segunda-feira, 5 de agosto de 2019

O DIREITO E O DEVER DE AMAR- o olhar como uma medicina

 " Não dá para lutar com o que não se pode dar nome. Como no Brasil todos os documentos relacionados à escravidão foram queimados, não temos como saber de onde viemos, se da Nigéria se da Guiné- Bissau. E quando não se sabe de onde vem, é mais fácil ir para onde a máscara diz que é o seu lugar. Conhecer minha história, a história dos meus antepassados, me possibilitou romper com a história única e identificar tudo aquilo que é negativo que havia sendo dito sobre pessoas como eu.
Ler O olho mais azul, de Toni Morrison, escritora estadunisense e prêmio Nobel da literatura, foi outra pequena revolução.
" O amor nunca é melhor do que o amante. Quem é mau, ama com maldade, o violento ama com violência, o fraco ama com fraqueza, gente estúpida ama com estupidez e o amor dum homem livre nunca é seguro", ela diz. Foi graças a Morisson que adoecida pelo racismo, eu precisava encontrar formas para não amar de forma adoecida também. O amor, por mais que me tivesse sido negado por várias formas, era um direito. E que viria a partir do momento em que eu tivesse a coragem de de olhar para dentro de mim com sinceridade para retirar o mal que fora colocado ali com tanto silenciamento. "
RIBEIRO, Djamila, " Quem tem medo do feminismo negro? ", Companhia das Letras. SP: 2018.
" As pessoas não são más só estão perdidas. Vamos resgatar!" canta o Criolo na sua música Ainda há tempo. Assim sendo, o ser humano não é linear. A pessoa não nasce generosa ela aprende a ser generosa. A pessoa não nasce estúpida. Ela torna-se um ser de comportamentos duvidosos para o seu crescimento pessoa para que possa trazer benefícios para todos. Mesmo quando somos estúpidos não é porque somos definitivamente estúpidos. A estupidez é uma doença, tanto espiritual, como social e cultural. O racismo, o machismo e todos os ismos que segregam e mal tratam são doenças que podem contaminar se não tivermos essa coragem de olhar para dentro. Ninguém pode fazer por nós. Alguém pode fazer uma necessidade fisiológica por nós? Podem-nos ajudar, quando precisamos, mas ninguém pode fazer algo que somente a nós nos compete. Silenciar a mente, escutar o coração é algo que só a nós nos diz respeito. E esse é o grande passo para sabermos-nos amar de forma saudável, como escreve a Djamila. E assim as máscaras caem, os obstáculos dissolvem-se.
Porque ao longo da história queimaram-se documentos, provas de algo que causou sofrimento? Porque no fundo no fundo os algozes, que não são só algozes e um dia foram crianças inocentes, sabem que precisam de apagar uma verdade para perpetuar uma mentira em prole do ego distorcido. Um povo que oprime outro povo é porque oprime o seu próprio povo. Como portuguesa, residindo no Brasil, também é isso que tenho para compartilhar hoje no dia 5 de Agosto de 2019 quando alguém diz: " Vocês portugueses vieram colonizar e escravizar." É VERDADE! É A MAIS PURA DAS VERDADES. Porém, o que a História não conta das mulheres e dos homens que foram oprimidos nesse processo histórico? Porque a História do Brasil não conta todas as opressões, genocídios, desmatamento EM TODOS OS GOVERNOS SEM EXCEPÇÃO? Esse colonialismo e escravidão aos interesses de uns poucos ainda está em vigor no Brasil e numa grande parte do mundo. Então, talvez seja urgente olhar para a população da periferia, para os quilombolas, para população indígena que bate de frente com os interesses dos Estados ao invés de levantarmos bandeirinhas porque temos que responder de imediato se gostamos mais do pai ou da mãe quando estes nos abandonaram em prole do seus complexos interesses. Falo da esquerda (?!) e da direita.
O ego são os pensamentos que produzimos. O ego não é um monstro de hálito fedido. Pode ser se não cuidamos dele e não lhe colocamos limites, mas o ego são os pensamentos que nós cultivamos dentro de nós. E se semearmos pensamentos que nos conduzam às verdadeiras causas da nossa felicidade para que assim possamos superar as verdadeiras causas do nosso sofrimento saberemos Amar com brilho nos olhos, olhar o olho no olho e assumir que somos seres viventes resilientes.
Quando alguém age por falta de lucidez e invade o espaço do outro de forma subtil, abrupta ou envolta numa identidade falsa esse alguém tenta convencer os outros que o alvo atingido está louco, não está no seu perfeito juízo. Tenta despistar o que está à vista, distorcendo factos, aniquilando-os, criando intriga e histórias únicas que perpetuam preconceitos. Mas a vida com os seus múltiplos rasgos de luz vem iluminar o que sempre lá esteve: os múltiplos caminhos para percorrermos com mais paz e amorosidade.
Ontem escutei de alguém que esteve entre Xamãs Lakota alegando que estes profetizam que está chegando a hora do feminino levantar-se com o seu sagrado feminino, reverenciando a Pachamama, mãe terra, para resgatar os seres vivos desse caos que está instalado. Talvez para muitos que poderão ler isto não faça sentido algum, principalmente aqueles que estão envoltos num realidade industrializada onde o sagrado foi confundido com alguma religião que aliena porque serve apenas como um mecanismo de controle como outro qualquer. O jornalismo sensacionalista e parcial é um desses mecanismo de controle, mas convence as pessoas que as mesmas estão informadissimas.
Mas ainda há tempo. Cada um e cada uma terá de fazer a sua parte em grandes e pequenos gestos no seu quotidiano. Nem que seja olhar nos olhos de alguém que desrespeitamos e dizer por palavras ou através do silêncio que igualmente expressa bastante: " Sinto muito as incompreensões entre nós criadas. Eu escondi-me atrás dum identidade falsa para te ferir/ Não fui que me escondi atrás dessa identidade falsa para te ferir. / Fui eu quem hackareou a tua conta e fiz-me passar por ti para te boicotar e ferir, porque eu sinto-me intimidado com a tua exuberância. Eu também gostaria de ser assim, mas eu agora libero-te para amares quem tu quiseres e seres amada por quem tu quiseres/. Não fui eu quem hackareou a tua conta. E torço por ti, como agora sei que tu torces por mim embora eu saiba que respeitar é uma forma de amar sem possessão. Agora eu sei que Amar é querer bem a todos os seres sem oprimir nem possuir e ficar feliz quando alguém se ama mutuamente sem me intrometer negativamente." Olhar nos olhos com olhar corajoso e descansado é uma medicina. E assim o Amor, a Paz brilham sob a luz do sol, da lua e das estrelas.
A Piu
Brasil, 05/08/2019
Imagem: Aline Miguel
" Chita e negro foram estigmatizados. Chita e negro foram (e ainda são) alvos de preconceito. Chita e negro sobreviveram à exclusão e ganharam mais espaço no âmbito social. A chita foi parar nos principais desfiles de moda e os negros obtiveram uma maior representatividade nos espaços institucionais. Suas histórias foram um entrelace de luta, garra e conquista, e é a força deste enlace que busco transmitir em minhas obras." inhttps://followthecolours.com.br/…/artista-carioca-aline-mi…/

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