- E o que vai ser, menina?
- Sô Mário! Um copo de três!!#
- Espere um pouco menina. Milia! Oh Emília! Vem cá! Atende aqui a menina!#
-Sim, menina! Uma caixa de farinha 33? Mais alguma coisa? Tás grande! Uma senhorinha!
Tão simpáticos. Que ...casal,
ãããããã? Nem consigo imaginar o homem a bufar-se por todo o lado. Ou
talvez não se bufasse por todo o lado. Talvez se bufasse aos bocadinhos
ou aos bocadões para não sobrar para ele. E do que é que ele se bufaria
num lugar de espírito pouco alimentado? De quem se bufaria? Quem seria
subversivo lá no baile do pinhal onde todos os que fossem fora da
terriola eram corridos “padrada”. “Anda cá a ver sés homem! Levas com
uma lage nos “pêtos” caté a barriga faz PÃ!!. Vens práqui roubar as
mulheres do lugar! Pensas! Qués veri!” Quem seria o iluminado de quem
ele se bufaria? Talvez não precisasse de haver um iluminado. Bastava
dizer:”Isto tá mal! Hoje dividi, outra vez, uma sardinha com a mulher e
os cincos filhos…” ou “ Passa-me aí o sal*(e o sal cai) azar!!” Ele
disse o quê? Sal azar com uma expressão chateada! Epa! Vou dizer! Mais
vale prevenir! Ou alguém diz:”Nas politica é melhor nem nos metermos!”
Aaaah ele disse politica! Vou contar!
Ainda hoje! Politica se
associa com partidos e já não presta. E mesmo em meio
académico/intelectual, PARECE-ME (digam-me que estou enganada!) quando
se precisa de deslegitimar alguém alega-se que fulano é militante.
Porém, basta perceber o que cada um entende por militância. Se Marx
morreu e Cristo também e eu também já não me estou a sentir nada bem…o
que significa ser militante? Posso ser militante da causa solidariedade
e/ou sustentabilidade no geral e no particular sem ser dogmática. Por
isso ser militante não significa ser sentencioso e tampouco querer
vender ideologia.
Bom! Mas voltando ao Mário Novo! Porque
seria ele bufo da PIDE? O que ganhava ele? E amigos? Ganhava? Ou perdia?
Ou simplesmente gostava de ser temido? Ou então gostava de passar por
amigo com um grande sorriso e ZÁS!! Quando menos esperas, o rapaz já
deixou o teu nome escorregar pelos lábios.
Mas o mais
assustador é que a prática de bufice continue até aos dias de hoje.
Camuflado, claro! Politicamente correcta! Claro! De preferência
encontrando argumentos éticos para tal falta de ética. Para tal
desrespeito para com o outro e principalmente para consigo mesmo.
Bom! Again! Voltando ao Mário Novo!... Porque é que ele se desbroncava?
A que propósito? E de quem? Talvez, dentro do panorama de mentalidade
mediavalesca existissem mentes despertas pelo privilégio de mergulharem
na praia existente a 5km de distância. Assim como assim, ele havia mais
que muita gente que ainda não tinha visto o mar mesmo estando a 5 km de
distância. Ou que ir à capital a 15 km de distância era uma epopeia
memrável até ao final dos dias de suas vidas. E mesmo que a mentalidade
roçasse o mediavalesco já haviam viaturas com duas rodas e motor lá nos
idos e próximos anos 50/60. Talvez a falta de curiosidade se
sobrepusesse a qualquer dificuldade financeira ou de outra ordem.
Porém, o que não me deixa descansada não é, realmente, a conduta do
Mário Novo num determinado tempo e espaço. Que a sua alma descanse, se é
que isso seja possível. O que me inquieta são os resquícios de conduta a
la Mário Novo. “ Ah! Mas eu só comentei. Perguntaram-me e eu respondi!”
E de repente quem quer assumir poder, seja em que área for, esfrega as
mãos de contentamento dentro do espírito: “Não estás comigo, estás
contra mim!” E criar intriga é, obviamente, um mecanismo para exercer
poder. E exercer poder não é necessariamente ter de ser boçal. Mas
normalmente…No entanto, hoje para exercer poder convém sempre adoptar
um “espírito” e discurso do politicamente correcto condimentado com
filantropia, de preferência! Vende melhor. E assim continuamos todos
numa relação amigável. “Eu lixo-te, mas amigos como sempre!”
- A
menina quer farinha 33? Pois faz muito bem! Uma farinha que oferece
muitas resistências ao organismo. É tão boa ou melhor que a Pensal! Vai
bem servida! Ah pois vai!
#até há bem pouco tempo a venda da terriola era constituida pela mercearia com a taberna/boteco ao lado
*uma reliquia nos tempos de racionamento, mesmo nos países “neutros”
A piU
BR, 24.06.2012
Sem comentários:
Enviar um comentário