqui uma história na manga, no caso, na cava da camisa porque estou sem magas devido ao calor sobre "o que ele pensa que eu penso que ele pensa". Mas já conto. Uhhhh Uma história de mistério e revelação do lado sombrio, do dark side of the moon, da Piu.
Desde já agradeço do fundo do coração todos os acolhimentos, apoios, inspirações que muitos seres humanos neste imenso território brasileiro e sul americano teem propocionado. Sim, foi com esse propósito que há quase 10 anos decidi vir de malas, bagagens e duas filhas pela mão para terras sul americanas. Por acaso coincidiu com a crise que assolou o meu país de origem, mas o sonho já vem de alguns anos atrás: viver no Brasil e mergulhar nos inúmeros saberes e práticas artisticas, culturais, de modos de vida alternativos. Com diálogo e troca, dispensando redondamente apropriações culturais.
Para mim a solidariedade é um ato politico. Vivemos tempos de solidariedade? Algumas vezes sim, outras não. Certa vez dei por mim a esbracejar com as minhas filhas uma vez mais: ' É O MEU TRABALHO! M....!'" Naquele exato momento eu realizei a pressão em que eu estava: ter de trabalhar, ser reconhecida e valorizada pelo meu trabalho, cuidar das minhas filhas e não esquecer quem eu sou. Muitas vezes olhei ao redor senti-me no meio do deserto do Sahara com sede, com fome de gente que respirasse humildade, informação sem ser fake e empatia - nesta época eu frequentava um lugar que os unicampeões frequentam e outros pulavam das árvores porque ser engraçado é uma profissão. Para mim essa profissão de ser engraçado só tem graça se ninguém largar a mão de ninguém ao invés de somente pensar na sua própria carreira e os outros que se virem por si. Nunca me enquadrei muito bem nas dinâmicas de cada um por si.
E você caro leitor, não tome isso como algo personalizado. Como uma indireta. Se não se reconhece assim não se ofenda se se reconhece é uma bela oportunidade para se repensar na ideia que tem de você mesmo acerca de ser acolhedor ou não. Enfim,se chegou até aqui é porque gosta de ler e acredito que ame refletir. Bora refletir junto com leveza e entendimento? BORA!
Qual era o episódio que ia contar? Ah! Certa vez, lá por 1998 numa grande exposição em Lisboa onde muitos de nós trabalhamos durante muitos meses, um colega que tinha acabado de me conhecer construiu na sua cabeça uma ideia acerca de mim e por ali foi. Ao inicio deve-me ter achado muita graça e a maneira de se meter comigo era dizer que eu era uma betinha/ patricinha/ menina da linha armada em anarquista. Ahahaha Menina da linha, são meninas de familas ricas que moram na linha do Estoril que é supostamente um lugar bambambam, tipo Leblon vá. Só que eu e a a minha familia somos dum lugarejo suburbano perto da linha do Estoril, um lugar suburbano atrasadote como a fala desse sujeito que me tentava infantilizar, porque ele era da Juventude Social Democrata. Tudo bem. Ele pode ser tudo o que ele quiser sem precisar de fantasiar e desconsiderar a pessoa que nem conhece. Talvez para ele, por eu ter olhos claros, cabelo claro e ser branca bronzeada por trabalhar muito ao ar livre eu era uma menininha do papá armada em descoladaça. Enfim, nessa época eu já tinha vivido temporrariamente na Alemanha de Leste, passado pela Holanda e França sempre com a minha autonomia por ser uma jovem solteira sem filharagem que dependesse de mim e vem um fulano escarnecer do que eu penso, do meu modo de estar na vida e ainda desconsiderar, por não me conhecer.
Eu que sou neta de pessoas humildes trabalhadoras que ofereceram a oportunidade dos seus filhos poderem estudar sem perder a consciência de classe. Resultado: para não lhe virar o prato de comida em cima da cabeça dele virei-o sobre a mesa na sua frente, num intervalo de almoço do nosso trabalho É chato? É. Mas a partir dali ele confirmou que sou anarco punk do bem já com os seus calos. Ao menos ele não aumentou o episódio. porque muitos testemunharam. Acabou-se ali a sua paquera do jovem de direita que enxerga tudo segundo as suas referências.
Pronto... Enxergarmos os outros para lá das nossas referências e ideias pré concebidas é acolhimento.Enxergar e valorizar o trabalho dos outros além de acolhimento é um ato politico.
Assim sendo, fica aqui resgistrado que o meu posicionamento é para honrar a minha pessoa, as minhas filhas e todas as mulheres que vieram antes de nós. O nosso trabalho tem valor, seja a vender selos dos correios, a limpar casas de patroas ou a subir em palcos, escrever, contar histórias e propor outras formas de nos relacionarmos com olhos de escutar e ouvidos de observar.
Ufa,,,, Já andava para escrever isto há muito tempo, só precisava de tempo para não cair em precipitações. E rir das nossas sombras é também uma forma de nos iluminarmos.
A Piu
Campinas SP 05/09/2021

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