sábado, 25 de setembro de 2021

ADONDE ESTÁ O MÊ PENSAMENTO? - um breve tributo ao povo brasileiro


 Eu não disse? Eu não falei que a uma dada altura perguntavam de que tribo eu era? Se hippie ou vanguarda. Este look pixie, este visu penteado duente surgiu muito antes de eu descobrir o teatro e vive versa e troca o passo. Um penteado prático que uma mãe, duma menina nascida nos anos 70, de alguma forma implantou. A sua Anita aderiu até aos dias de hoje, com um gadelhum, uma juba aqui e ali que  picava no pescoço como as golas altas de lã e fecahava o rosto.

Aqui terei uns 18, 19 anos. Uma já estudante das tais artes cênicas que aos fins de  semana limpava o lugar onde habitava, já fora da casa da familia onde também a faxinava, ao som duma cassete dos Pixies. 

Para os mais desavisados, principalmente no Brasil que é dos países mais desiguais do mundo, olharão e já farão um cálculo da minha conta bancária lá em cima, que muitas vezes está pela hora do " ai jejum que lá vou eu!" Assim como deve logo de primeira tecerem ilações segundo as referências duma sociedade que ainda não se livrou da criadagem mal paga que outroroa era agrilhoada para trabalhar nas plantações de café, cana e outros. Sim, estou a beber um café. Se ler um pouco mais das " As Veias Abertas" do Galeano deixo de beber café, assim como consumir quase todos os produtos. Se conversar mais com os meu amigos mesmo mesmo hippies da velha guarda não me tinha ido vacinar ontem pela segunda vez. Eu entendo as relutâncias à vacinação, mas mesmo assim com todas as contra indicações eu só espero que a taxa de mortes baixe e que as pessoas possam se ir imunizando através do acesso democrático ao sistema de saúde pública.

Eu sempre tenho a tendência para falar de muitas coisas ao mesmo tempo ao ponto de me perguntarem qual o tema da minha fala... Eu não me importo. Começo por falar dos gatos que não tive por viver num apartamento pequenito num centro de Lisboa para depois falar sobre o apartamento e a especulação imobiliária e o direito à habitação. 

Começo por falar do meu penteado pixie duma foto dos tempos de estudante de teatro para me lembrar que a História do Teatro que aprendi inicialmente foi a do teatro no Ocidente, mais tarde na Antropologia Teatral umas pitadas de teatro Oriental e nunca aprendi sobre o teatro Negro nem Indígena. Como sou uma eterna estudante agora em terras brasileiras tenho a oportunidade de escutar essas vozes e assistir ao seu fazer. E cada vez mais o faço porque o protagonismo é delas e escutar a necessidade destas escreverem, trazerem para cena a sua ancestralidade, a sua identidade que tentaram apagar, honrar os seus avós e bisavós escravos, o racismo e a exploração que até hoje vivem.

Para mim a pessoa branca que fala que o Brasil já deu é porque realmente nunca o conheceu, muito menos agradeceu pelo facto de um dia este território ter acolhido os seus antepassados em fuga de fome, guerra, e desemprego. A pessoa pode ter o chamado de voltar ao lugar onde os seus antepassados um dia sairam. Pode ir para onde quiser seja porque motivo for: porque fechou o ciclo de estar num território, pelo glamour que é viver na Europa mesmo que sofra em maior ou menos escala de crises politicas e financeiras. Mas para mim também já deu escutar que o Brasil já deu. O Brasil não é do Coiso nem de quem ainda o defende e sim de quem resiste. Minha eterna reverêrncia aos povos originários desta imensa América e aos povos africanos trazidos à força para cá.


A Piu

Campinas SP 25/09/2021

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