sexta-feira, 16 de agosto de 2019

HONRANDO OS HOMENS

Quando criamos algo autoral de raíz, seja a solo seja em coletivo é algo que vem lá de dentro. Para algumas pessoas será mais visceral do que para outras, mas é sempre algo que necessitamos expressar, seja qual for a expressão que utilizemos. Artística, literária.

Como já foi dito e apresentado em textos anteriores da página do espetáculo de palhaçaria feminina  sobre violência contra a mulher " AR DULCE AR" este trabalho surgiu da necessidade de duas mulheres palhaças trazerem para cena, dentro da linguagem da palhaçaria, as suas experiências enquanto mães numa relação abusiva. Mesmo que essa relação tenha acontecido há consideráveis anos e no meu caso que me toca durou ali uns dois anos de Trash metal sinfónico com um Raul Seixas e um Bob Dylan bem distorcido, tivemos a necessidade de trazer para cena um assunto que atravessa muitas pessoas. Por vezes mais do que pensamos e achamos. E para trazer esse assunto para cena, precisávamos pelo menos de ter alguma distância do sujeito que em algum momento achou ou acha que pode assombrar a vida da mãe dos seus filhos. Por isso, de alguma forma, essa dor  precisa de estar sarada para seguirmos em frente com a coragem de olhar esse dissabor, esse grande mal entendido acerca do que é companheirismo e relação intima a dois onde envolvem filhos e rirmos dos nosso próprios medos, ansiedades, vulnerabilidades e um profundo amor pelos nossos filhos para os proteger de alguém que está com a mente confusa.

No domingo passado no Brasil foi dia dos pais. Na minha terra natal, Portugal, é no dia 19 de Março dois dias antes do aniversário do meu pai, que é aquele rapazinho que se encontra na foto que deve andar pelos seus 8, 10 anos nos idos anos 50. Tem mesmo cara de rapazinho dos anos 50. Essa é outra, as pessoas duma época parecem-se muito umas com outras.  Curioso fenómeno. Ao lado está um tio, que é é um doce de pessoa, e o seu irmão Alfredo, o pai do meu pai. O meu avô já falecido. O avô Cunha que era o avô divertido que nunca se esquecia de trazer um brinquedinho ou um chocolatito das feiras por onde passava quando viajava em trabalho para Espanha. Uma vez trouxe uns binóculos vermelhos todos de plástico mas que davam para ver ao longe. Não havia cá essa onda de brinquedos de menina e de menino! Mas ele também trazia bonecas. Lá isso trazia. E eu adorava. A memória mais viva que tenho da cumplicidade com ele foi num dos meus aniversários, o dos cinco anos, onde ri para caramba com uma sessão de cócegas. Adorava também o seu humor bonacheirão, que não era para rebaixar os outros e sim a brincadeira pela brincadeira. Por viver perto dumas ruínas romanas e a 5 km de distância do mar, certa vez pregou esta a um casal brasileiro de amigos dos meus tios: existe uma passagem subterrânea da época dos romanos que vai da minha casa até ao mar. Primeiro nós rimos-nos por dentro, aquele gozo de tornar uma ficção convincente até a minha avó, que não tinha o humor tão apurado e por achar que não era honesto enganar as pessoas desmachou o prazer do momento. Mas mesmo assim toda a gente se riu até do facto dela estragar a brincadeira.

O meu avó de vez em quando também era chatinho para a minha avó, quando este bebia. Apareciam os monstrinhos do medo e da desconfiança fazendo ceninhas de ciúme fruto da sua confusão mental. Porém, quando honramos as nossas ancestrais também devemos honrar os nossos ancestrais que um dia também foram crianças e que no caso deste avô, como muitos avôs de muita gente, não era lá muito bem tratado pelo seu pai. Digamos que era uma educação wale poff! Na base da rudeza física e isso, em algum momento, reverbera no comportamento da pessoa mais tarde, consciente ou inconscientemente. Mas da minha parte consigo enxergar a criança interior do meu avô, das suas brincadeiras, humor, generosidade e  honrá-lo. Honrar os nossos pais e nossos avós é honrar a nossa vida, mesmo que algumas vezes a sua mente fosse confusa por ter recebido um amor distorcido. E NÓS? Estamos cá, aproveitando a tal da Nova Era para reaprender a nos auto cuidar e anos amarmos sem distorções.

Já a cahorrada que se encontra ali, não tive a honra de conhecer mas são iguaizinhos aos cachorros da atualidade.

A Piu
Br, 16/08/2019

Ah não se esqueça de curtir, se curte, a página no facebook " Ar Dulce Ar"- espetáculo de palhaçaria feminina sobre erradicação da violência contra a mulher com Geni Viegas e Ana Piu com direção de Leonardo Tonon e assessoria artística de Adelvane Neia. https://www.facebook.com/AR-DULCE-AR-162965127817209
Iniciamos a campanha de Crowdfunding para a terceira fase do trabalho. Com as palhaças Maffalda dos Reis (Geni Viegas) e Beltrana de Tall (Ana Ana Piu).
Ar Dulce Ar, O Prelúdio tem como objetivo fazer uma curta temporada num espaço alternativo, para desenvolvermos a linguagem da palhaçaria junto ao público. Todo o processo de criação, roteiro e direção já foram finalizados e nessa última etapa buscamos apoio para continuarmos o desenvolvimento do espetáculo. Entre no site " Catarse" e nos apoie.  <3https://www.catarse.me/ar_dulce_ar_preludio_ce42...


Sem comentários:

Enviar um comentário