terça-feira, 17 de janeiro de 2017

MAMA MIA! MAMA BIA! CA ANA JÁ PIA! CA PIU JÁ MIA!


Há exatamente 70 anos nascia a minha mãe. Uma capricorniana como manda o figurino. Nascida a 17 de Janeiro de 1947, a Maria Rosária, mais conhecida por Bia encarava a luz do dia no conselho de Odemira, distrito de Beja, no lugarejo de Colos. Alentejo. Sim, Colos onde se encontra hoje uma eco vila permacultural empresarial. O projeto Tamera. Sem lhe retirar o seu devido valor, mas a permacultura no caso é só para quem tem pasta, garganhol, grana, cacau. Também fica a pergunta se esse pessoal, cujo projeto é ótimo apesar desse viés excludente, mistura-se efetivamente com as pessoas da terra. Não sei, nunca conheci nenhum. Mas gostaria de conhecer e tenho a curiosidade de saber se falam português ou falam apenas inglês, alemão, holandês e desdenham das pessoas que, duma forma ou outra, os receberam na sua terra natal. Oxalá que não seja assim. Sim, não seria a primeira nem a última vez que isso aconteceria. Oxalá que no caso não seja assim, repito.
Voltando à minha mãe que pouco tempo viveu no Alentejo, vindo para a grande Lisboa em 1949 com os seus pais. Um deles também capricorniano, o pai, e uma escorpiana, a mãe. É raça! Ihihih Bom, enfim. Em chegando à Abóboda, a uns 5 km da praia, foram recebidos como devem ser recebidos os nordestinos na grande São Paulo. Com aquele desdém e aquele anedotário que a pessoa precisa de muita presença de espíirito. Resultado, a minha mãe era uma russa (loura de olhos verdes) de má pelo. Não dava muitas confianças. Estudou, inédito para a maioria das meninas da sua época naquele lugar, e seguiu a sua vida até 1985. A tal da glândula tireoide achou que devia fazer greve. Há quem diga, os especialistas, que esta maleita que se instala na garganta é porque as palavras e os sentimentos não escoam de forma harmoniosa. Como se fossem nódulos emocionais, frustrações mal resolvidas. Então, fica já aqui uma dica: nunca guardarmos nada para nós que nos intoxique. Não fazer dos outros, obviamente o nosso cesto do lixo, mas ter a coragem de não deixar nada entalado no garganiço, na pescoceira, na garganta por onde a água e os alimentos passam. Algumas histórias, que conheço, da minha mãe são de resistência. Uma delas é a de não se dobrar à professora fascista da escola primária.
Muitos de nós nem temos muita ideia do que é viver num período fascista. Outros nem saberão o que é passar privações. Então vem defender duma forma leviana o regresso de medidas de extrema direita. Outros que se envergonham de assumir essas defesas, acham que quem acredita que ter direitos e deveres trabalhistas é subversivo. Dou-me a pensar acerca disso tudo e do que os outros que leem estas minhas palavras, sem pretensões panfletárias, pensarão. E como o passado já passou, e o futuro ainda não chegou e é incerto, mas o presente é garantido digo e escrevo publicamente que quem acha que é super bacana explorar, denegrir o trabalho de outrem, desvalorizar o ser humano enquanto ser afetivo, emocional com as suas capacidades de trabalho e contributo para uma sociedade emocionalmente mais sustentável também não estou interessada em trabalhar e ao limite em me relacionar. Relacionarmos-nos com quem não valoriza, quem subjuga pelo simples prazer do jogo de poder, faz mal à saúde. E a vida é tão boa de se viver na sua plenitude com pessoas que se respeitam nas suas vulnerabilidades e aprendizagens de se ser mais generoso, menos egoísta. Estamos em constante aprendizagem, mas o que distingue uns de outros é que uns quererem ser melhores seres viventes, mais criativos, mais sonhador e outros só pensam no seu umbigo e bem-estar material com o respectivo status do corócóco. Talvez fosse isso, entre outras coisas, que a minha mãe quisesse dizer e fazer e por algum motivo ficou entalado no garganiço. Não, que fosse menina de ficar calada, mas vai que não se exprimisse o suficiente para o patrão, para o colega, para quem ao seu lado estivesse. Sei lá. Nada é linear. Antes de tudo resolvermos-nos dentro de nós, ao invés de apontar nos outros. Então, mas estou eu aqui para dizê-lo publicamente com a verdadeira esperança e crença que existem pessoas formidáveis neste mundo para estar, sonhar e trabalhar junto. É com essas que desejo, quero e faço por tudo para estar junto. Eu conheço algumas e sinto-me grata por isso.
À minha mãe Bia, a ruça de má pelo, doce e arisca. Quem sai aos seus não é de Genebra, alguns até são. Ihihih
Ana Piu
Br. 17.01.2017

Foto de Ana Piu.
Eu sou o pirata da perna de pau. 
Um olho de vidro e cara de mau. 
Eu sou a pirata com a cara má. 
Tanto digo:"E aí?! " como digo "Oh pá!". 
Eu tenho um sapato do meu pai. 
Se me pisam!... Digo: Ai!Ai!
Tenho um chinelo da minha mãe.
Sei dar abraços e sorrir também.
Não sei fazer croché e custa-me balir: Méééé.
Às vezes passa-me umas nuvens pela crambalheira e parto toda a cristaleira.
A minha fatiota é branca
para condizer com o feitio que manca
Tenho este ar de rufia, mas o que gosto mesmo é de alegria.

piu

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