Ana é uma palavra capicua. Tanto se lê da direita para a
esquerda, como da esquerda para a direita. De cima para baixo e vice versa e
troca o passo. Onde eu nasci, lá naquele jardinzinho à beira mar plantado e
pranteado, Ana escreve-se só com um “n”. Já na vizinha Espanha pode-se escrever
com dois. Já mais acima, em chegando aos Pirineus até à ilha neerlandesa Ana ou
Anna pode passar a ser Anne. Um pouco mais para o lado e acima também pode ser
Hannah. Em suma, nas línguas latinas: Ana, Anna, Anne. Nas germânicas: Ann, Anna,
Antje, Hannah. Nas célticas: Ainé, Anna. Nas Balto-Eslavas: Anna, Ona, Onité,
Hanna. Em finlandês: Anna, Anja, Annikki, Anne, Anuuka. Em hebraico: Chanah,
Hanah. Vimos então que elas andam aí! Aliás, como as Marias. Não fosse a Maria
filha de Ana. Refiro-me à bíblica, porque a minha só é Maria Flor porque no
cartório não me foi permitido colocar somente Flor. Mas Maria Flor também é um
nome muito bonito. Pelo andar aqui do texto concluo que todos e todas nós somos
flores que devemos ser cuidadas independentemente da configuração do nosso
nome, origem e credos. Algumas são carnívoras e outras não suportam um lindo
ramo de flores silvestres. Eu não consigo imaginar o Trump como uma singela flor.
Mas vai que na sua essência é um cravo vermelho e ainda não descobriu! Nunca é
tarde! ;) Uma questão de oportunidade existencial.
Tenho evitado dar demasiada importância aos desabafos
virtuais acerca do Trump. Esses desabafos são aquém e além mar. É importante
estarmos informados e posicionarmo-nos em relação ao andamento global, mas para
salvaguardar a minha espiritualidade tenho me focado ainda mais nas relações inter
pessoais. Porque esses, no final das contas de toda esta maluqueira, é que
contam. De que vale eu me insurgir verborraicamente contra o Trump e o Temer e
outros amiguinhos sinistros se eu, no meio dia a dia, não sou gentil solidária,
honesta com os demais? Isso é muito sério. Com a devida leveza que devemos
trazer no coração, mas é muito sério. De que vale rezarmos, orarmos, meditarmos
se só pensamos no nosso bem estar individual?
Ontem houve um atentado numa mesquita no Quebec, no Canadá.
Tirando um amigo que é de lá, mas que vive no Brasil, não tomei conhecimento
por mais ninguém acerca do atentado. Mas há dois anos atrás, na mesma época,
toda a gente falava do “Je suis Charlie” em Paris. Agora pergunto: a vida dum islâmico é menos importante que a dum francês laico? Poderia ainda perguntar acerca
das vitimas da guerra da Síria, mais da forma como os refugiados são tratados à
chegada à Europa. Também poderia levantar
uma série de questões acerca da importância da vida de uns sobre outros, “somente”
por motivos económicos e religiosos. A questão da religiosidade e seus
conflitos não é meramente medieval, é muito antes disso. É um atrofio milenar
para perpetuar cegueiras espirituais que não passam de disputas de egos,
interesses de poder abusivo. A espiritualidade, quando canalizada para nos
conectarmos com nós mesmos e com o Todo, isto é com o Cosmos ( conceito tantas
vezes banalizado. Logo destituído de sentido profundo) é libertadora. Como diz
o outro: A Espiritualidade serve para nos unir. As religiões para nos separar.
A Piu
Brasil, 31.01.2017
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