sexta-feira, 30 de setembro de 2022

MAS AFINAL O QUE É O ARTIVISMO?

Há uns bons duns belos anos atrás, nos idos anos 70, o canto-autor português José Mário Branco numa composição sua feita para " Mãe Coragem" do Brecht levada à cena pelo Teatro da Comuna ele perguntava: " Mas afinal o que é o comunismo?". Depois continuava cantando utópicamente sobre os meninos de amanhã, que no caso era a minha geração e as seguintes. Bom... Se nós portugueses nascidos na década de 70 somos filhos da democracia e a primeira geração sem colonialismo, também somos filhos do neo liberalismo. O resultado está à vista, mas agora vamos por partes em jeito de breve texto para redes sociais onde a ponte Portugal/ Brasil, Brasil/ Portugal para mim é o dispositivo deste amontoado de letras, frases vindas de informações, estudos, reflexões e ideias. Só para avisar que não acordei hoje de manhã com uma visão de mundo porque escutei ontem o jornal da noite entre um crime, uma corrupção, mais a Rússia a anexar a Ucrânia e um candidato brasileiro à presidência a dizer estupidezes machistas, ao qual agradeço a oportunidade pois ele enoja homens que também precisam de se auto observar nos seus pequenos e médios machismos quotidianos.

No Museu de Arte de São Paulo, além do acervo residente, estão quatro exposições: Dalton Paula: Retratos Brasileiros; Joseca Yanomami: Nossa terra- floresta; sala de vídeo: Bárbara Wagner e Benjamim Burca ( sobre o Movimento Sem Terra MST) e Histórias Brasileiras. Sincera e honestamente estas eposições poderiam atravessar o Oceano e serem apresentadas no "meu" Portugalito gourmetizado. Quem diz estas exposições, muitas outras que já visitei tanto em São Paulo como no Rio de Janeiro. Nomeadamente as exposições do recem inaugurado Museu do Indigena em Sampa. Assim como obras de artistas portugueses anti fascistas que se preocupam e se debruçam sobre a questão do reparo histórico, dentro do que se pode reparar porque as atrocidades que estão feitas, não dá para pedir perdão levianamente e desculpar com um "deixa p'ra lá!". O buraco é mais em baixo. É abalar com o racismo e machismo estrutural, o que dá trabalho.

Numa daquelas conversas de quem viaja em Bla Bla Car ( carro compartilhado) conheço um sujeito que vive num assentamento do MST e é pintor de casas. Um homem com a sexta série e politizado. Ufa! Acho que foi das poucas vezes que conversei com alguém sem retóricas, teorias, demagogias. Mostrei-lhe os cartazes que trazia. Ele perguntou-me a minha profissão, eu respondi artista. " Ah! Eu sou trabalhador trabalhador. Sou pintor de casas e vim agora dum comicio do Lula." Aí eu pensei... Eu também sou trabalhadora trabalhadora. Ser artista dá trabalho porque requer estudo, dedicação e tem um lugar importantissimo na sociedade.

Ele diz que em Novembro vai para Portugal como pintor de casas onde o governo de lá é dito de esquerda e faz um gesto de aspas. Pronto! Agora sim estamos a falar a mesma lingua! Rimos os dois dos governos """ditos de esquerda""" e tecemos algumas críticas aos governos petistas, nomeadamente o descaso com a demarcação de terras indígenas, o impacto ambiental de Belo Monte, mais a campanha populistas do Lula no que toca ao churrasquinho. Ambos concordamos que mesmo assim ele deve ganhar e que ele não é comunista e sim um capitalista que democratizou o cartão de crédito. Aviso o sujeito, que não perguntei o nome, que ele vai encontrar um Portugal vendido aos estrangeiros onde o que se procura é mão de obra barata, mas ele como pintor trabalha em qualquer lugar pois não precisa de dominar a língua desse mesmo lugar. Falo-lhe da classe mé(r)dia brasileira que vive em condominios fechados com porta de serviços em Portugal, coisa que não existia até há pouco tempo. Falo-lhe da reforma agrária frustrada que foi tomada pelas manobras da união europeia e hoje a exploração a emigrantes é escandalosa. Só não lhe falei dos certos artivistas brasileiros brancos que se acham muito informados e fazem podcast para debaterem o porquê de terem escolhido Portugal, sendo o país colonizador, para viverem. Esse artivistas palito as covas da minha dentadura logo pela manhã e dou um arroto libertador: " Escolheram Portugal porque é chique morar na Europa e estão se a cagar para os trabalhadores portugueses e as suas lutas com avanços e retrocessos. Nem se tocam que são descendentes de colonizadores e que agora veem colonizar Portugal. E esta, hein? E como foram por modismo desinformado de empatia zero agora querem dar lições de moral. Mas aqui a artivista tuga a viver no Brasil porque sabe de que lado é que está no que toca a classes sociais e seus recortes responde: " Não estão bem ponham-se a andar. Esquerdice burguesa moralista a dar ares de padre cura pop pode ir dar uma volta ao bilhar grande. Muuuuuu VIVA A REFORMA AGRÁRIA!!! A terra e a vida é de quem se trabalha!"

A Piu

Br, 30/09/2022








1ª imagem: Marcha das Mulheres, pontal Paranapanema, São Paulo, 1996 - Coleção: André Vilaron

2ª imagem:5º Congresso do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Brasília, 2007 - Coleção João Zinclar










MALANDRO É MALANDRO, MANÉ É MANÉ*

 Tenho levado vários anos a entender o que significa malandragem. Não é que não conhecesse o termo 'malandro' que entendia como alguém burlão, aquele que dá o golpe, não confiável. Mas não entendia a amplitude da malandragem com ginga. Se estiver enganada corrigam-me: malandragem é querer levar vantagem com um sorrisão no rosto e algumas vezes só para provar a si mesmo que tira onda com alguém que quer fazer passar por mané. Já mané tanto pode ser o ingênuo como o babaca que faz cagada e é descoberto. Nesse caso entre malandro e mané vai a distância dum mindinho. Também percebi que malandragem é uma forma de resistência, herança dos tempos de escravatura e do colonialismo, o escravocrata, o patrão, os padres ou as autoridades impunham algo e quem era ou é alvo de tal boçalidade fazia que obedecia ou se silenciava aparentemente e depois fazia do seu jeito, mantendo a sua identidade. Nesse caso a capoeira é a ginga da malandragem dá re existência, ou não?

Esta é uma das bancas de fruta do Mercado Municipal de São Paulo. Quem me tirou foi a minha amiga Rita que já está na cidade maravilhosa, um dos berços da malandragem. Nesta banca de frutas importadas tivemos uma epopéia. O empregado enfiou-nos goela abaixo um monte de frutas docinhas e desconhecidas, tipo kiwi banana. Uma espécie de poliamor entre frutas que se cruzam despreconceituosamente. Para @s desavisados um tabuleiro dessas frutas eles pedem uma fortuna. Para não chamar de roubalheira. Há que ficar ligad@ para não passarmos por manés. Depois ainda tentam descer o preço que é na mesma uma roubalheira, um assalto "cordial" a quem consideram turistas. No nosso caso chamaram-nos até a balança que ficava escondida atrás da banca e o patrão veio a correr de olho grande fechando com o braço o cubículo. Aqui a Piu suspirou tipo búfalo Bill e disse que apesar de sermos de Lisboa, que também está entrega essas malandragens de caça ao turista, vive há 10 anos em Campinas. " Ah! Então já conhece! Já é brasileira!"
Brasileira não sou. É um facto. Não nasci aqui e porque haveria de renegar a minha nacionalidade, embora ainda ande a desemburrar do descaso de Portugal em relação aos portugueses e do que se tornou:. um parque temático caríssimo que não é para de quem é de lá. Isto confirmado por várias pessoas, familiares e amigos. Enfim... Portugal não tratará os portugueses como manés incentivando quem vem de fora a investir com benefícios fiscais enquanto os tugas pagam impostos até a testa?
Hoje ao tirar um café numa daquelas máquinas um sujeito pede ajuda. "Você é portuguesa?" e ri-se. " Qual é a piada? É o sotaque? A nacionalidade?" ; "Minha mãe é portuguesa."
Piada é alguns brasileiros irem para Portugal deslumbrados." Chaissa! Respondi está que foi mais forte que eu mas eu já prometi para mim mesma meditar mais e andar sempre com a minha japamala para o hoponopono... Saiu... Depois comecei a rir ao imaginar o sujeito rindo a vida inteirinha sempre que a mãe fala, alegre ou zangada dando uma bronca no dito ou triste porque não sabe porque esqueceu da receita do bacalhau a Gomes Sá e aqui as azeitonas não teem o meu gosto... O homem vem pedir desculpa dizendo que os brasileiros como ele sempre acham graça a alguém da Europa... Para não lhe levar a mal. Pronto, também não sei o que há de risível em ser da Europa ou da África ou da Ásia ou da América ou da Oceania mas prometo que vou descobrir. Agora deu-me vontade de comer melancia nacional daqui mesmo. É nutritiva e hidrata e isso é muito bom em qualquer parte do mundo sempre com aquela ginga do bem viver sem necessidade de passar a perna nem levar vantagem só porque sim.
Falou! Inté galerada!
A Piu
Campinas SP 29/09/2022
* expressão carioca



sábado, 17 de setembro de 2022

ÉLU! IXE MI!



Li Berrrtah Belll Trana D'Talll preparando-se para um encontro da mulherada palhaça. Au yê! Aguardai novidades! Aguardai! Aguardai!

VITÓRIA É ESTARMOS VIV@S E ENOS ENCONTRARMOS!

 


Quem está vivo sempre se encontra! Espera aí... Não é bem assim... Quem se encontra é porque está vivo! Agora vai! Quem é para se encontrar em algum momento encontra-se. Agora é! Pessoal, galerada do bem, malta amiga! Neste desconfinamento só na cidade de São Paulo encontrei três pessoas que conheci nos on lines do confinamento, mas em espaço teatreiro!!! Já na cidade de Santos encontrei um outro no virar da esquina. Acreditem se quiserem que eu não estou aqui para enganar ninguém!!! Por vezes estamos tão pertinho de alguém, tipo: uns 5 km no máximo, deambulamos pelos mesmos lugares e não há aquele: PAH! OH MEÇA! QUEM LÁ VEM?
Existe a sincronicidade. Existe ou não existe. Para mim existe. Se quero muito encontrar alguém é vitória certa, pois há um movimento. Por vezes, ainda não é o momento certo por motivos que a razão desconhece mas a intuição aponta. Mas quando for o momento certo é aquele encontro fatal que o destino reservou.
Neste caso que agora compartilho foi o de ter feito algumas horas de viagem para assistir à minha querida amiga Rita Tomé e brindarmos à nossa amizade de trinta anos. TRINTA ANOS! Since 1992 no meu segundo curso de actores, sim actores porque foi em Portugal e era assim que se escrevia e que alguns ainda escrevem. Grande reencontro. Como se nos tivessemos visto ontem.
Aí na foto ela é a primeira da esquerda, a mais velha do elenco. Nem de propósito! A primeira da esquerda, visto daqui. Embora ela tenha a generosidade e a coragem de assumir que foi bisneta dum empresário fascista. Eu não a conheci nem a conheço assim. Sempre a conheci como comunista, daquelas que está na linha da frente a montar a festa do Avante e nunca fez das suas origens porta estandarte assim como a sua mãe e irmã que são igualmente comunistas. Mas por escolhas dramaturgicas do diretor do espetáculo de teatro documental ela não fala dessa parte. Resultado: passa pela bisnetinha priviligidada do bisavovô. O que não é nada disso. A esta altura do campeonato despolarizar os sujeitos históricos além de dialético é digno.
Depois da peça eu e mais alguns atores e atrizes do elenco viramos a noite em frente ao mar. É bom escutar sujeitos históricos, no caso portugueses, que fazem parte duma peça que fala dos seus bisavós, avós e pais que foram coniventes com o fascismo ou foram oposição e até resistência. Conheçi também a Ana que é uma atriz cujo pai foi preso político e durante a sua época da escola, em plena democracia nos anos 90, ela era estigmatizada por dar tal informação, até deixar de dar. Ela, aos olhos do público, é a filha do revolucionário, mas a mesma disse-me que tinha parentes do lado espanhol que eram apoiantes de Franco. Isso também não aparece no espetáculo o que humanizaria, tornaria verossimel as complexidades das relações sociais e familiares.
Quando a Rita informa que a seguir à Revolução dos Cravos os ânimos das pessoas, agitadas pelos ventos de liberdade, estavam exaltadas, o espectador ao meu lado faz ums interjecção gutural. Tive vontade de lhe segredar ao ouvido, que eu sendo neta e bisneta de camponeses e trabalhadores braçais explorados,concordo com ela e não faz dela uma faxixi. Sim, os ânimos das pessoas estavam exaltados e cometeram-se algumas injustiças, difamações, calúnias. Porque viver em Liberdade aprende-se e dá trabalho. Assim como viver em Democracia que está aliada à Liberdade. Um regime de liberdade autoritária soa um pouco estranho.
Por outro lado, para falar de fascismo português precisamos de falar de colonialismo. E ainda bem que são alguns de nós portugueses que o fazemos e não precisamos de brasileir@S branc@s que foram para Portugal na leva " O Brasil não tá dando mais!" e que vim a perceber que não sabiam nem sabem nada de nada da conjectura socio poliítica de Portugal nos últimos 50 anos. Criticam os portugueses de forma generalizada, cheia de clichés de discurso odioso, e ainda vivem em Portugal... Estão lixados comigo... Se são artivistas então informem-se porque existem artivistas portugueses com aquela bigodeira eriçada quando a sonsalheira não se toca e é polarizada.
Pronto, para todos os efeitos eu escrevo para os filhos do bem, que é diferente "de bem".'De bem' é aquela postura chique decadente. Já que o Imperialismo é decadente a polaridade também o é, assim como as lições de moral de priviligiad@s brasileir@s que desconhecem a luta dos trabalhadores portugueses. Pronto faça-se justiça social nesta terra e além mar.
A Piu
B'Olhão Geral Zoom 17/09/2022

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

O BRASIL NO BRAZIL

 



- Por favor Piu, fale três desejos para o Brasil.

- Só três desejos? Não pode ser um?

- Aí quebra a regra dos contos de fadas, mas diga lá um e depois os outros dois.

- Gostaria que os seres encantados da floresta fossem respeitados por quem nunca os viu e até desconfia da sua existência. E que as fadas da Disney dessem um tempo à gente.

- Ai Ana! Ana! Só você para acreditar que cantando o céu não cai e as fadas da Disney deixarão de comer marshmallows. 

- Posso, então, falar os outros dois desejos? Então vai: espero que depois de Outubro não se volte a falar em milagre económico e sim valorizar o trabalho das pessoas dando-lhes condições dignas para viverem, ao invés de sobreviverem. Que em vez de se falar de churrasquinho e consumo desenfreado fale-se de soberania alimentar e dos malefícios do agronegócio, agro tóxico e desmatamento. Já o terceiro desejo para depois de Outubro é aqueles que querem deixar o Brasil o façam sem precisarem de repetir o chavão: ' Ai o Brasil já deu! Não tem jeito, não! Vou mas é pra Europa ou para os States para dar aquele up!"


Mural da história sem moral mas com moral sem moralismo: lutar com um indígena é refazer praticamente todos os hábitos de consumo e lógicas agregadas que se naturalizam pela lavagem cerebral que a midia é muito responsável e que se reproduz sem se pensar realmente, quer se esteja para direita, para a esquerda, para um lado, para o outro, para a frente ou para trás.


Nunca escutei um indígena falar que o Brasil não tem jeito que o melhor é ir embora. Escuto sim a urgência da demarcação de terras, da não invasão e e do fim ao genocidio. Escuto sim e observo a força que estes povos com os seus movimentos teem principalmente nesta era da tecnologia onde a divulgação de quem são e do que fazem é eminente. Escusado será lembrar que um indígena não deixa de ser indígena por usar tecnologia. Pelo contrário, afirma a sua identidade. Pensar e falar que não indígena genuíno é dum cinismo sem precedentes. 


Estes cartazes que aqui publico trouxe do MASP - Museu de Arte de São Paulo. Com fama de elitista, este museu à terça e quinta abre as portas gratuitamente ao público e a sua curadoria tem feito questão de exibir obras de artistas indígenas, afro descendentes, mulheres e outres que não o homem branco de referências eurocêntricas. O MASP está de parabéns. Além de que disponibilizar estes cartazes de movimentos indígenas e do MST  a um público de classe média, média alta é um pauzinho na engrenagem.


Cada vez sinto que faz mais sentido estar aqui do que ter ido para Berlim há 10 anos atrás e depois dos testemunhos de amigas que vivem ou viveram nesse território durante o confinamento percebi que um país industrializado não significa que produza cidadãos conscientes. Mas com certeza que produz consumidores com espírito de clientes. Não serão todos, mas uma grande maioria.


Enquanto isso sigo com o desafio da re invenção do que é mudar o mundo interno e por consequência o nosso mundo externo. Já mudar o mundo na totalidade é uma ingenuidade arrogante. Ou não é?


A Piu 

B'Olhão Geral Zoom 15/09/2022


Cartaz: II Marcha das mulheres indígenas: reflorestamento, corpos e corações para a cura da terra. Brasília, 2021- coleção Edgar Kanaykõ Xabriabá.

AINDA AGORA




" Porque você está aqui no Brasil?'; 'Porque sim. Porque gosto."

Bem... ' Porque sim ' não é resposta, mas até é principalmente quando não nos apetece dissertar acerca das nossas escolhas tampouco tentar convencer alguém. Já o'porque gosto' pode criar uma estranheza ainda maior para alguns que já perguntam com estranhamento quando o que seria óbvio era eu estar em Portugal ou aproveitar a Europa munida do livrinho vermelho dos carimbos, mais o cartão de cidadão ou de 'cidadona' e mais a relativa facilidade em comunicar-me em quatro línguas. Mas por ora prefiro este imenso território ameríndio onde convergem centenas de origens e identidades. Um lugar onde bifurcam lugares de existência, re existência, resistência, de fala, de olhar, de cosmovisões múltiplas. 


Descobri a síntese da resposta: ' Porque aqui sente-se VONTADE de existir, de fazer acontecer quer hajam recursos financeiros suficientes ou não ou estes estejam mal distribuidos, As coisas acontecem por existência, re existência e resistência e todos os dias sem excepção eu aprendo muito com muita gente, por vezes simplesmente observando e escutando."


Pronto, esta é a resposta mais sincera e honesta que encontro para dar ao invés de dar uma tortamente cínica com apontamentos amargos: " Estou aqui porque preciso de dar lugar à leva de mãos cheias dos daqui que vão para um país tão pequeno como o meu ( Portugal). Caberá lá toda a gente? E a Europa já conheço o suficiente de perto e de longe para entender o seu cansaço e também move-me muito mais outras visões que contrariam a hegemonia eurocentrica. Aprecio as bordas, as dobras, as obras consideradas periféricas ou das minorias que são maiorias. "


Faço questão de escutar e apoiar outras vozes que não aquelas que escrevem os manuais de História que tive na escola e que ainda se reproduzem no dia a dia: saudosismos de feitos heroicos de conquistadores que já tiveram o mundo na mão, no caso em Portugal, achararem que são o centro do mundo cheio de valores éticos de cidadania, no caso a Europa.


Na minha terra natal diz-se que dos fracos não reza a História. Basta saber qual História e quem é considerado fraco. Serão fracos os que resistem há 500 anos aos apagamentos e silenciamentos? O meu olhar de escuta vira o coração para esses e por ora vira as costas à Europa. Não significa que tudo na Europa é ruim e que me movo por deslumbramento exotizado. Não nã nã. Por outro lado, com um toque de especulação: se existi em outras vidas como portuguesa, das duas uma ou das duas várias: ou era uma escrota que fez cagada neste território e vem se reconciliar, re inventando-se, ou era uma da contra mão que veio continuar esse mesmo caminho re existindo e resistindo.


Bon, ê boilá! Ganau! Déts it! Olé! Hasta! Hasta!


A Piu 

Bolhon Geral Zoom 15/09/2022


Cartaz: II Marcha das mulheres indígenas: reflorestamento, corpos e corações para a cura da terra. Brasília, 2021- coleção Edgar Kanaykõ Xabriabá.

domingo, 11 de setembro de 2022

DOG SHAVE THE QUEEN



 

Há uma série de fotos, aliás slides, daquela ida em trabalho em 1981 a Londres do meu pai. "Ai! Ai! Ela é filha de gente importante! Gente muita rica! Tem um burro e uma penica!" Ou tem um burro e uma burrica ( como dizia a minha avó alentejanita). Apesar de tudo  prefiro " tem um burro e uma penica". Desde criança imaginei alguém ser importante porque tem um burro ( que nem sempre obedece às ordens) e a esposa do penico que se amantizou com a merda ( passo a expressão aos mais sensiveis).

Estamos em 1981, quando se dá o casamento da princesa Diana com o principe Carlos ( é que em em Portugal tudo ou quase tudo se pode traduzir. A rainha Elisabeth passa a ser a rainha Isabel e o Charles é o Carlinhos da amante que enlaçou a educadora de infância filha dum Lord).Mesmo a transmissão televisiva ter sido em horário vespertino para começar ( não é como é agora) devo dizer que foi uma estupada de casamento em direto com aquele véu de noiva a arrastar pela Catedral horas a fio. Eu tinha 7  anos e até hoje me lembro! Todos ovavam " Ai! Que lindo! Que casamento de sonho!" Coitada da Diana... Onde ela foi amarrar o seu bode. Uma mulher de carne e osso com senso de cidadania a ser encornada pelo Carlitos desde sempre e a ter que corresponder a todos aqueles protocolos da coroa britânica. Da anorexia à depressão, passando pela sua auto afirmação, foi um saltinho para fazerem-na desaparecer do mapa.

Primeiro que tudo: Qual a importância da existência e permanência duma coroa em Estados neo liberais e supostramente democráticos, a não ser manterem aas aparências da tradição e gastarem o dinheiro do contribuinte? Pergunto, perguntar não ofende ou sim? O que nos faz amar, idolatar ou odiar uma senhorinha que morre aos noventa e tantos anos cumplice ou sunjugada a uma lógica patriarcal cheia de protocolos e de amorosidades rreprimidas?

Em 1981 o povo inglês ainda tinha que aguentar a Dama de Ferro, a tal da Tatcher. Por isso esses encontros na via pública, como se vê na foto, para contestar. O que o povo britânico ganha ou é mais que os povos colonizados pela UK com tantas mazelas sociais de desemprego e assistencialismo que subscreve as hierarquias e poderes sociais ( pobre é para se manter pobre e contente com a esmolinha)?

A rainha da Inglaterra morreu como qualquer outro ser humano. Ponto. Sentimentos a quem lhe era próximo e nutria afeto familiar por ela. Agora coloca-la num pedestal ou mete-la no boeiro é pá... Yo que sei? Ela é uma mulher fruto duma lógica máscula/ patriarcal de poder e imperialismo, mas não deixa de ser uma mulher e um ser humano. Como cantava a banda punk britânica: DOG SHAVE THE QUEEN ( o cachorro barbeia a rainha) ao invés de GOD SAVE THE QUEEN ( Deus salva a rainha)

Que siga em paz, a simplesmente Elisabeth e "viva o dia quem já não precisas de reis nem gurus nem frases chaves nem divisas" ( Sérgio Godinho).

A Piu

B'Olhão Geral Zem 11/09/2022

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

ESTA JUVENTUDE ESTÁ PERDIDA- série: onde está @ Wally?

 



Quem nunca escutou esta " da juventude perdida" em relação a si mesm@? Talvez a minha avó? Não sei se a minha mãe escutou, mesmo sendo da geração sixtie Portugal era careta por imposição fascista. Afirmar que haviam anti fascistas às mãos cheias durante esse nefasto regime que durou quase 5 décadas é mentira. As pessoas eram proibidas de serem, de se expressaram. Quem o fizesse corria graves riscos. Embora existe-se os resistentes. Muitas pessoas ainda estão entre nós para contar melhor que eu o que foi aquela noite de obscurantismo que muitos outros ainda invocam com saudosismo... Até os que passaram fome e foram enviados para a guerra...

Quando se fala em resistência portuguesa toda a atenção vai para os comunistas. Raramente se conta a história dos anarco sindicalistas e outros que não estavam vinculados a esses dois ismos, mas mobilizavam-se para fazer greve e sequestrar, por exemplo, o navio Santa Maria nos anos 60 para pressionar o governo.


O que isso interessa ao povo brasileiro neste 7 de Setembro nós 200 anos de Independência? No meu ponto de vista deveria interessar, nem que fosse para desfazer equívocos assim como estarem cientes que o grito do Ipiranga aconteceu porque uma realeza portuguesa queria se desvincular da coroa. Os mesmos de laços rompidos com os seus. Não foi nem é uma independência do povo negro e indígena, vamos combinar. Bom,  como deveria interessar conhecer tão bem ou melhor que a figura do Che Guevara o Amilcar Cabral, uma figura central no processo independentista dos países africanos. Um homem Guineense inteligente e sensível. Esse homem, que estudou como bolsista e único estudante negro em Portugal nos 40 engenharia agrónona, tinha a exata percepção que ele lutava contra o regime fascista português e não contra o povo português igualmente oprimido. Penso que essa informação é importante de se reter, principalmente para alguns brasileiros brancos que ao fim de tantos século descobriram que existem negros e indígenas no território em que habitam e que afinal são seres humanos com alma e com direito a direitos. Se defendem na prática ou somente na teoria essa já é outra conversa.


Todo o primeiro final de semana de Setembro desde 1976 que acontece a Festa do Avante, promovida pelo partido comunista português. Eu frequentei-a entre os 11 anos (1985) e os 23 por aí. Depois, por ser viajeira/ estradeira do tal do mundão acabou que a vida foi me levando para outras  festas e encontros. Mas como eu curtia aquela festa. Três dias roots com muita música, teatro, artes plásticas, comes e bebes. Até 1989 havia barraquinhas de todos os países do leste da Europa e uma propaganda política que hoje há distância chega a ser risível de tão constrangedor.... Isto não significa que deixei de acreditar na justiça social. Pelo contrário! Fiquei mais atenta ainda a demagogia"feita a maneira que é como queijo numa ratoeira".

Também muitos anti fascistas portugueses exilaram-se no Brasil, muitos ainda devem andar por aí. Outros voltaram e outros com certeza que já partiram. Dificilmente ouço falar deles no Brasil. Para mim soa sempre estranho quem defende os direitos dos trabalhadores e se considera antifascista desconhecer a existência e a resistência de outros trabalhadores anti fascistas, no caso portugueses. No caso do Brasil a coisa é esquizóide. Brancos, descendentes de portugueses numa sociedade estruturalmente racista e machista, esnobando os portugueses como se a História fosse linear e os mesmos ao invés de se responsabilizarem por um reparo histórico preferem bodes expiatórios para todas as ocasiões.

Sim, Portugal também tem os seus racismos e machismos estruturais mas não precisa de pseudo esquerdas brasileiros da classe média virem dar lições de moral e querem viver muito em Portugal. Combinado sô dona meninota C.? Só para dar um exemplo duma artivista equivocada chata à paca.

Pronto agora depois desta nomeação personalizada vou pôr a minha sombra para sonhar e esta acalmar-se para não rodar a baiana demasiadamente demasiado diante de recorrências equivocadas e ingratidões duma mulher, no caso branca classe média brasileira que é muito diferente da portuguesa com as suas regalias do " sabe quem com quem está falando?" que mesmo assim foi protegida por instituições portuguesas quando sofria de violência doméstica. Não precisa de fazer amén para tudo em Portugal, mas cuspir na sopa cai mal e dá vontade de chacoalhar. Cresce e aparece pirralhota que descobriu que ser descolada com papo de feminista, anti rascista e xenofobia lusofóbica é cool, mais que demais. Ainda nem eras espermatozoide já a resistência anti fascista e anti racista portuguesa existia, pá! Pronto, fica o recado dado ao meu querido povo brasileiro, uns são amigos queridos outros passo à frente como em qualquer parte do mundo quando o diálogo é infértil ou inexistente. 

Beijus e abraçus e até à próxima!

A Piu

B'Olhão Geral Zen 07/09/2022

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

O SONHO DO PAPAIA NUELA


Papai Noel sonhava em ter umas férias merecidas entre as bonecas que não entregou. Mal sabia ele que ele quando não usava óculos sofria de ilusão de ótica... Enxergava as mulheres como um séquito de bonequinhas. Um dia uma delas perguntou se ele era comunista por se vestir de vermelho. Ele riu com a sua boca desdentada: " Eu virei um produto do capitalismo selvagem!" e riu estrondosamente como um viking.
Ela fez-se de loura burra, como o papai adorava trata-las, e perguntou: " Como você quer ser chamado?"; " De papaia Nuela! Para parecer uma que sou pela causa feminista!"; " Sério, perguntou a mulher fingindo-se de boneca, 'tá visto que essas barbas são brancas de mentira você é muito mais novo. Posso te contar um segredo? ( o papaia Nuela arregalou os olhos e respondeu que sim). A mulher fingindo-se de boneca respondeu: " Onde você ainda quer ir eu já fui e já voltei e vou novamente se me apetecer. Papaia Nuela você é mais do que uma farsa. 'Cê sabe disso, não? A vaidade é uma armadilha. Tchi amo de verdade José Cidadão quando assim te apresentas. Seguras a bola ou deixas cair?"
A Piu
B'Olhão Geral Zen, 05/09/2022
foto tirada na Praça Roosevelt, SP, na antiga boite Djalma's.

SERÁ QUE VAI CHOVER PICANHA? - Série: Onde está @ Wally?

É a Piu ou é @ Wally? Wally vestiu-se de Piu ou a Piu não se vestiu desta vez de Wally? E o que é que isso interessa para a vida de vós outr@s? Talvez nada ou alguma coisa a partir do momento que se dispõem a ler-me. A ler o que escrevo ou crio, vá. Assim sendo, desde já os meus sinceros gratinados pela predisposição, a disponibilidade.
Com tanto estímulo nesta era do excesso de informação e desinformação quem pára para prestar atenção a nós ou vice versa é a celebração do encontro. Sim, escrevo, atuo, crio, construo, dou forma e animo o inanimado para comunicar. Na adolescência cheguei a acreditar na possibilidade do niilismo. Puro equívoco e arrogância acharmos que podemos começar do nada aniquilando referências, o que foi feito antes de nós.
Há uns anos atrás, na hoje glamourosa Lisboa que na época era apenas Lisboa com os seus cosmopolitanismos provincianos, numa festa em minha casa levantou-se uma questão entre eu e uma parceira e amiga de trabalho, ambas atrizes palhaças, e outra amiga artista visual que tinha e ainda deve ter uma companhia de teatro que ganhava os editais quase todos e apresentava nas principais salas de Lisboa. Ela defendia que os espetáculos dela não eram para comunicar nada... " Como assim? - dizia eu eu essa minha amiga atriz palhaça- Tu convocas, convidas o público a sair de casa para assistir ao vosso trabalho com dinheiros públicos e vocês não querem comunicar nada? Não precisas de contar a história da carochinha que começa com Era uma vez... Mas eu como público quando assisto a alguma coisa ou aprecio uma obra de arte quero ser tocada, sentir que faço parte de algo maior que um devaneio artístico narcísico principalmente com dinheiro do contribuinte. Eu não quero fazer parte da panelinha dos eleitos que se aplaudem uns aos outros mesmo quando sabem que o que está diante deles é uma cagada. Se faço uma cagada artística agradeço que me avisem.
Com isto eu não faço a apologia do populismo: 'Aí vou vou dar o que as massas gostam e que entendem de primeira.' Não é isso. Trata-se de comunicar, de tocar. Eu crio para comunicar, tanto na escrita como na atuação e nas artes plásticas. Se faço uma cagadela qualquer e tod@s me aplaudem sem me questionar eu fico apreensiva.
O populismo é uma coisa lixada... Quando queremos muito que algo fique melhor ou menos mal podemos correr o risco de aceitar o inaceitável. Por exemplo: eu não sou eleitora no Brasil, vivo aqui há 10 anos, e quero muito mesmo que o Coiso ponha-se a andar, desapareça do panorama político. Mas bate no peito quando o Inácio Metalúrgico acena com o churrasco para ganhar eleitorado... Se ele acena-se com saúde, educação, cultura, arte, moradia de qualidade para todos ele perderia esse mesmo eleitorado? Já não falando que churrasco enxergado dessa forma significa agro negócio, desmatamento, genocídio indígena. Enfim... Porém espero que o seu eleitorado o avise disso...
Nesta foto no meu quintal debaixo duma amoreira um pombo bagunçou os ramos e caiu uma amora madura em cima da minha roupa e da minha testa. Desconcertei, principalmente por que a saia é branca e a blusa vermelha manchou... E pensei: Olha a ironia! Um pássaro não caga em cima de mim mas sacode um fruto vermelho maduro que mancha a minha roupa nova. O que isto significa? Qual a metáfora? Que universo onírico eu sou convidada a entrar?
Sim, nós para nos relacionarmos e nos entendermos com ética precisamos de compartilhar códigos de conduta transparente. Não disparar para todos os lados a ver quem gosta de nós e nos aceita e aplaude a tudo o que fazemos que seja aplaudivel ou não. A vida é um jogo. É ou não é? Tem as suas regras, que podem ser ou não flexíveis. Jogar com regras muito rígidas não é para mim, mas conhecer os códigos é importante. Até hoje, ao fim de anos , eu tento entender os códigos sociais no Brasil . Alguns já entendo, outros fico na dúvida. Chego a bloquear. E a dúvida pela dúvida das intenções não tem graça. O que tem graça é comunicarmos com transparência as nossas intenções para um bem comum.
Ah! Outra coisa! Será que os leitores brasileiros se interessam pelas lutas utópicas anti fascistas portuguesas? Se sim ou não essa uma das minhas intenções: desfazer preconceitos fajutos com a intenção de novas formas de nos aproximarmos sem códigos dissimulados. Com aquela verdade que vem do coração, honrando encontros maduros como a amora que me caiu em cima através dum pássaro que por ali esvoaçou.
A Piu
B'Olhão Geral Zen 05/09/2022




sexta-feira, 2 de setembro de 2022

SEM COMENTÁRIOS E COM O MEU APOIO INCONDICIONAL


São Paulo, setembro/2022

1) Criminalização de profissionais que atuam no cuidado pela redução de danos.
2) Criminalização de artistas que denunciam a violação de direitos humanos, o racismo e a violência do estado contra população pobre no centro da cidade.
3) NUNCA foi uma guerra contra as drogas.

Flavio Falcone


Nosso dia hoje 01.09 foi bem cansativo e exaustivo graças a uma ação da polícia na Cracolândia!
Não nos calaremos e não pararemos !
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quinta-feira, 1 de setembro de 2022

CAUSOS- série: onde está @ Wally?

 

 

Pensei em entitular de: " AI NÃO ME DIGA! ELE HÁ COISAS LEVADAS DA BRECA - série: onde está @ Wally", mas depois voltei ao titulo inicial que além de curto e sucinto não é toda essa parafenália de expressões idiomáticas bem tugas. Já causos são histórias engraçadas e assustadoras de tradição oral que ao serem contadas com vivacidade provocam sensações diversas em quem escuta. Não sei se estes causos que a seguir relato, baseados em conversas que tive casualmente por essas ruas afora pelo facto de ser portuguesa, tenham graça. Cabe a vós outros adjetivar, se for o caso, ou simplesmente ouvir ou ler. Os nomes são ficticios mas as histórias não.
Mariluza depois de muito pensar decidiu largar o emprego como professora de inglês, vender tudo inclusivé a chácara ( quintinha) onde vivia para fazer as malas e " abram alas que lá vou eu" para a Portugal, a terra das oportunidades onde se ganha em euricos. Ainda tentou convencer a prima e o marido da mesma para fazerem o mesmo. Foi sozinha. Hoje mora em Almada ( súburbio de Lisboa), trabalha 10 horas por dia numa cafetaria, ganha o salário minimo, não come carne como tanto gostava de o fazer aos domingos na chácara e não tem dinheiro para voltar ao Brasil.
Claudia e o marido voltaram para São Paulo, teem um apartamento em Higienopolis e uma casa em Cotia. Claudia tem aposentadoria do Governo Federal. Moraram em Cascais, mas " Portugal é caro demais". A aposentadoria é de quatro mil euros, no Brasil é vinte mil reais. Moral da história: em Portugal ela vive bem, mas muito abaixo do padrão de mordomia e criadagem ao qual está habituada com o seu marido.
Gisele já tinha um salão de beleza no Brasil. Viu uma oportunidade de investir no seu negócio e morar na Europa!!! Vou para Portugal!, decidiu. Aliciou várias brasileiras a irem para Portugal para trabalharem para ela. Posto lá, os documentos destas era detidos por Gisela e as empregadas viviam e trabalhavam em cativeiro. Gisela foi descoberta e as autoridadse portuguesas detiveram-na e a deportaram.
Wesley é empresário em São Paulo. Vendeu tudo para montar um negócio de uber em Lisboa. Eram mais os gastos que o lucro. Voltou ao lugar de onde partiu.
Ricardo é um fotógrafo de Portoalegre. Foi para Portugal. Nem em casamentos conseguiu trabalhar, o confinamento entretanto chegou, trabalhou em redes de fast food e chegou a deambular pelas ruas. Conseguiu voltar.
Obs: é claro que existem histórias e experiências outras que não estas. Umas mais felizes e bem sucedidas, mas também hé que lembrar de não esquecer que a chamada de mão de obra brasileira tem a ver com não se querer pagar o justo aos trabalhadores que já lá se encontravam assim como não estreitar demasiado vínculos emporegaticios. Depois há as manobras de interesses. Há a chamada da classe média alta aposentada ou não para investir no país. Ou um estudante recebe uma bolsa vai e volta ou fica, porque mesmo assim santos da casa não fazem milagres. Os tugas que vão dar uma volta ao bilhar grande se levantarem muito a crista. Ainda há quem vá fazer o que muitos tugas não querem fazer porque acham que não é trabalho para eles ou porque estudaram para outra coisa. Há de tudo. A questão é sabermos porque tomamos decisões na nossa vida sem ser por modismo, ilusão do glamour ou do que seja. E lá está... Ter conhecimento de causa de onde se sai e para onde se vai e nunca esquecer da prática da solidariedade sem deslumbre nem complexo de inferioridade ou superioridade.
Até ao próximo texto que falarei sobre as resistências utópicas portuguesas no ano de 2010/2011.
A Piu
Braziuli, 01/09/2022