segunda-feira, 31 de maio de 2021

PRANTE-E AÍ E ESCUTA BÊ O QUÊ TE DIGO!



 


" Ele é o quêi? Ai! Tal num tá a moenga! Tu pranta-te quedo ca vida são dois dias e amanhã é o tercêro!". Bom, não faltarão oportunidades de gravar uma performance interativa e intercultural, à laia de tik tok e experiências teatrais que hoje são conduzidas para o virtual; para que nós, pantomineiros, nos adaptemos as estes tempos de confinamento onde só botecos, bares e restaurante, assim como eventos futebolísticos permitem aglomerações quando ainda uma grande parte da população não está vacinada.
Farei sim, uma intervenção áudio visual dentro dos recursos tecnológicos caseiros que tenho e os conhecimentos pantomineiros de quem sempre trabalhou ao vivo e a cores, olho no olho. Seja na rua, em sala de espetáculo, em hospital, escolas e presídios.
As expressões que iniciam este texto são alentejanices com um sotaque próprio. Expressões idiomáticas do Alentejo, sul de Portugal que durante muito tempo foi um latifúndio na mesma lógica do nordeste brasileiro, mas com mão de obra barata nacional. Os meus tetravós maternos, bisavós e avós habitaram esses imensos latifúndios e trabalharam para os senhores latifundiários desse celeiro de Portugal.
Muitas palavras acabam em "i", usa-se o gerúndio como no Brasil: 'estou fazendo" em vez de " estou a fazer". Moenga significa 'vida', assim como 'moído', 'cansaço', 'moleza'.
Apesar dos alentejanos, pelo menos da época dos meus avós, serem muito trabalhadores eram explorados e chamados de preguiçosos.
Essa expressão de olhar que você, car@ leitor@, vê na foto como se de dois faróis se tratassem é recorrente em muitas situações quotidianas. Desde 2012, ano em que eu vim morar no Brasil porque admiro, gosto, sou apaixonada por este território com a sua diversidade cultural e contextos múltiplos em que aprendo um monte, principalmente com aqueles e aquelas cuja voz é sistematicamente silenciada. Refiro-me aos povos originários, aqueles que vieram à força como escravos, às mulheres dos diferentes recortes sociais, aos movimentos sociais, artísticos que habitam este imenso território.
Sim, com esta idade o meu olhar ainda se espanta. Espanta-se quando em 2012 cheguei num meio académico que com o seu modus operandis, e suas interações interpessoais e logo desconfiei que estava num ambiente fascista. Sim, ainda hoje desconfio desse ambiente meritocrata em que em algumas situações até é chique, glamouroso defender ideais igualitários e invocar o Che e o Fidel... Enfim. Os olhos também se espantavam como alguém que se diz defensor dos direitos dos trabalhadores estivesse tão desinformado acerca do que se passava no sul da Europa ( Portugal, Espanha, Itália e Grécia). Tão desinformado ao ponto de escarnecer duma mulher, mãe solo, trabalhadora, artista, estudante universitária por ser portuguesa e ser mulher... Depois, com as manobras neo liberais, o "meu" país ficou à venda, como um parque temático turístico aberto a investimentos, mão de obra barata de contratos precários. bolsistas que trazem as suas bolsas de estudo do seu país e aposentados de classe média brasileira para injetar dinheiro no "meu" país que CHUTOU UMA GRANDE PARTE DA POPULAÇÃO TRABALHADORA QUALIFICADA OU NÃO ENTRE 2007 E 2015/2016, sensivelmente. Ser portuguesa agora até é um pouco glamouroso... Cof cof. Portugal virou moda... Mas aqui e ali há sempre que enfrentar aquele olhar e risinho babaca dum escarnecimento enraizado no inconsciente coletivo.
A partir aí de 2018 comecei a escutar: "Ai! Porque você está no Brasil? Portugal é bom demais!" E os olhos voltaram a se abrir com um espanto, entre o ser pega se surpresa e o assombro de confirmar que a desinformação ou a informação que nos conduz ao individualismo em manada tira-nos do caminho da solidariedade.
Como podemos não largar as mãos uns dos outros se nem chegamos a dá-las com conhecimento de causa, livre de achismos, modismos e ideais glamourizados e outrso discursos oficiais fake?
Ainda fica aquela pergunta, que propositadamente deixei para o fim deste texto, porque é uma pergunta que escancara o meu olhar e suspende a minha respiração: " Um sujeito que, durante anos a fio, persegue virtualmente uma mulher sem a conhecer pessoalmente, que brinca de hacker com as contas das redes sociais da mesma ele fará isso somente com ela ou com outras mulheres por as achar todas burrinhas? Essa capacidade hackerear é usado para mais o quê? Com que fins? Quero acreditar que foi um devaneio dum sujeito de mente confusa que não sabe lidar com o brilho duma mulher, principalmente estrangeira cuja fama do seu povo ( português) é de serem todos burros. Sendo que provavelmente o mesmo é descendente do povo que desdenha. Visto ser tão capacitado para filosofias várias, todas elas vindas do mental, mando boas energias, vibrações para que comece a pesquisar o seu emocional, as batidas do seu coração, a sua respiração e cure-se de si mesmo. Curarmo-nos de nós mesmes É REVOLUCIONÁRIO ao invés de jogar os nossos monstros internos, todes nós os temos, para cimas de outres seres viventes porque em algum momento acreditamos que para vencermos na vida temos que passar a perna aos demais. Ah! E as mulheres são para ser respeitadas. Elas não um buraquinho para enfiar bandeiras, paus e outros artefatos. Ter que dizer isto no ano de 2021 em pleno século 21 é um pouco constrangedor, mas precisa de ser dito, redito e novamente dito.
Vitória à consciência expandida!
Beijos e abraço
A Piu
Campinas SP 31/05/2021

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