terça-feira, 19 de abril de 2022

ABRIL, ÁGUAS MIL - série: Filha da Madrugada


 " Ana, que estas reflexões alimentem seu espírito. Afeto do Munduruku 2022".

" Abril águas mil" Este é um ditado popular da minha terra natal onde a primavera é  regada a chuvas. As águas representam os nossos sentimentos e Abril  está regado  com aqueles com datas de águas estagnadas, fluidas ou fluidas estagnadas e outra vez fluidas. Poderia começar pelo 1 de Abril de 1964 no Brasil, recuar até ao 22 de Abril de 1500, avançar até ao 25 de Abril de 1974, que para o Brasil não teve o impacto que teve para os países africanos colonizados por Portugal, até chegar ao 19 de Abril, " dia do Indio" - data criada no Brasil em 1940 pelo Getúlio Vargas.

Para o escritor indigena e pós-doutorado em linguistica, Daniel Munduruku, " o dia do Indio é data folcolórica e preconceituosa!. Para o Daniel, esta data deveria ser chamada de " Dia da diversidade Indígena" para afastar-se de ideias falsas sobre o índigena romantizado. ( informação retirada do instagram do próprio).

Há um mês atrás, sensivelmente, o Daniel passou por Bolhão Geral Zen, é um lugar e não lugar entre a terra do nunca e a terra do sempre. Não perdi, claro, a oportunidade de ir conhece-lo pessoalmente e escutar as suas sábias palavras, como de muit@s outr@s escritores indigenas. Obtive este livro: " Sobre saberes e utopias". Ganhei fôlego e deixei a timidez de lado e pedi-lhe um autógrafo com a respéctiva dedicatória que abre este texto. 

Na minha visão, este mês de Abril, como todos os outros, deveria servir para escutar os povos indigenas e negros que foram subjugados pela oligarquia do meu povo, o português. E essa escuta deveria se prolongar até à tal da minha terra natal, Portugal, que outro dia me mandou um livrinho, vulgus passaporte, só com imagens lá dentro de monumentos quinhentistas. Nem uma alusão ao 25 de Abril de 74 ( dia da liberdade, da queda do fascismo e da descolonização). Um cravinho que fosse numa página penso que não seria pedir muito e até caía bem aqueles que pedem cidadania portuguesa e são amantes da liberdade. Acredito que a dignidade passa por não subscrever narrativas caducas, mas ainda vigentes, e sermos gente de verdade como diz o José Afonso, autor da música " Filhos da Madrugada" que foi escrita no ano em que nasci. Eu sou filha da madrugada, aquela que precede a longa noite do fascismo. E ocuparmos o nosso lugar de escuta é abrirmo-nos para encontros auspiciosos entre mundos e cosmovisões.

Assim sendo! Viva a o dia da diversidade indigena onde os mesmos são protagonistas da sua história, sem precisarem que falem por eles com assistencialismo e exotismo. É o minimo, pois não é? :) 

Beijus e a abraçus desta filha da madrugada

A Píu

Br, 19/04/2022 

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