sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Tia Habiba dizia que qualquer um pode criar asas. Era só uma questão de concentração. As asas não precisavam ser visíveis como as dos pássaros; asas invisíveis eram tão boas como as outras, e, quanto mais cedo a gente se concentrava em voar, melhor. Mas quando lhe implorei que fosse mais explicita, ficou impaciente e me disse só que certas coisas prodigiosas não podiam ser ensinadas. " O que é preciso é você ficar alerta para o chiar da seda do sonho alado, a fim de não deixar que escape", disse-me. E deu-me a dica, ainda, de que havia dois pré-requisitos para criar asas: " O primeiro é sentir-se rodeado por um círculo e o segundo é acreditar que você pode romper o círculo. " (...)
" Uma terceira condição, pelo menos no que lhe diz respeito, minha querida, é que você pare de bombardear as pessoas com perguntas. Observar é também uma boa maneira de aprender. Escutar calada, com os olhos abertos e os ouvidos vibrantes pode trazer magia para a sua vida do que todo o tempo que você passa naquele terraço bisbilhotando de olhos postos em Vênus ou na lua nova." (...)
Também me sentia orgulhosa por compreender que a magia, como o sorvete, tinha muitos sabores entre mim e as estrelas; outro, mais esquivo, em apurar o foco mental em sonhos fortes e invisíveis, para estender as asas do meu íntimo para fora.
Mernissi, Fatima " Sonhos de transgressão, minha vida de menina num harém". Companhia das Letras. SP: 1996
foto: Goa Style

Foto de Ana Piu.

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