quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

O PASSADO FOI LÁ ATRÁS!



Dois mil e dezassete está aí. Já leva uns doze dias que ele anda aí, Entretanto o Bochechas partiu. Querido por uns, tolerado por outros, ostracizado por terceiros. Mário Soares.  Ex presidente, ex primeiro ministro e todos os cargos que a sua carreira politica proporcionou, despediu-se com a sua já avançada idade. Podemos todos nós ter as nossas ressalvas em relação ao senhor (eu tenho, principalmente ao caso do tráfico diamantes em Angola) mas ele foi anti fascista antes de 1974 e por consequência disso teve de se exilar. Ele lutou pela democracia. Se esta é efectiva ou não já é outra conversa. Mas mesmo que manca não é o mesmo que um regime fascista que persegue, tortura e dá sumiço. Embora muitas histórias estão por contar em relação a quem se opôs à entrada de Portugal na União Europeia. De que forma estes sujeitos sociais foram igualmente perseguidos em plena democracia lá nos afinais dos anos 70, e durante todos os anos 80. Enfim... Os envolvidos ainda vivos poderão melhor contar a sua história.

Nessa época eu andava na escola. Por ironia, ou não, eu estava numa escola criada pelos ditos "retornados de Moçambique". Uma grande parte daqueles que regressaram eram anti independência dos países africanos. Salvo raras excepções, muitos lamentavam que tinham perdido tudo. Que tinham tudo e tinham ficado sem nada e se não tivessem zarpado teriam sidos mortos. Sim, é uma realidade dura em tempos de guerra. Mas quando a barbárie se instala também temos e devemos pensar cada detalhe dessa trajetória, qual a nossa responsabilidade social e humana que nos levou até esse lugar, enquanto povo. Claro que muita gente que vivia honestamente do seu trabalho teve de fugir. Mas guardo até hoje a memória duma amiguinha de escola que entre os seus 7 e 11 anos, foi o tempo que estivemos juntas, dizia que sentia saudades de Moçambique. Lá ela tinha muitos criados.... Como nunca tivemos criados em casa eu imaginava alguém a limpar o pó do meu quarto e arrumar direitinho as Tuchas em vez de mim. Ah e limpar a loiça, assim como aspirar que eram tarefa, escalonadas entre mim e o meu irmão, que não dava para fugir... Não conseguia era imaginar alguém a abanar um leque horas a fim no meu regaço. Já nessa idade considerava a imagem entediante e deprimente.

Nessa escola fizeram luto ao social democrata Sá Carneiro em 1980. Era, vamos dizer, um direita cabeça aberta não tivesse  ele como companheira a dinamarquesa Snu, uma mulher empreendedora e letrada, para escândalo das cabeças provincianas e moralistas do paísinho à beira mar plantado com pretensões caducadas de governar para além da península e ilhas da Madeira e Açores.

O que é facto, é que ainda existem umas almas lamuriosas, POR INCRÍVEL QUE PAREÇA!, que acham que o Império, as colónias deveriam manter-se acrescido ao facto de considerarem que existem cidadãos de primeira, segunda e terceira. Uns, obviamente, mais merecedores que outros porque mais capazes. Isto no Brasil é bastante visível. Esta lógica da elite ainda está em curso. Porém, isso não é motivo para que os brasileiros e as brasileiras sejam estigmatizados em terras portuguesas ou por esse dito povo do sul da Europa.  Claro que aqueles armados aos cucos que acham que os portuguesas e as portuguesas são todos os lerdos e que ganhar vantagem é que é fixe bacana legal mais que demais... Eh pá!... Esses precisam duma ensaboadela, assim como os portugueses, os italianos ( olha estes! olha que meninos!), os franceses, os alemães, ingleses e outros que acham que são superiores e tudo se compra com dinheiro ou exploração.

Transcendermos-nos não será baixar a guarda? Respirar fundo sem tentar ter sempre razão duma forma rígida, rispida e grosseira, digamos. Nesse aspecto eu estou profundamente grata ao Brasil e ao povo brasileiro: rever a cada instante a minha energia que imprimo no espaço que vai de mim até ao outro. Gentileza gera gentileza. E muitas vezes somos estúpidos, literalmente estúpidos, uns para os outros não por má fé e sim porque não conhecemos ainda outra forma de atuar, de interagir. E nós portugueses e portuguesas precisamos de sorrir mais por dentro. Aquele sorriso genuíno de gratidão à vida na sua simplicidade e plenitude. Sem leviandades, claro, mas com sentimento. Em relação a quem age por má fé... E esses existem em qualquer parte do mundo! Pessoalmente não estou interessada em conviver de perto e desejo que se encontrem e se revejam. Mas cada um tem de fazer a sua faxina interna, 'num é memo'? Não existem pajens que o façam. Quanto muito pajés com a sua sabedoria da floresta ancestral. A esses estou eternamente grata, pela oportunidade que me têm dado de rever as estupidezes ancestrais que o meu povo tem exercido sobre o deles e que trazemos para esta vida como um carma a banir efectivamente.

A Piu
Brasil, 12.01.2017

O Bochechas ( Mário Soares do partido socialista) e o Galinha Branca\( Álvaro Cunhal do partido Comunista) a confessarem as suas diabruras ao Zé Povinho Cartoon: João Abel Manta

Um fraterno aperto de  mão do Salgueiro Maia aos dirigentes de Angola, Moçambique, Guiné Bissau, São Tomé e Pricipe, Cabo Verde e Timor. O chorão lá atrás precisa duns lencinhos scotex. Cartoon: João Abel Manta
Então, palavras para quê? Hoje há o neo colonialismo, tanto exercido pela tugalhada como pelos nativos da própria terra. Caramba! Eu não quero estar no meio deles e ser confundida. SAI P'RA LÁ QUE ESTE CORPO NÃO TE PERTENCE! TAMPOUCO ESTA ALMA E ESTE ESPÍRITO!
Cartoon: João Abel Manta





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