segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

SER ESTRANGEIRO EM CASA, SER DA CASA NO ESTRANGEIRO

saber o que não se sabe ao certo e isto tudo às 14.50 do horário de Brasília do ano de dois mil e dezassete: "Sentes-te mais portuguesa ou mais brasileira ao fim destes cinco anos?" Daí eu responderia: "Mais espanhola!" ihihih Porque não? Entre todos da velha Europa é com quem me identifico mais! Não há problemas nenhuns de assumir a minha portugalidade. Embora ande aqui na limpeza do disco rígido lusitano, onde o pessimismo, a resmunguisse, aquela energia meio impaciente com a vida é algo que é urgente lançar para longe. Mas nunca é demais lembrar as impressões duma amiga húngara que vivendo na Espanha considerava que as amizades que se criavam com os portugueses e as portuguesas eram mais profundas. Pode ser. Tem a sua lógica. Menos festeiros, mais recatados mas quando é é. Sinto-me igualmente argentina ou brasileira e tenho uma grande afinidade com cidadãos do México, do Equador,da Colômbia, Peru e Chile. São os que conheço da América Latina. Mais do que alemã ou francesa que está mais perto da casa natal e cujo passaporte tem a mesma cor e as mesmas letras.
Fiquei a pensar no que escrevi acerca dos brancos, descendentes de portugueses, a viver nos países africanos lusófonos atualmente. Escrevi que eles são portugueses. Será? Eles sentem-se assim, principalmente os nascidos depois de 1975, alguns sem nunca terem ido a Portugal? Talvez sim, talvez não. Uma questão de perguntar. Porém não esquecer nunca de onde viemos e não renegarmos as nossas origens e o nosso povo é um modo de nos apaziguarmos e nos responsabilizarmos com a nossa História, com as nossas raízes. As minhas, aquelas que os meus avós me mostraram, são rurais. São daqueles que nasciam e cresciam para servir alguém, "os senhores latifundiários" por exemplo, e que um dia resolveram ir para os arrabaldes da capital à procura de vida melhor para si e para as suas crias. Esquecer que os meus avós e bisavós vieram dum país provinciano, moralista, que olha para o horizonte sonhador como se se encontrasse encurralado diante do mar seria esquecer de me lembrar de onde venho e para onde vou. Os lugares fazem as pessoas, as pessoas fazem os lugares. Somos do lugar onde nos sentimos bem, onde nos identificamos. Aí está a nossa identidade.
Ana Piu
Brasil, 16.01.2017
" A verdade é que nós somos sempre não uma mas várias pessoas e deveria ser norma que a nossa assinatura acabasse sempre por não conferir. Todos nós convivemos com diversos eus, diversas pessoas reclamando a nossa identidade. O segredo é permitir que as escolhas que a vida nos impõe não nos obriguem a matar a nossa diversidade interior. O melhor nesta vida é poder escolher, mas o mais triste é ter mesmo que escolher." ( MIA COUTO, O planeta das peúgas rotas)

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E se nesta idade, 3 anos, tivesse ido e ficado a viver na Islândia? Falava islandês e quem sabe seria amiga da Bjork e conheceria o pai natal, o papai noel, enquanto passeava o pinguim no jardim. Ana Piu



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