Eu não "vos los disse" que eu também vestia uma roupa aprumadinha mas mais desafogada? Até hoje faço isso! Na adolescencia os outros adolescentes tinham até dificuldade em definir a minha caixinha. Se eu era hippie ou vanguarda ( aqueles que se vestiam de preto e branco e ouviam The Smith e assim). A roupa é um meio de comunicação, como os gestos e assim. ( "E assim" parece uma daquelas expressões que se usam nos roteiros que ninguém usa no dia a dia. Tipo: " Com os raios! Quiçá esta bruma já se adensa!").
Se a bruma se adensa ou não é a nós que nos compete dosea-la. Por exemplo, estou com a mesma roupa da foto do texto anterior, só que com um colete que a minha mãe me fez. O último botão estar aberto e a foto ser a cores, assim como o cabelo, está em estilo unisexo próprio dos anos 80 para ser mais prático de lavar e pentear. Cabelo solto e não aquela peruca meticulosamnte penteada com o pente fino saído da bolsa da avó. A expressão também está mais desconstraída num franzir de nariz como quem diz: cheiro um tanto a azedo mas bora encarar a coisa.
Estamos no ano de 1982 e esta é uma foto tirada na escola em S. Domingos de Rana. Uma localidade que fica entre o mar e a serra de Sintra. Nesta época, das janelas, de casa já não se avistava a serra de Sintra com o palácio da Pena e o Castelo dos Mouros ao lado. As construções de casas tinham tomado contado daquela área rural, enxotando os tratores para longe. Foi nesse campo que as duas ovelhas do meu avô fugiram e misteriosamente nunca mais apareceram, apesar das emboscadas. Já se vê que nem as ovelhas gostam de serem subjugadas, mas provavelmente fugiram do jugo do meu avô para se "serem acolhidas" em um qualquer quintal da vizinhança. Vai saber.
Ontem foi feriado no Brasil. Tiradentes. Um mártir da Inconfidência Mineira que se insurgiu contra a coroa portuguesa. @ car@ leitor brasileir@ saberá melhor essa História que eu, portuguesa. Ou ser-lhe-á mais cara que a mim,. Não sei. Embora ainda queira conhecer um marco histórico onde a supremacia branca se silencie para dar protagonismo efetivo ao povo originário e suas urgências em demarcações de terra e outros direitos, assim como o atendimento das necessidades das periferias, quilombolas, sem terra e afins. A mim é me caro o feriado português do 25 de Abril , dia da liberdade, apesar da democracia ser uma menina que ora avança ora retrocede.
" Dez anos que você está no Brasil? Já está quase brasileira!" Olhem... Eu amo muito este território de mil povos, mil culturas e ancestralidades mas eu não sou brasileira. Não nasci no Brasil, vivi grande parte da minha vida em Portugal e outros países vizinhos do continente europeu. Não me faz mais nem menos que os outros seres humanos nascidos em outros continentes. Eu admiro muito as culturas e as espiritualidades indigenas. Por admirar e respeitar não passo a andar de cocar e a dizer que sou xamã porque fiz cursos com o Kaká Werá. Por saber quem são os indigenas eu não vou justamente dizer que sou indigena. Por outro lado,ser portuguesa não é vergonha nenhuma. É um facto. Vergonha sentirei se eu for xenofoba com um(a) brasileir@ ou tentar vir ensinar como é o Brasil a alguém que sempre aqui viveu. O inverso também é válido e parece-me que alguns brasileir@s que foram nesta febre de modismo para Portugal nos últimos anos sem se preocuparem em saber quem faz parte da classe trabalhadora portuguesa e todos os contornos socio politicos e históricos já lhes estão a cair a ficha. Espero. Não vir ensinar ao s portuguesezs o que é Portugal ou como deve ser é colocar-se num lugar de escuta generosa e também humilde. Não sabe pergunta ou escuta em vez de dar lições de moral que aprendeu na escola com fortes resquicios de pedagogia militar.
Hoje é uma data que requer muita reflexão e mudança de paradigma. Há 522 anos as caravelas portuguesas chegavam no litoral, hoje baiano. Não me parece que seja motivo de comemoração, e sim de reflexão e comprometimento com o presente e com o conhecimento histórico com os seus variados contornos onde há disputas de interesses, traições, equivocos de todas as partes dentro dum projeto impertialista e patriarcal numa lógica europeia. Sem dúvida. Mas conhecermos a história do imperialismo e da escravatura que atravessa tempo e espaço é importante.
Esta foto foi tirada no oitavo ano dum Portugal sem colónias. 1982. Eu também tinha oito anos como a democracia. Os reparos históricos ainda são muitos por fazer. Mas aqui a Anita já sabe como gingar diante de eventuais xenofobias e distorções históricas onde o cidadão brasileiro de origem portuguesa ou europeia se acha colonizado. Não pisem muitas vezes os calos à Anita que a Anita tem as suas razinzices, de quando em vez, mas sabe qual o seu propósito de alma e espirito aqui na matéria. Para ela há sempre um lema que cada vez se torna mais claro: Hamar o Umor sem tirar nem pôr para um mundo interior melhôr! Profissional ou amadora a Anita é trabalhadora!
A Piu
Br, 22/04/2022
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