" Eles não usam black- tie " é um filme brasileiro de 1981 com direção de Leon Hirzman, autoria e roteiro de Gianfrancesco Guarnieri, elencado com grandes figuras da atuação: o próprio Gianfrancesco, Fernanda Montenegro, Bete Mendes, Carlos Alberto Riccelli, Milton Gonçalves, entre outros.
" Otávio ( Gianfrancesco) é um militante sindical que organiza um movimento grevista para resistir às práticas exploradoras de uma metalúrgica, onde o seu filho Tião ( Carlos Alberto Riccielli ) trabalha. Mas com a namorada grávida ( Bete Mendes), Tião resiste à greve para não perder o emprego. "
Há uns dias atrás entrei numa sala de cinema para assistir ao filme duma amiga e passou este. Como é bom assistir a um filme em tela grande sem mastiganço de pipoca!
Ora bem, sendo que estamos em 2019... 51 anos se passaram... O que aconteceu em Maio de 1968 que reverberou em muitos lugares do mundo, principalmente na sociedade dita ocidental? O que estava acontecendo nesse ano no Brasil? Este ano faz TRINTA ANOS QUE O MURO DE BERLIM CAIU!!!! Em 1989 o bloco leste caiu e de algum modo se não na totalidade rendeu-se ao capitalismo, que tem-se vindo o tornar cada vez mais selvagem, onde o trabalhador não passa dum pecinha descartável da engrenagem quando a sua produção não serve mais. Ou seja, os vínculos empregaticíos são frágeis e muitas vezes nulos. Não quer isto dizer que os regimes comunistas totalitários não fossem e não são selvagens. Não confundamos selva com floresta. Selvagem no sentido de " salve-se quem puder diante do autoritarismo!".
Se até um certo ponto este filme faz parte duma época, o mesmo ainda é bastante atual. À luz de quatro, cinco, seis décadas, ou até mais desde que os movimentos sindicalistas existem muitos interesses rolam onde nem sempre se favorece o trabalhador que está lá a dar o couro, a suar por tuta e meia. As cobardias, as traições fruto das mesmas cobardias, o medo de ficar sem nada que leva a furar a uma greve e a incentivar com convicção que outros o façam é o pão nosso de cada dia. A UNIÃO NÃO É EVIDENTE!
Nesta imagem vê-se o Tião peitando o pai e os restantes lideres sindicais à porta da metalúrgica. Há um diálogo incrível, entre pai e filho, logo depois desta cena em que o Tião é renegado pela família e pela namorada grávida por ter furado a greve e incentivado outros a fazê-lo. Tião alega que tomou aquela posição não por covardia, ao que Otávio, o pai, responde que ele não é um traidor por covardia e sim por convicção.
Da minha parte, mesmo assim, prefiro alguém que se posicione por convicção mesmo que o nosso posicionamento seja oposto. A cobardia é um osso duro de roer, porque aquele que não se assume, come pelas beiradas, faz-se eventualmente de amiguinho. Esconde-se e age egoisticamente. Não é o caso do Tião, embora ele só tenha pensado em si mesmo, na namorada que o renega diante de tal postura e no filho que ainda está por nascer.
Na minha trajectória de artista profissional vi e vejo muitas vezes isso acontecer entre colegas, desde o tempo da escola de teatro onde na retórica todos , alunos e professores, levantavam o punho mas na hora da verdade, para defender uma situação que beneficiaria a todos duma forma mais justa e igualitária ou para defender o despedimento duma companheira ou companheiro.... Cada um ia à sua vida beber um café e continuar as suas revoluções de café, numa conjectura neo liberal que tanto se critica mas se compactua com tantos cafés. Neste exacto momento falo de Portugal nos idos anos 90 e também 2000.
Hoje, mais que nunca, a frase do Gandhi : " Sê a mudança que queres ver no mundo " é efectiva. E essa mudança tem a ver com cultivarmos dentro de nós firmeza, mente livre, consciência da nossa co emergência, limpar diariamente sentimentos e pensamentos tóxicos que nos levam a acções confusas e pouco ou nada empáticas.
Começar por sabermos quem somos, de onde viemos e qual o nosso propósito de estar aqui não só para o nosso bem estar pessoal, mas também colectivo onde a presença do outro, o trabalho e serviço que o mesmo presta é valioso já é um grande passo para erradicar com relações de poder assentes numa lógica ao limite escravocrata.
A Piu
Br, 26/08/2019
Sem comentários:
Enviar um comentário