quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

O MARIALVA QUE TINHA PERDIDO OS ÓCULOS NO CAMINHO

- Comigo é assim: quando elas acham que estão na minha mão eu... crááááá! Como se faz às galinhas. Mas amam-me. Todinhas. Mas ai que isto e aquilo. E eu? E eu? Eu: cráááá! O amor não se encontra assim de qualquer maneira. Ele vem quando menos se espera. A mim nunca veio. Sou um sujeito solitário, mas a mim ninguém me dá a volta. Aquela ali acha que pode pôr e dispôr, a outra lá escreve muito,  a outra é esforçada mas é melhor ir vender pasteis, a outra faz o meu estilo mas é maluca, a outra e a outra e mais a outra é só para dar umas voltinhas.

- E homens? Marcha algum?

- Euuuuu! Sou macho!!!! Já beijei um no Carnaval porque achei que fosse uma. Bem... eu já tinha bebido um pouco e quis experimentar... Vá!

- E achas que a mulherada ama-te?

- Oh aquela lá armada em estudiosa ama-me obcesivamente. A outra é artista demais para o meu gosto. Menos. Menos. A outra, aqui para nós, fala coisas que eu não entendo então é melhor desprezá-la. Mas todas me amam.

- ' Tás realmente convencido desse teu super heroísmo?

- Super heroísmo? Eu sou o tal, o borracho, o mais  que demais, o gostoso cá do bairro até os homens me chamam machista. O que eles têm sei eu bem!!! INVEJA!

- Sim, sim. Vejo que que 'tás a ir por um bom caminho. Só por curiosidade. Já marcas-te algum encontro amoroso contigo mesmo? Ou melhor não? A ilusão é uma adrenalina. Um analgésico de nós mesmos. Verdade?

- Mau!!!... Queres veres este, mais as suas filosofias e introspeções?!?!?! Deves 'tar carente, mazé!

A Piu
Br, 27/12/2017

José de Almada Negreiros





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