Ao Brasil ou no Brasil? Como eu me comunico: "ao" é quando vou e volto. Já "no" é quando venho para ficar a médio e longo prazo. Neste ano da graça do senhor de 1996 eu vinha "ao". Fiquei um mês. Visitei uma conterrânea, a Anabela, no Rio de Janeiro e viajamos umas 30 horas de ônibus ( autocarro na minha terra, penso que falar diferente não deveria ser motivo de risinho só por que sim. Mas por vezes acontece. A pessoa fala uma palavra diferente ou a mesma mas com sotaque diferente e a boquinha do interlucotor faz um esgar de escárnio e ri. Além de desagradável é desnecessário.). Enfim, fomos até Cuiabá, no Matogrosso. Visitamos este querido amigo do teatro e do cinema: Amaury Tangará que está do meu lado esquerdo, direito visto daqui ( já se vê que os lados mudam segundo o lugar que ocupamos. Não perder de vista de que lugar falamos e em que circunstâncias com ou sem privilégios, considero importante). Já do meu lado direito, esquerdo daqui, está a Juliana e o Luka que era na época vocalista da banda Paku Atômico, que fundia punk rock com musica popular matogrossense e indigena. Foi com ele que conheci Mestre Ambrósio e Zeca Baleiro. Ainda hoje escuto esses três projetos musicais com carinho e entusiasmo.
Já da minha parte sou uma teatreira. Há um ano como profissional do oficio, continuando os meus estudos em artes cênicas que datam justamente desde o ano da queda do muro de Berlim: 1989. Depois desta viagem ao Brasil, ironicamente (?) em Abril durante a Páscoa seguiria com uma bolsa de estudo para estudar numa conceituada escola de teatro em Paris. A Lecoq. Vamos agora por partes: porquê ironicamente em Abril na Páscoa? Porque foi em Abril na Páscoa que a comitiva das naus lusas do Pedrito nascido em Santarém chegou à Bahia. Vocês sabiam que existe uma cidade chamada Santarém na beira do rio na floresta amazônica/ amazónica? Eu não sabia? Conhecia uns 4 anos mais tarde nas andanças pelos cafundós do Brasil. É irónica esta coincidencia porque eu vim ao Brasil e para o Brasil por motivos totalmente diferentes dos desbravadores patriarcais da minha terra. Agora há distância ainda posso acrescentar que vim re escrever uma outra história no que se refere a uma mulher, ou várias, portuguesas em terras tupiniquins.
Por outro lado, o facto de ter ido com uma bolsa duma conceituada Fundação sediada em Portugal, a Gulbenkina, tive a oportunidade há uns anos atrás duma colega brasileira deste mesmo oficio que é petista, mas vive num condominio fechado e é classe média de boa ( nada contra. só penso que a pessoa precisa de estar ciente dos seus privilégios e não falar de cor e achar que porque vota no PT já está redimida do seu lugar numa sociedade tão desigual porque ainda é explorada a força de trabalho alheia) alerta-me que eu colocar no meu cv que estudei na Lecoq com uma bolsa é coisa de pobre (!?!??!) que cai mal para os avaliadores de projetos e editais. Sem comentários. Ou sim? Essa resalva dela é no minimo mediocre, estreita provinciana, mesquinha, elitista, deesconhecedora da realidade para lá dos muros do seu condominio fechado.
Enfim, tenho levado todos estes anos, desde 1996, a entender minimamente a complexidade da sociedade brasileira fundada pelos meus conterrâneos desbravadores a mando da coroa portuguesa em 1500. Entrttanto passaram-se 200 anos.Agora a responsabilidade do Brasil ser o que é é dos brasileiros. Bora combinar, né mesmo?
Para não me estender, por ora, só posso agradecer a todos aqueles que viram e veem na arte e na escrita um meio para estarmos mais próximos uns d@s outr@s com escuta generosa. Aqui vão alguns nomes de cidadãos deste imenso território ao sul da América: Kaká Werá, Ailton Krenak, Hugo Fulni-ô, Eliane Pontiaguara, Daniel Munduruku - entre outros escritores e artistas indigenas- Djamila Ribeiro, Sueli Carneiro, Renato Nogueira, Carolina Maria de Jesus - entre outros escritores e artistas afro descendentes- Nise da Silveira, Paulo Freire, Márcia Tiburi, Antônio Nóbrega, Roseane Almeida etc, etc, etc.
Estou num imenso território muito rico em termos culturais, espirituais mesmo que tenha aquela sensação que alguns brasileiros não conhecem o Brasil. Cospem na sopa dum território que um dia acolheu os seus antepassados em fuga e que se agarraram à vida para sobreviver, viver e a reconstruir. É mais fino ser eurocêntrico e usar expresões em inglês e francês para se diferenciarem e não esquecerem a sua euro centricidade. OH LA VACHE! C'EST CHIEN ÇA! ( ooops eu também uso estas expresssões em francês quando estou indignada.... Principalmente "Oh la vache!". Ninguém é perfeit@.cof cof ihiih.)
AWO!
A Piu
Br, 05/04/2022
foto: Chapada dos Guimarães, Matogrosso,1996
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