domingo, 16 de maio de 2021

AS (des)AVENTURAS DE CHURUMELA ANDRADE CARLOTA TROVÃO: I CENA ( primeira parte)

Taicodi e Churumela estão sentadas numa das mesas exteriores da cantina de Normose. Normose é um lugar onde transita muita gente e uma grande parte nem se vê, não se enxerga. Um lugar desestruturado e desestruturante, porém institucionalizado, logo legitimado.
Taicoidi e Churumela estão sentadas numa das mesas exteriores da cantina do Instituto da Linguagem que fica no enclave das Humanas com as Artes. A cantina está vazia.
Taicodi- É... o preconceito é fruto do medo e da ignorância. Eu também já senti medo ao ser perseguida por um colega surtado de faculdade. Ainda bem que os meus amigos e professores me apoiaram. Espero que ele não se lembre mais de mim... Ele foi afastado ou afastou-se... Sim, aquele que também lhe enviou mensagens.
Churumela- Sim... Mas desta vez, como de muitas outras não me parece que seja o mesmo que me envia mensagens, e outras coisas maradas que nem dá para acreditar. Esse seu colega pelo menos identifica-se com o seu nome. Mas se eu fosse enumerar as provas que o “ engraçadinho” , o outro, o seu amigo que escreveu certa vez que as mulheres são todas burras, mais até que todos os portugueses juntos, não sairíamos daqui e esta peça não evoluiria.
Taicodi - Não falamos há muito tempo. Mas não o vejo fazendo isso.
Churumela-- Tá bom. Somos duas que precisamos de aprender a não sermos ingénuas sem nunca perder a ternura e ficar de olho em quem acha que pode sugar o nosso sangue e viver na nossa sombra, cheio de louros.
Mas adiante! Tanto no assunto como naquilo que eu almejo em relação a tudo isto: praticar mais a escuta e questionar as nossas certezas e acima de tudo para sermos gente de verdade com verdade. Sempre lhe agradeço, Taicodi, muito por você estar sempre presente para me escutar quando lhe peço. Esta é a segunda ou terceira vez. E você sempre me escuta com atenção sem esgares, nem juízos de valor. Gostaria que o Vive estivesse aqui presente.
Taicodi- Eh! Ele não está aqui. Está em Portugal.
- Ah! Entendi! Talvez o Zé Ruela tema que nós nos encontremos na minha terra natal...E... A máscara caia. A gente se aproxime. Por isso... Tá!Tá!... Ok! Antes de tudo, Taicodi, quero-lhe dizer que você é uma jovem mulher focada nas suas realizações profissionais isso além de inspirador deve incomodar muitos homens. Mas não se intimide. Não nos intimidemos. Demos continuidade ao nosso trabalho do qual somos apaixonadas e é também ele que nos liberta desse engodo machinho. Muitos deles até já se esquecem que tivemos outras relações e temos filhos para sustentar. Você faz yoga?
Taicodi- Já experimentei, mas não pratico. Porquê?
C- O Chacha Pança é um tanto chachada...
Taicodi- Sim, um pouco.
C - Vamos considerar que é um pouco porque se olharmos de perto, mesmo de perto os pulmões ficam todos condensados que até correm o risco de se esfarelarem. – Taicodi ri-se um pouco – Porque você se ri, de vez em quando das chachadas, das babaquices, das baboseiras de gosto duvidoso do Chacha Pança?
T- Quais babaquices?
C- Você gosta de ser tocada, desejada, acariciada?
T- Sim.
C- Natural, saudável. Você já teve relações com alguém em posição de yoga?
T - Não. Mas o que é que é você quer dizer com isso?
C - Que quando nós rimos duma piada dum homem branco no Brasil, homem esse que pode acessar à informação e outros recursos que o colocam num lugar privilegiado, acerca de penetrar uma mulher enquanto esta faz yoga isso dá vontade de rir? Ainda para mais quando acha lindo, demais ser sarcástico e rir preconceituosamente de mulheres, negros, trans, de pessoas que nem conhece e ainda ridiculariza o trabalho. A força do seu trabalho. A força do seu sustento. Porque ele sim é o meritocrata que vive de bolsas e à custa de estudos dos “selvagens” (?!). Mas nunca os entendeu, senão não estava deprimido.
Mas entre uma postagem e outra ou a consciência fala mais alto ou a fofura tenta camuflar a babaquice. Você já foi alvo de preconceito Taicodi? É uma redundância perguntar-lhe isto, visto aquele colega a ter perseguidor e visto esse colega não ser o mesmo que me trouxe aqui para pelo menos alguém testemunhar que estou sendo alvo dum hacker. Sabia que isso é crime? Acho que o mesmo deve saber. Ou é assim tão alienado? Invadir a privacidade de alguém e assediar moralmente é crime. Mas também lhe digo, que vamos tratar este assunto duma forma mais sábia.
A Piu
Campinas SP 16/05/2021

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