sábado, 10 de agosto de 2019

O RISCO DE UMA NOBRE CAUSA VIRAR UM FACHISMO

Quando descobrimos algo que nos faz bem e faz sentido e  que acreditamos que faz bem para todos , logo é uma nobre causa promissora da cessão de sofrimento, muitas vezes corremos o risco do apego a ideias feitas que podem perpetuar esse mesmo sofrimento que tanto queremos erradicar.
O vegetarianismo, o veganismo por exemplo. Para aqueles e aquelas que não sabem qual a diferença aqui vai: o primeiro trata-se da pessoa não comer carne mas come lacticínios e ovos. No segundo a pessoa não come absolutamente nada de origem animal.

Um dos grandes motivos do movimento vegano, senão o principal, é cessar com a exploração animal e o sofrimento causado a esses seres. Ok. Compreensível numa sociedade que se industrializou em ralas décadas e que o foco é o lucro duma produção massificada, em que galinhas, porcos, vacas, bois, campos de soja, monoculturas são um pacote duma produção cega, desrespeitosa com os ciclos naturais da vida e as vidas de seres vivos.
Porém, colocam-se vários poréns. O primeiro, aquele que me pega mais, é a forma como alguns seres humanos defendem essa nobre causa duma forma pouco amistosa e culpabilizante quem ainda não encontrou esse caminho elevado para saciar das suas necessidades mais básicas: a fome. Antes de defendermos seja o que for precisamos de estar cientes de que lugar falamos e exercitar um olhar mais global que contextualize diferentes realidades. A realidade de quem nem pode escolher o que vai comer. A realidade de quem nem tem o que comer e come o que lhe aparecer à frente. A realidade que cada um está na sua caminhada de auto entendimento e por aí vai.

Aqui há uns tempos uma página vegana postava uma imagem dum desenho de Buda com uma frase mais ou menos assim:  " Se você medita tanto e continua comendo carne, você está compactuando com os assassinos." Bom, quem inventou essa frase só prova que não medita ou não medita o suficiente pois quem olha para dentro com frequência vai olhar para as suas sombras, para aquilo que deve ser trabalhado dentro de si mesmo e vai deixar de julgar os outros, porque quem olha para dentro de si mesmo identifica no outro o que está dentro de si. Quem  silencia os pensamentos e ideias feitas galopantes vai exercitar um olhar compassivo e respeitar o tempo de entendimento de cada um. Porque nós cuidarmos do nosso equilíbrio emocional e consciência expandida já é uma demanda, uma grande trabalheira para perdermos tempo em defendermos agressivamente algo que achamos tão pacifista. Assim sendo, mais vale mil receitas gostosas, económicas, saudáveis veganas compartilhadas do que mostrar abates de animais a crianças pequenas. Além de traumatizante é uma lavagem cerebral. E tanto fundamentalismo pode afastar quema té queria se aproximar dessa escolha. Mas que ver o pintinhos a entrarem numa trituradora para virarem nuggets é impactante... Lá isso é! Mas bora lá com mais calma com os moralismos, fruto duma ideia de pecado. Porque é igualmente impactante alguém ser recebido como visita e a pessoa dar o seu melhor dentro das suas possibilidades e da sua realidade. Uma galinha que acabou de matar do seu galinheiro, porque é o que tem e o que pode oferecer de coração. É impactante a pessoa que não escolheu esse caminho ser tratada com desprezo por quem acha que encontrou o caminho da salvação.

Acolhermos as diferentes realidades e as múltiplas escolhas, quem as pode ter, e os diferentes níveis de consciência é TRANSFORMADOR! REVOLUCIONÁRIO! Caso contrário o veganismo é um achismo. Ao limite um fachismo.

A PIU
Bolhão Geralzen 10/08/2019




Sem comentários:

Enviar um comentário