quarta-feira, 22 de outubro de 2014

NOSSA SENHORA DO CALVÁRIO DO PAPELOTE ou SORRINDO DE CHAPÉU COMO ALTERNATIVA À BUROCRACIA VIVIDA NO ÂNIMO DÉRMICO DO SER VIVENTE

quando um papel que já foi entregue e não serve, porque tem de ser entregue e empata a vidinha toda tudo o resto não passam de histórias da carochinha que anda à pergunta do João Ratão que anda à pergunta do chapéu para tomar banho. Um joão Ratão que não sabe ondepôs o chapéu para ser livre de si mesmo mais a carochinha  que só espera pegar o Ratão num flagra. Flagra esse só na cabeça da carochinha!  Encontrar o Ratão com a Cinderela, que coitadinha, perdeu o seu sapatito e agora anda coxa. O melhor será descalçar-se para acertar o passo. Cinderela essa que é muito amiga dos irmãos metralha e do Bafo de Onça, mais da Rapunzel e da Alice no País das Maravilhas.


Enfim, quando a pessoa quer e precisa de trabalhar e há sempre um trâmite que falta tudo o resto são cóceguinhas na axila que vai que não vai  precisa de um pelito ou outro para almofadar o suor do andar de "lá para cá, cá para lá". Aproveitando o embalo da bufoneria qualquer dia cresce-me o bigode! Ahhh! Aí é que vão ser elas! Há-de chegar o dia que de bigode, tal qual Eça de Queirós, direi com o ar coloquial:" Quanto mais dependo do sistema, mas alternativa quero ser" Cantarei depois em falsete a todo o pulmão: "Se eu quero e você quer tomar banho de chapéu ou esperar Papai Noel ou discutir Carlos Gardel, ENTÃO VÁ!  faça tudo o que queres porque é tudo da lei! VIVA! VIVA! VIVA A SOCIEDADE ALTERNATIVA! VIVA! VIVA!"




Olhar 3x4 com a seriedade devida
If you don't worry about the things, every little things gonna be all right


segunda-feira, 20 de outubro de 2014

LIBERDADE DE DUAS ASAS

menina olhando para dentro de onde saem duas asas que compassadas são livres, atravessando o espaço sideral levando a menina pelos dias das horas dos minutos dos séculos dos segundos dos milénios do espaço no tempo atemporal no lugar do não lugar


A Piu
Br, 20.10.2104

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

ODE DOS ALOCADOS

os alocados são deslocados
tresloucados
sorriem quando devem chorar
choram de tanto rir
ficam quando era para ir
dançam para espantar fantasmas
sofrem de asma
quando o ar não flui
e a alma pasma
depois sorriem com bananas
chamam-se Anas
chamam-se Mários
Joões
ele é nomes aos montões

os alocados vão numa só direção
aquela que tem mais de uma bifurcação
os alocados sentem de dentro para fora
borrifam-se um pouco para a forma
a aparência não está na sua essência
são alocados por natureza
como todos!
só que uns assumem
outros não
uma espécie de escuta
que vai da alma ao coração

Ana Piu
Br, 17.10.2014


quinta-feira, 16 de outubro de 2014

CADA DIA É O NOSSO ANIVERSÁRIO

Quando era mais piriri, Isto no século passado do milénio que já lá foi, fazia contas à minha idade no badalado ano 2000. Vinte e seis anos a passar para os 27 no Setembro que naquele ano foi na Primavera e não no Outono, como de costume. À despedida do Verão lisboeta vozes escutavam-se: "Aiiiiii mas o que vais fazer para o Matogrosso! Ter filhos lá tão longe!!".................................. "Há milhares e milhares de anos que a Humanidade nasce e morre em todos os pontos do planeta e a Chapada dos Guimarães é daqueles lugares!...", respondi. Quem nasce torto tarde ou nunca se endireita. Mas também o que é ser torto e ser direito?

Todos diziam, quase todos ao que parece,  que o mundo acabaria no ano 2000. Olha como as coisas são! Nesse ano começava uma vida dentro da minha barriga que quando saiu cá para fora chorei de emoção. Quando voltamos para casa vinha um outro ser do tamanho de uma régua da escola. Cinquenta centímetros com um pé que cabia inteirinho na boca. Naquela noite não dormi, olhando as estrelas feliz. Depois esse ser foi crescendo. Hoje esse ser está do meu tamanho. Sabe o que gosta e não gosta. Tem sentido crítico e também aqueles estereótipos próprios da idade. Nunca esquecer que também já lá tivemos e quantas e quantas vezes somos tão ou mais adolescentes que os adolescentes. Na idade da Nina eu escutava a Elis Regina cantando 'Como os Nossos Pais" do Belchior. Hoje ela escuta Justin Bieber. Gostos. Cresci a achar que mesmo assim nos emanciparíamos um pouco mais, mas contudo, no entanto, todavia não é bem assim. Concluo que sou uma cosmonauta do mundo paralelo (eu e os meus amigos e amigas mais próximas de há uns bons anos) onde o casamento não tem nenhum ou quase nenhum valor e que ter filhos é uma escolha e não um programa certinho de carreira, carro, casa, cachorro e pantufas.  Que o que tem valor é nos valorizarmos realmente uns aos outros e o resto é converseta pendureta e formatações, no meu ponto de vista, caducas.

Educar não é nada fácil, mas também não é nenhum bicho de sete cabeças. Respeitar e fazermos-nos respeitar penso que é a base de tudo. Espero conseguir passar esses princípios tanto para os seres que saíram da minha barriga como para mim. Assim como rir de nós mesmos faz muito bem à barriga, dizem os especialistas, assim como à respiração.

Ana Piu
Br, 16.10.2014


terça-feira, 14 de outubro de 2014

MENINA ESTÁS À JANELA

Esta foto foi tirada em Coimbra no ano da graça do senhor de 1979. Dizem as más linguas que certa vez fiz uma birra tamanha que queria ir ao Portugal dos Pequenitos. Para quem não conhece é a versão very pobreta do Disneylândia, acrescido ao fato de na época os parques temáticos não estarem na moda e este Portugal dos Pequenitos foi construido em pleno regime fascista para enaltecer Portugal Colonial e suas colónias. Enfim, comentários para quê? Volto a sublinhar que sou anti colonialista e anti imperialista convicta. Mas naquela minha infância esplendorosa animada a Heidis, Tom Sawers, Conan o rapaz do futuro, Verano Azul, Sitio do Pica Pau Amarelo brincar às casinhas era no minimo delicioso.

Hoje olho para esta foto e lembro-me da janela do meu quarto de infância e do que estava para lá do lá do lá. Na verdade nunca fui muito caseira, mas gosto de ter a minha casa para voltar depois das caminhadas por aí. Olhar pela janela e colocar o tronco de fora já é sinal que se quer ir ao outro lado do lado de lá do lá.

Em que casas queremos viver? Como queremos viver? Em 1979 Portugal vivia-se alguma esperança. Do Brasil chegava a Gabriela cravo e canela, o Casarão, a Dona Chepa e o glorioso Sitio do Pica Pau Amarelo. Nessa época muitos estavam fora das terras tropicais por motivos óbvios que ainda hoje para alguns é tabu falar. Estavam porque se o fascismo em Portugal entre 1932 até 1974 foi terrível, a ditadura militar brasileira entre 1964 até 1985 foi horripilante. Tão horripilante que muitos ainda não querem falar.

Hoje quero , como sempre quis, viver no Brasil pelo que a música, e outras leituras amadas de Jorges e Verissímos. Não significa que não tenha querido nunca viver no Berlim da Alemanha, na Barcelona de Espanha, no Mindelo de Cabo Verde, na Copenhaga da Dinamarca, no Amesterdão da Holanda. Mas hoje quero viver aqui. E quero muito, mas mesmo muito que a Dilma ganhe. Não sou fã número dela, mas dentro do panorama a sua politica é o mais justo. E quem não acha que melhorou das duas uma: ou é muito esquecido da miséria dos miseráveis ou nunca se deu conta do que é estar desse lado. Aiiii e cansa tanto o pessoal não ter consciência social e politica e só se concentrar no seu dia a dai  fútil e egoísta.


Sim, quero que a Dilma ganhe para que a minha filha que aqui nasceu possa orgulhar-se de aqui viver. Deixo aqui um texto de uma amiga virtual que muito respeito e que sublinha o meu não querer voltar para trás:

a Holanda no seu melhor, ou o paraíso capitalista:

não sei qual foi o critério para escolha/convocatória de cerca de 15 mulheres todas elas com o "rendimento mínimo" cá do sítio... 
Mas tivemos de apresentar esta manhã num edifício pertencente à Câmara de Rotterdam. Posso dizer-vos q era a mais velha mas q haviam 2 senhoras com quase a minha idade. A maioria eram creio q marroquinas pelo tipo de indumentária q usavam.

Foram-nos apresentados os 2 locais para onde iríamos trabalhar caso aceitassemos. Se não o fizessemos teríamos de ter uma justificação bem válida sob pena de perdermos o subsídio. Duas estufas. Uma de vegetais e frutas e outra de plantas.

Trabalhar de 2ª a 6ª das 7 às 17 com uma hora de pausa.
Haverá 3 locais em Rotterdam em se deverá estar cerca das 5.30 da manhã onde passa uma carrinha q leva as pessoas aos respetivos locais.

Um dos locais/estufas foi avisado q é bastante frio.

Contrato de trabalho de 6 meses e evidentemente obrigadas a cumprir todas as regras das respetivas empresas.

Portanto: 9 horas efetivas de trabalho e como toda a gente q aqui trabalha em estufas sabe mais sempre cerca de 1 hora e tal para ser depositadas no mesmo local onde nos pegam... No meu caso de minha casa ao local de "recolha" demoraría cerca de 35 minutos...

Após ouvir tudo, disse q como poderiam verificar pelo uso do rollator e por papeis q levava q provam estar a aguardar operação a um joelho, pensava não reunir os requisitos necessários a ocupar tão honroso lugar para q tinha sido selecionada.

Uma das "palestrantes" veio então ter comigo e recolher os ditos papéis e mandou-me embora. O resto das senhoras ficaram a combinar os pormenores do seu novo trabalho.

No caminho para casa decidi comprar esta máscara (de gato). Acho q a usarei sempre a partir de hoje.



Anita no Portugal dos Pequenitos, Coimbra Portugal 1979


segunda-feira, 13 de outubro de 2014

DESCENDO DO VIGÉSIMO ANDAR

DESCENDO DO VIGÉSIMO ANDAR
As árvores custam a serem vistas. Uma bananeira surge do nada. A bananeira já lá estava, talvez. Nada vem do nada. Ou vem? A tendencia humana é cobrir o que já lá estava. Alguém terá plantado aquela bananeira numa fresta onde o asfalto esqueceu de ir?
O motorista do ônibus é prestável. Falamos de igual para igual. Gosto disso. A cidade é grande. Deixei passar o ponto que devia descer. Volto para trás com um malão. Ao fim deste tempo todo não sei fazer malas... Coloco coisas que não vou precisar e outras que deviam vir ficam para trás.... Mas vamos combinar! Mais vale levar roupa quente do que uma toalha de banho! A toalha de banho pode ser sempre improvisada com a blusa que vai para lavar! Quanto ao frio... Nunca se sabe! E rapar frio!? Caramba! Vai tu que eu não! Afinal sei fazer malas de viajem. Mas são muito incomodas para serem transportadas. Viva a velha mochila de campismo!
Chego ao teatro. "Boa tarde!", falo para o segurança que me abre o portão. "Agora sim é boa tarde!" "Porquê?", pergunto. "Porque você chegou!"
Gosto dessa simpatia que não é forçada. Gosto dessa simpatia que mesmo numa grande cidade, cinzenta tantas vezes acontece.
No final da apresentação há pessoas do público que se apresentam e demonstram que gostaram com um abraço, sorriso e palavras. Gosto muito disso. Não conheço muitos lugares fora do Brasil onde isso aconteça. Principalmente numa grande cidade.
Duas pessoas que conheço nesse dia 12 de Outubro, que no Brasil é dia da criança, dizem que já estiveram em Lisboa. Uma delas uma temporada, outra seis anos a viver. Ambas dizem que gostaram muito e que foram muito bem tratadas pelos portugueses, no caso lisboetas. Fico surpreendida. E eu que acho que os lisboetas são uns malcriadões, mal dispostões. Fico intimamente orgulhosa que dois brasileiros tenham tido essa experiência. Afinal sermos agradáveis uns para os outros não custa nada e não precisamos de ser amigos de longa data. Uma questão de leveza que permite uma vida um tanto mais respirável, mesmo que amontoada de carros e outras poluições externas ao nosso interior.
Não viveria diariamente em São Paulo, mas encheu-me as medidas a possibilidade de ali poder voltar. Para depois voltar para a roça entre cavalos, vacas, gatos, cachorros e passarada.
Ana Piu
Br, 13.10.2014



sexta-feira, 10 de outubro de 2014

LAMPIANDO NAS ESTRADAS DE BOM CAMINHO


Em 2011 nascia Maria Bonita com as suas aventuras e desventuras. Ainda por terras além mar, perto daquela praia mais ocidental da velha Europa. Tentava esticar o pescoço para ver se avistava girafas e outros animais da savana em terras do norte de África. Pareceu-lhe escutar muito ao longe um tucano.  Do outro lado do mar como quem vira um pouco o tronco e a cabeça. Esticou o tronco para norte e viu vikings e vikingas. Ainda pensou refastelar-se na terra das bolas de Berlim, mas o canto do tucano era mais forte. Respirou fundo, passaram-lhe várias nuvens pela vista e pensou:"Ai caraças! Ou eu não me chamo Maria Bonita e não me lampeio daqui para fora e vai tudo num virote!" E assim foi. E assim é! Hoje é Má Ri Bô! Para dar um ar chique e aquela piscadela de olho como quem diz:
" Alto e pára o baile! Oh que eu faço cara de Má, mas que Ri e depois até sou Bô(azinha), mas só depois de fazer Bôôô.Só para ver quem se assusta, mas fica. Só para ver se assusta a si mesma, mas não desiste. Sim, porque isso de ficar e não desistir, de desistir e ficar, de não ficar e de não desistir tem muito que se lhe diga. Mas essa Má Ri Bô! Vou-te contar! Canta que é uma maravilha! Até o avião abana! E quem canta seus males espanta e para a frente é que é caminho! Enfim, vidas!


Este texto foi escrito na sequência das seguintes palavras publicadas on line por uma amiga que por acaso, mas mesmo muito por acaso fomos colegas na terceira classe, aos oito anos. E muito mas muito por acaso (?!) fizemos aquele encontro das emigras agora na última visita a Lisboa. Não estive com muitos amigos que vivem em Lisboa ( está o recado dado eheheh) , mas estive com a Sara que vive com a sua cria em Moçambique. Partilho aqui estas palavras que tanto me emocionaram:


"Há quase dois anos que peguei nas "valises" e arranquei para a maior aventura da minha vida com o meu pequeno criaturo. Depois de aterrar na minha primeira escala (Macau), recebi esta bonita homenagem da minha amiga querida, Susana. Daí, depois de falhada essa primeira tentativa, "abalamos"para Maputo. Apesar de muitas vezes ter posto a hipótese de vir para Moçambique, foi difícil ter-me sentido obrigada a fazê-lo por esse desgoverno que vai dando cabo do meu país numa altura em que a imigração estava a léguas dos meus planos. A raiva já vai sarando, dois anos depois, mas as saudades dos amigos e família nunca vão ter grande solução. E com amigos destes dá para perceberem porquê."


Quanto a mim, também estou praticamente sarada. Não diria da raiva e sim da indignação. Indignada com um país deprimido, chorão, comido pelo neo liberalismo e que no final de contas pouca falta lá faço. Mas isso o que importa?!?! O MUNDO É GRANDE! É ENORME! Desejo que o meu país saia dessa neurose coletiva que nem se dá conta dos recursos que tem e chora muitas vezes de barriga cheia. Agora, deste lado do mar faço coro com a Maria Bonita, aliás Má Ri Bô: " Viva o nordeste e tudo o que o circunda!" Com a salvaguarda que a arma da Má Ri Bô é a sua arte, como os outros que fazem da cantiga uma arma pacifista. Nunca é demais sublinhar esse aspecto da luta.

Ana Piu
Br, 10.10.2014

Dádá, Maria Bonita, Lampião na estrada do Bom Caminho



Má Ri Bô olhando o seu país como se se olhasse ao espelho. Está assustadamente indignada


Demonstra a sua indignação

Má Ri Bô olha no horizonte, livra-se daquela maldita rede e abre a fuga. Isto é liberta-se de si mesma

terça-feira, 7 de outubro de 2014

E O QUE É ISSO DE SER PALHAÇO?


Série n°34 - Nez à nez 
Madagascar 2006 © Pierrot Men



Quando chegamos numa sala, num recinto, numa outra cidade, num outro país e até mesmo num outro Continente o que desejamos profundamente?...............................................
Ser aceites, sermos acolhidos mesmo que não falemos a mesma língua ou mesmo que a falemos tenhamos um modo um tanto ou quanto diferente de nos expressar. 
A empatia pode se dar num simples olhar onde a nossa pupola é refletida na pupila de quem está na nossa frente. Olharmos nos de frente, desfrutar da subtileza de um toque de mão.

No fundo no fundo ninguém quer os demais sintam pena de nós quando numa situação vulnerável nos encontramos. No fundo no fundo o que desejamos é compreensão e um tanto de ânimo. Muitas vezes não queremos rir, mas focarmo-nos juntos no momento presente que é o prazer de estar valem mais de três mil gargalhadas.



















Série n°27 - D'un côté à l'autre
Philippines 2005 © Rima Abdul Malak


Partilhar horas de trabalho com uma plateia ou com um grupo de trabalho é no minimo gratificante, principalmente quando esta valoriza o rigor e a entrega de quem oferece o seu trabalho. Algumas vezes achamos que a nossa presença é imprescindível e temos de engolir em seco que não nos esperavam e que o silêncio demora para que juntos partamos nessa viajem. Outras vezes o impacto que temos sobre aquela pessoa que está do outro lado do vidro, numa hercúlica e longa estadia no hospital é tamanha que perdemos a dimensão do tamanho desse momento. 
Outras vezes a empatia leva tempo a ser estabelecida. Minutos. Horas. Dias. 




Série n°25 - Jeux de miroir
Rwanda 2005 © Pierrot Men


Mas uma mão aberta caba sempre por encontrar outra mão aberta.



Ana Piu
Br, 07.10.2014


Ana Piu: ATRIZ PALHAÇA.

Vive no Brasil. Frequenta a pós graduação de Antropologia Social na UNICAMP/ Estado de São Paulo.  Com o projeto: Na eternidade cabe lá todo o mundo: visita dos palhaços do Grupo Gandaiá a dois asilos de Indaiatuba, no estado de São Paulo - Ana Figueiredo (PPGAS-Unicamp).

Faz parte de um núcleo de mulheres palhaça orientado por Adelvane Neia.
Em 2013 participou do projeto Cria Cores- (Manipulação de bonecos) PROAC. (Circulação – 40 cidades – SP). Cria o grupo de teatro “Balbinas Beduínas” com Denise Valarini, que funde o teatro de manipulação de objetos, marionetes e clown. 

Fez parte dos Doutores Palhaços do Operação Nariz Vermelho entre 2003 e 2011. Leccionou clown  e teatro do gesto no Evoé, na Estal, Fornmação de Atores (Lisboa).

Orientou workhops de Clown em diferentes locais, nomeadamente no Teatroesfera, Mil e uma Danças (Lisboa/Portugal) entre outros.  

Iniciou a sua formação artística em 1991 em curso de actores do IFICT (Lisboa), ingressa em 1992 na Escola de Teatro de Évora. Em 1996/97 é bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian para estudar na École International du Thêatre Jacques Lecoq, Paris.

BRASIL TEM TUDO PARA DAR CERTO, MAS O ÉDEN É UMA CONSTRUÇÃO HISTÓRICA ou VOLTA ÉDENELSON ESTÁS PERDOADO!

"Este país não pode dar certo. Aqui prostituta se apaixona, cafetão tem ciúme, traficante se vicia e pobre é de direita"
Tim Maia
Que a prostituta se apaixone! Porque não? É uma pessoa como outra qualquer! Está no seu direito! Que o cafetão tenha ciúme! Não sei bem o que é um cafetão, mas tá mal! Tá mal ter ciúme! Ciúme é reflexo de insegurança e possessividade! O traficante viciar-se? Oh meu amigo! Quem vai à guerra dá e leva! AGORA O POBRE SER DE DIREITA!?!?! ISSO DEIXA O MEU CORAÇÃO E ALMA DESTROÇADOS! Logo o Brasil que há lugar para todos. Tem um clima fantástico e recursos naturais que vou ali já volto. Mas o Éden, esse malandro! Que se esconde!...
Ana Piu
Brasil, 06.10.2014


OS FILHOS DO EDEN


Eden era um senhor já entradote. Um senhor já com uma certa idade. Amante da jardinagem, cuidava com afinco das espécies que ali vivam em seu belo e imaculado jardim. Tudo ordenado por categorias e espécies Eden podava a natureza luxuriante para que não houvessem cá escondidelas atrás do arbusto.
Ora Edeneia e Edenelson filho, que por ali andavam, muito gostavam eles de catar a fruta madura caída no aveludado chão do jardim. Viviam felizes para sempre. Até que um dia Edeneia disse: "Gostava de ter um lindo vestido de chita para ir aos bailes e poder tira-lo para me banhar num jacuzzi. Gostava de ter uma mansão com jacuzzi e um guarda roupa de perder de vista."
Edenelson andou às voltas. Mordiscou um bolinho de maçã que uma outra Edeneia fizera. A Edeneia primeira andava desconfiada e já dera o ultimato: "Não é uma questão de ciúmes! Mas tens de te decidir! Focar! Ou eu ou ela!" Antes que Edenelson respondesse que as duas tinham o mesmo nome, esta virava-lhe as costas livre e altiva e ainda deixava no ar: "Não venhas com a história que sou possessiva. Por que tu! Basta veres-me a conversar com um dos animais do jardim ficas logo todo emburrado!"
Edenelson pensou. Pensou. Pensou. Abeirou-se da Edeneia e disse:" Eu até curto-te bués! Sinto-me bem ao teu lado. Mas não me peças esses tais de jacuzzis e outras quinquilharias. Gosto da simplicidade em que vivo."
Edeneia sentiu-se ambiguamente feliz, mas era orgulhosa. Não disse nem que não nem que sim. Subiu a uma árvore para olhar o horizonte. Foi expulsa do jardim. Eden não admitia que alguém conhecesse tanto ou mais do que ele.
Hoje, Edenelson e Edeneia podem ser vistos nas estradas do mundo vivendo umas vezes mais felizes outras quase quase felizes, mas sempre de boa. Porquê? Cada um terá a moral desta história!
Quanto ao Eden não se sabe muitas coisas dele. Ninguém mais prestou atenção no seu autoritarismo!
Ana Piu
Br, 07.10.2014
imagem: bonecos de Santo Aleixo

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

ARTE COMO EXERCÍCIO DE CIDADANIA

Muitos perguntarão: " Mas para que serve a arte?" Outros afirmarão que a arte é bem um secundário. Outros ainda dirão que sem expressão artística a nossa identidade se evapora na noite escura sem sonho. Há quem diga ainda que fazer da vida uma obra de arte é O DESAFIO, é A  MISSÃO.
Muitos escolhem ser artistas por diferentes, diversos e variados motivos. Uns porque gostam de ser aves raras, outros porque sonham ter sucesso e serem o centro das atenções, outros ainda porque encontram na arte uma forma de se expressarem. Vamos combinar! É um estilo de vida. Uma escolha. Como todas as escolhas, esta tem um preço. Como quantificar o preço da arte? Lanço então o desafio. A arte não se quantifica, porém viver dela pode ser um caminho tão honesto e necessário como ser padeiro, médico, massagista e outras profissões que alimentam o nosso viver.

Foquemo-nos agora na arte da palhaçaria. O que é isso de ser palhaço? Em poucas palavras não me intimido em afirmar algumas características que o movem: coragem, esperança, inocência, ingenuidade, generosidade, amor, alteridade, aceitação do que está acontecendo no "aqui e agora". O palhaço não tem medo de falhar, aceita o fato de ser falível. Não quer ser o vencedor. A sua vitória é ser vencido, mas não desiste. Quer jogar. Quer se relacionar. É isso. Exercita a escuta e atenção. Não nega as propostas, agindo segundo a sua lógica. Ele É. É politicamente incorreto porque se ri do seu ridículo e de outras ridiculitudes. Ri junto. Ri de si com o outro. Rir do outro é perpetuar relações hierárquicas do melhor é pior. Relações de cima para baixo. Rir do outro é perpetuar preconceito. E perpetuar preconceito é uma violência. As ideias pre concebidas do que é diferente e estranho de nós existem, mas é nosso dever erradicá-las. O palhaço é ético porque pacifista. Ri de igual para igual dos abusos de poder e outras loucuras. O pacifismo é algo que não faz mal nenhum exercitar desde a mais tenra idade. A arte não servirá para isso? Para nos transcendermos? Para sermos melhores seres humanos? Eu gosto de acreditar nisso. Acreditar que as gerações seguintes possam exercitar a sua loucura saudável, levarem a sério não se levarem demasiado a sério. Isso parece-me ser um ato de cidadania. Brincar com respeito ao próximo e a si.  Gosto da ideia posta em ação.


Ana Piu e seus amigos no FIAR (festival internacional de artes de rua, Portugal 2012)



sexta-feira, 3 de outubro de 2014

LÁ FORA O MUNDO

foto: Andrea Constantin
vestido pendurado na janela sobre paisagem verdejante
não se espera
tem-se esperança
não se procura
encontra-se
não se olha
observa-se
não se julga
testemunha-se
não se desvaloriza
filtra-se
não se despreza
olha-se num outro prisma
olha-se
não se subestima
estima-se

vestido de um corpo despendurado da janela  sobre paisagem verdejante

Ana Piu
Br, 3.10.2014


quinta-feira, 2 de outubro de 2014

GOSTARIA/ J' AIMERAIS

Gostaria
Gostaria
De vir a ser um grande poeta
E que as pessoas
Me pusessem
Muitos louros na cabeça
Mas aí está
Não tenho
Gosto suficiente pelos livros
E penso demais em viver
E penso demais nas pessoas
Para estar sempre contente
De só escrever vento

Boris Vian

original:

J'aimerais
J'aimerais
Devenir un grand poète
Et les gens
Me mettraient
Plein de laurier sur la tête
Mais voilà
Je n'ai pas
Assez de goût por les livres
Et je songee trop à vivre
Et je pense trop aux gens
Pour être toujours content
De nécrire que du vent

Sarte, Boris Vian e Simone de Beauvoir

E AGORA O QUE É QUE EU RESPONDO?!?! ou A FORMIGA JÁ TEM CATARRO


"Mãe, gostas mais do avô ou da Dilma?"
Duas quarteirões a rir. Claro!
"Porque é que perguntas isso? O avô não se candidatou."
"Pensei que todos os idosos podiam se candidatar!"
"E qual é a proposta dele?"
"É preciso ter proposta?! Pensei que bastava gostarmos da pessoa!"
Pois, agora é que a porca torce o rabo....
Lembro-me há uns bons anos atrás um tio meu, que obviamente manterei no anonimato, que dizia para o meu avô:"Senhor Mário, agora que vivemos em democracia e podemos votar o senhor Mário deve votar. Mas um voto certo e consciente! Por exemplo, no meu partido." Não vou dizer qual o partido, que não vem ao caso, porém se o pessoal desse partido não fosse tão casmurrito e duro de ouvido as propostas até eram decentes. Igualdade, educação, saúde e habitação para todos. Penso que é decente. No minimo. É isso que desejo honesta e sinceramente para o Brasil. O mê querido paizinho até tem o nome dum ex presidente do Brasil, mas ele num é brasileiro nem eu vou votar. Mas saberia com certeza em quem votar. Não vou dizer, porque o voto é secreto. Por outro lado, voto naqueles que ajudam a democratizar um país, tarefa tão árdua.
Moral da história: gosto muito do meu querido paizinho e tem algumas ideias com as quais eu me identifico. Não sei se seria um bom presidente, mas é um bom pai e avô.
Ana Piu
Br, 02.10.2014