domingo, 28 de junho de 2020

SORORIDADE TEMPORARIAMENTE INTERROMPIDA

A mulher julgou a outra sem saber da missa a metade. Surtar não faz parte dos planos mulher sagrada: " Ai  como ela não está suficientemente espiritualizada e grita com os homens, principalmente quando bebe mais um pouco! Eu gosto de beber mas eu comporto-me. Sou uma mulher selvagem bem comportadinha. Quem diria que essa aí medita! Diz ela! Eu não sei o que é ter filhos, mas essa aí!! Só por zeus! Vou mas é abraçar-me ao meu carro!"

A mulher não ia à missa nem ao culto, nem a que julgou nem a que foi julgada. A mulher sagrada, que assim se definia, em volta da fogueira queimava palo santo; o mesmo palo santo que defumava a casa quando as energias estavam pesadas, segundo ela energias de fora. Era necessário colocar um cacto para afastar aquela mulher cujos uivos eram duma loba que quer amamentar os seus filhotes mas destoam à sua cantoria matinal, linda, maravilhosa, resplandecente repleta de sacralidade. A outra, a bruxa da verruga no nariz que mesmo no enlaço do caminho do coração trazia dores antigas muito antigas, mesmo antes de ter nascido. Assim como a mulher sagrada que corretamente avaliava o que estava dentro do decoro e da capacidade do seu controle, fugindo do imprevisto, do inusitado, do uivo de " não pisam mais os meus calos".

Certa vez a mulher loba uiventa uivou, uivou por todas as minas que se diziam manas, mas que  na primeira curva faziam de conta que não tinham percebido e assim eram  todas ouvidos, reverenciando, os machos alphas, que até davam aquele ar democrático nato no sentido lato democrático do litoral. Mais vale estar na mão dum macho alpha que não largar a mão da mana. E toda ela era MPB e saias brancas rodadas, desprezando as brancas como ela e namorando as café com leite novinhas porque até fica bem ao aparato da bandeira. Mas na Hora H, na Hora Do Vamos Ver A Irmandade Feminina, a mina sagrada  ficava receosa. Em algumas situações diante de machos alpha tentava mostrar que realmente as mulheres são umas histéricas e ela precisa de proteção. Uma mina receando uma mana que uiva que quer ser vista, escutada, respeitada e apoiada.

Hoje a mina mana loba selvagem entende e confirma que os recortes e consciência de classe, principalmente no Brasil, definem até um certo ponto o grau de sororidade entre as minas e as manas. Ser mulher sagrada que olha para dentro mas não olha ao redor ainda está a algumas léguas de ser mina mana.


A Piu
Bolhão Geral Zen 28/06/2020

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