segunda-feira, 25 de junho de 2012

- E o que vai ser, menina?
- Sô Mário! Um copo de três!!#
- Espere um pouco menina. Milia! Oh Emília! Vem cá! Atende aqui a menina!#
-Sim, menina! Uma caixa de farinha 33? Mais alguma coisa? Tás grande! Uma senhorinha!

Tão simpáticos. Que ...casal, ãããããã? Nem consigo imaginar o homem a bufar-se por todo o lado. Ou talvez não se bufasse por todo o lado. Talvez se bufasse aos bocadinhos ou aos bocadões para não sobrar para ele. E do que é que ele se bufaria num lugar de espírito pouco alimentado? De quem se bufaria? Quem seria subversivo lá no baile do pinhal onde todos os que fossem fora da terriola eram corridos “padrada”. “Anda cá a ver sés homem! Levas com uma lage nos “pêtos” caté a barriga faz PÃ!!. Vens práqui roubar as mulheres do lugar! Pensas! Qués veri!” Quem seria o iluminado de quem ele se bufaria? Talvez não precisasse de haver um iluminado. Bastava dizer:”Isto tá mal! Hoje dividi, outra vez, uma sardinha com a mulher e os cincos filhos…” ou “ Passa-me aí o sal*(e o sal cai) azar!!” Ele disse o quê? Sal azar com uma expressão chateada! Epa! Vou dizer! Mais vale prevenir! Ou alguém diz:”Nas politica é melhor nem nos metermos!” Aaaah ele disse politica! Vou contar!

Ainda hoje! Politica se associa com partidos e já não presta. E mesmo em meio académico/intelectual, PARECE-ME (digam-me que estou enganada!) quando se precisa de deslegitimar alguém alega-se que fulano é militante. Porém, basta perceber o que cada um entende por militância. Se Marx morreu e Cristo também e eu também já não me estou a sentir nada bem…o que significa ser militante? Posso ser militante da causa solidariedade e/ou sustentabilidade no geral e no particular sem ser dogmática. Por isso ser militante não significa ser sentencioso e tampouco querer vender ideologia.

Bom! Mas voltando ao Mário Novo! Porque seria ele bufo da PIDE? O que ganhava ele? E amigos? Ganhava? Ou perdia? Ou simplesmente gostava de ser temido? Ou então gostava de passar por amigo com um grande sorriso e ZÁS!! Quando menos esperas, o rapaz já deixou o teu nome escorregar pelos lábios.

Mas o mais assustador é que a prática de bufice continue até aos dias de hoje. Camuflado, claro! Politicamente correcta! Claro! De preferência encontrando argumentos éticos para tal falta de ética. Para tal desrespeito para com o outro e principalmente para consigo mesmo.

Bom! Again! Voltando ao Mário Novo!... Porque é que ele se desbroncava? A que propósito? E de quem? Talvez, dentro do panorama de mentalidade mediavalesca existissem mentes despertas pelo privilégio de mergulharem na praia existente a 5km de distância. Assim como assim, ele havia mais que muita gente que ainda não tinha visto o mar mesmo estando a 5 km de distância. Ou que ir à capital a 15 km de distância era uma epopeia memrável até ao final dos dias de suas vidas. E mesmo que a mentalidade roçasse o mediavalesco já haviam viaturas com duas rodas e motor lá nos idos e próximos anos 50/60. Talvez a falta de curiosidade se sobrepusesse a qualquer dificuldade financeira ou de outra ordem.

Porém, o que não me deixa descansada não é, realmente, a conduta do Mário Novo num determinado tempo e espaço. Que a sua alma descanse, se é que isso seja possível. O que me inquieta são os resquícios de conduta a la Mário Novo. “ Ah! Mas eu só comentei. Perguntaram-me e eu respondi!” E de repente quem quer assumir poder, seja em que área for, esfrega as mãos de contentamento dentro do espírito: “Não estás comigo, estás contra mim!” E criar intriga é, obviamente, um mecanismo para exercer poder. E exercer poder não é necessariamente ter de ser boçal. Mas normalmente…No entanto, hoje para exercer poder convém sempre adoptar um “espírito” e discurso do politicamente correcto condimentado com filantropia, de preferência! Vende melhor. E assim continuamos todos numa relação amigável. “Eu lixo-te, mas amigos como sempre!”

- A menina quer farinha 33? Pois faz muito bem! Uma farinha que oferece muitas resistências ao organismo. É tão boa ou melhor que a Pensal! Vai bem servida! Ah pois vai!

#até há bem pouco tempo a venda da terriola era constituida pela mercearia com a taberna/boteco ao lado
*uma reliquia nos tempos de racionamento, mesmo nos países “neutros”

A piU

BR, 24.06.2012

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