segunda-feira, 29 de julho de 2013

CAMISOLÃO DE PURA LÃ VIRGEM

pintura: Mário Botas
CAMISOLÃO DE PURA LÃ VIRGEM

Sentiu frio. Ou sentiria calor? Aconchegou-se ao seu camisolão de pura lã virgem. Sentiu uma aspereza no pescoço. Viu um borboto saltar à sua vista mesmo no meio da manga, que já não era manga, era uma meia manga. Tentou com o outro braço arrancar o borboto. Tolhidos pela manga, encolhida devido à lavagem a 100%, os movimentos eram descandenciados por um respirar sofisticado. E aquela aspereza no pescoço! Logo o seu melhor camisolão de pura lã virgem!! E como elegante ficava debaixo dele. Que pena! Já não cabia naquele lindo camisolão de pure wool com uma etiqueta de garantia de qualidade de onde saltava um novelo de lã estilizado em sintetizados traços. E aqueles borbotos! O que era aquilo!? O lindo camisolão  borbotado e até um pouco desbotado tolhiam-lhe os movimentos concedendo-lhe uma ar de anhuca.

Tristemente olhou para a sua bela máscara e uma fina camada de orvalho revistia o interior. Consegui ver o reflexo do seu rosto naquela película de frio. Riu-se às gargalhadas até chegar às lágrimas. Que triste figura! Sentiu-se tão ridícula  com aquele ar desconsolado que passou aconchegar-se a gosto naquele grande borboto que outrora fora um camisolão de pure wool. Correu um pouco na tentativa do  alargar, nem que fosse só um pouquinho. Depois até que se sentiu bem. Mas quando chegasse o calor tiraria delicadamente o camisolão para outras ocasiões. Quem sabe ele iria alargando aos poucos? Nada como tentar!

a piu
Br, 29. 07. 2013

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