quarta-feira, 24 de junho de 2020

A HONESTIDADE COMEÇA EM NÓS ENQUANTO PRÁTICA - série A NARCA, UMA COROA PORTUGUESA NU BREIZIULE

 " Quando estouraram as guerras de independência, havia algo em torno de 200 mil portugueses em Angola e 80 mil em Moçambique. A maioria levava uma vida confortável, enquanto os negros viviam nas periferias  deixando a “cidade do asfalto” quase toda para os brancos. Raros eram os que chegavam a estudar em escolas, que dirá subir na vida.   E embora a convivência fosse bem menos tensa do que no Apartheid da África do Sul, os castigos físicos eram comuns até pelo menos o começo da década de 1970. Com a revolução de 1974, os contrários à continuidade da colonização assumiram o poder no país. A partir daí, finalmente, os portugueses começaram a deixar a África. "*


Olhar para a dor é um ato de coragem. Olhar para a nossa e para a dor que eventualmente provocamos direta ou indiretamente. O maior ato de coragem é encarar a dor de frente e levantar o véu de silenciamento, do faz de conta que já passou e que não há nada a declarar. Encarar e acolher para num processo, muitas vezes moroso, entender, compreender que a ganância, a avidez, o querer ganhar vantagem sem olhar ao redor muito menos para dentro é um dos nove pecados mortais. Olhar para os pecados mortais, tomar consciência dos atos falhos e assim responsabilizarmos-nos enquanto humanidade, removendo assim o termo pecado que está grudado nas mais finas e subtis entranhas do nosso inconsciente coletivo formado numa lógica católica apostólica romana. Olhar para a dor no propósito de nos curarmos pelo Amor.

Não fingir que não é nada connosco,  onde uma narrativa e prática da mesma  foi-nos imposta durante séculos convencendo muitos de nós que uns devem subjugar os outros não tem fortes sequelas, consequências até ao dia de hoje, vinte de quatro de Junho de dois mil e vinte. Olhar para uma dor monumental, além de darmos esse passo de sentir por todes os que foram e são vitimas até hoje é curativo, é também comprometermos-nos efetivamente a fazer diferente, a não reproduzir a ignorância dos que se orgulham de conquistas vãs, baseadas no mercantilismo, no neo liberalismo, na intolerância de outras culturas, organizações sociais e religiosas. Não achar normal que a lógica imperialista é inevitável, logo explorar os nossos irmãos que são os outros seres vivos é igualmente inevitável.

Em dois mil e vinte faz quarenta e cinco anos que os países africanos de expressão oficial lusófona, embora outras línguas se falem, obtiveram a independência de Portugal.  Hoje Portugal, virou um parque temático de narrativa duvidosa com os seus enaltecimentos saudosistas quinhentistas , instância turística de produtos artesanais e regionais com o rótulo gourmet. Virou também um condomínio para alguns brasileiros brancos que " se sentem muito mais seguros" e assim poderem desfrutar dos seus privilégios e eventuais aposentadorias vindas do Brasil.

É tempo de colocarmos a mão na consciência, consciência essa que vem da batida, da pulsação do coração. Desgrudarmos-nos do cinismo e da hipocrisia duma ideia que temos acerca de nós e do " outro", que também somos nós. Se informarmos-nos é muito importante, observar e auto vigiarmos-nos é ainda mais. Mulheres, homens, e outros géneros assumidos resgatam o seu sagrado que é a alegria de estar vive na plenitude não é só olhar para dentro e conectar-se com imagens divinas e energias transcendentais, que também é importante para os que encontram sentido nisso,acendendo paus de incenso e lavando somente a sua casa com sal grosso. É  também olhar com os olhos de sentir o que está ao nosso redor, quem está ao nosso redor sem rotular num estado de : em que posso ajudar, contribuir para uma vida mais justa para todes sem frases de efeito e sim com práticas onde a honestidade de falharmos e podermos superar essas mancadas seja efetiva. Curarmos-nos pelo Amor é não silenciar e criminalizar o outro porque nos é conveniente numa lógica pequeno burguesa, nova rica.

Que o mar das nossas emoções e de conhecer o que está do outro lado de lá do lá seja um eterno abraço amigo e auspicioso, sem disputas vãs e subjugações.

A Piu
Campinas SP Brasil 24/06/2020


* Leia mais em: https://super.abril.com.br/historia/como-portugal-moldou-a-historia-do-continente-africano/


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