Sexta- Festa Junina. Festa à antiga com chapéus de palha e camisas às riscas, vestidos de flores. Dança-se a quadrilha. A Ninuska é a noiva. ‘Tá feliz e orgulhosa. Dança com o seu par. Apesar de tímida ela gosta de estar no palco. Faço um esforço para me manter na festa. A velha história da enorme caixa de som com um volume altíssimo e a professora falando em cima do microfone aos guinchos, convencendo os pais a gastar dinheiro no bingo, nas comidas e afins. A Flower Power também dança. Tou feliz de vê-las. Tou feliz por elas. Vale o esforço de aguentar aquela estridência durante horas à qual não me consigo habituar e já lá vão uns aninhos de festas nas escolas. Aquela estridência tira-me do sério, faço um esforço para que o meu cavalo selvagem fique mansinho no lugar. Oh cavalo maldito que às vezes se solta e galopa por ali afora! Um cavalo chamado mau génio. Faço um esforço e dou-lhe torrõezinhos de açúcar, mas às vezes o cavalo não quer saber e vai. Fica intolerante com aquilo que considera intolerante e boçal. Ohhh cavalinho vem cá! Não sejas boçal, também! Não sejas boçal com aquilo que achas que é mediocridade. Olha que ficas também medíocre! O cavalo fica manso. É o dia das meninas. Ohhh que investimento este de vir às festinhas da escola!! Quantas sessões no terapeuta poupadas para resolver traumas de infância:”Aaaaahhh a minha mãe não estava na festa quando eu fui de noiva ou de Chiquita Mariquita na festa Junina!”, diz a calmeirona já com 30 anos numa sessão de psicanálise.
Vale o esforço! Mesmo que transporte um cansaço com uma ligeira enxaqueca durante o fim-de-semana todo.
Sábado- mais festa Junina. E uma roda de capoeira e um cabaré no casarão. Rio-me como uma criança da personagem do Ivans. Gosto das coisas estúpidas que diz e faz. Identifico-me e riu-me.Gosto também da personagem da Joana. O outro lá dá-lhe um copinho de quelque chose e sai. Ela bebe e há uma vela na sua frente. Dá um gole. Glu. Glu. Vários momentos de má indisposição, um arroto sobre a vela e Frrrruuuuuum uma grande chama. Gosto de ver uma personagem feminina cuspir fogo dentro dum enredo. Bem esgalhado.
Domingo- bebemos caldo de cana com gengibre na praça do coco. Nham nham Fazia tempo que não bebíamos tal beberaje. De tarde despedimo-nos das duas cachorrinhas que adoptamos durante 20 dias. Damos um passeio pela fazenda que tem o caminho para o ônibus. Exploramos a fazenda à procura da manada. A Mary Flower toda espevitadiça leva um pau para fazer frente à vacaria e aos bois. Assim que avista a dita congregação… Ala que se faz tarde! Não! Brincas!! Invento um jogo perto da cerca: Esperamos que elas se aproximem e á pertinho zarpamos para o outro lado. As bichinhas teem um olhar meigo. Uma delas aproxima-se de nós e mete a língua para fora para alcançar umas folhas da árvore. “Que língua tão grande!”, diz a Florzuska. Penso no belo cozinhado com aquela língua. E logo tenho compaixão do animal. Como posso eu contrariar este gosto que tenho por carne? Não consigo aderir à moda do vegetarianismo, porém quando estou com amigos vegetarianos a carne não me faz falta. Mas prefiro assumir que gosto de carne, do que às escondidas comê-la como se se tratasse dum ato pecaminoso. Acho absurdo! Desculpem amigos vegetarianos, vegans e defensores dos animais se ofendo alguém.
Voltamos para casa e vou assar um frango. Lá dentro vem uma sacola com as respectivas miudezas do animal. Abro: Aaaaaaahhhh! Surpreendo-me com a minha sensibilidade coquete, igual à de quando vejo um rato. Aaaaaahhh! Uma cabeça duma galinha!! Que tétrico!! Lhhhhharrrrrrgaaaaa. Pego na sacolinha e deito-a direto para o lixo.
Hmmmm. Talvez fosse uma estratégia de deixar de comer carne de vez! Visitar mais vezes as vacas e dar de caras com um frango degolado. Coelho já tá fora do cardápio por essas e por outras! A avó a matar o bicho e o fzzzzzzzz do casaquinho do bicho a sair da carcaça…. E o quadro sinistro do bicho na montra do talho/açougue com aqueles olhos esbugalhados e o seu corpito atlético? Llllllllhhhharrrgaaaaaa… Passa a outro. Já não falando dos pombos que esvoaçavam pelo quintal da minha infância e quando poisavam no arroz do meu prato a minha avó dizia que era arroz de pato. “Arroz de pato?!?!? Olha os ossos pequenininhos!! Não me enganas, pá!”
As galinhas também por lá andavam e avó cortava-lhes o pescoço. Nunca tive muita pena delas. Terá haver com o seu olhar, que considero inexpressivo?! Pode ser? Curtia muito ver o meu cão Flash (Gordon) atirar-se para cima da rede da capoeira e elas correrem feitas galinhas tontas às voltas, lá dentro. Ou eu correr atrás delas e as pobres esvoaçarem em círculos em frente à porta e não darem com a entrada e/ou saída. Estúpidas como nós humanos em muitas situações! Mas ver uma cabeça de galinha no momento que estou a preparar o jantar?! Merci, gracias, dank you, passa a outro!!
Hoje o tio fez anos, tentamos ligar mas existe um tal de fax que se antecipa e come os créditos do cartão (um fax!!! Imagine-se!)... Na sexta passada nasceu mais um bebé na família, lá longe. Do outro lado do oceano. Mas não é um oceano que separa ou une as pessoas. Querer bem às pessoas já é “uma passagem para a outra margem”, tal como querer bem aos outros seres viventes. Um destes dias deixo de comer carne de vez!… Mas seria desonesto para comigo fazer uma promessa desta envergadura assim sem mais nem menos, porque tudo o que é forçado acaba cedo.
Bom, por falar em forçar! Volta lá mas é aos textos que tens de ler em vez de estares para aqui com devaneios do có có ró co tidiano!!
A piU
Barão Geraldo, 17 de Junho de 2012
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