domingo, 31 de dezembro de 2017

TERCEIRA NOITE: A RAIVA E O PODER DAS ESTRELAS E DA LUA

A raiva não era propriamente um sentimento, uma emoção politicamente correta. Assim sendo ainda ficava com mais raiva quando era olhado com desdém por aqueles que, aparentemente calmos, lhe diziam: " Andas muito nervoso. Igualzinho ao teu avô."  Nem nunca conhecera o avô! Ainda mais essa! Fugiu para  a Venezuela deixando a sua avó com quatro filhos pequenos! Sem nunca mais dar noticias a não ser  no fim da vida quando veio pedir para acabá-la no seu lar... A avó submissa assim aceitou. " Assim é a vontade de Deus!". Ele ainda indagou que Deus era esse que ela trazia dentro de si e que a fazia se desrespeitar a si mesma. Isto teria ele 5 anos. Mas depois, com o tempo, depois de ter sido mandado calar cresceu sem limpar os pés antes de entrar em casa e mais velho cobriu tudo o que estava ao seu alcance de cimento. Uma espécie de fobia à terra e à natureza. Isto aconteceu depois desse tal avô de ter sido enterrado pouco tempo mais tarde de lhe terem dito: "Shiuuuuuuu! Aqui criança não tem opinião!!!! Baixa a bola e respeita os mais velhos!" Foi a primeira vez que sentiu realmente raiva. Além de mandarem-no calar disseram que ele não respeitava os mais velhos. Como assim? Ele respeitava muito a sua avó! Ainda demonstrou alguma ira batendo com a porta. Resultado: levou uma sapatada, além dum sermão acerca da feiúra de sentir raiva.

Hoje, homem já crescido, ainda não sabe como lidar com a sua raiva pois desde esse episódio ficou a confusão entre o que é sentir raiva como ato de amor ou como ato de desprezo. Caminhou um pouco. Lavou o rosto num lago cuja água estava estagnada. A sua imagem refletida estava um pouco distorcida. De noite procurou as estrelas. Viu uma estrela cadente, pronuncio de sorte. Tentou agarra-la. Mas as estrelas não se pegam com a mão e sim com a alma. Algumas já nem existem, segundo os cientistas, são o brilho que ainda chega delas à velocidade da luz. Na noite escura, o homem caminhou debaixo do brilho das estrelas que estão, as que estão mas não estão e as que são cadentes. Havia um grande segredo que este ainda estava por descobrir: as estrelas, assim como a lua, iluminam o caminho e movem águas estagnadas diluindo raívas e revolvendo a terra para que o cimento volte a pequenas partículas insignificantes que não passam de máscaras para esconder a nossa própria essência. E a essência é incrivelmente brilhante; duma beleza única.

QUARTA NOITE: O RESSENTIMENTO

A Piu
Br, 31/12/2017

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