sábado, 3 de outubro de 2020

VAMU KI VAMU NO REMELEJO DA QUEBRADA


Cada imagem tem uma história, uma memória repleta dum leque de emoções que talvez nem uma música possa descrever. Agora imagina várias imagens juntas. Mas bom! Propus-me a falar da importância da intimidade, do intimismo, do desejo vinculado à nossa criança interior curada das feridas muitas vezes ancestrais, embutidas no inconsciente coletivo. Vou escrever sem me condicionar pelas regras do instagram. Quem quiser ler aqui no blogue ou no facebook, mesmo que seja só uma pessoa BE-LE-LÊ. Não me tenho proposto a atingir as massas nem a colecionar seguidores. Sou talvez antes da velha das velhas guardas da bicho grilagem. Embora, o objetivo seja chegar ao máximo de pessoas, mas olho no olho. Sentimento no sentimento.
Faz agora 25 anos que trabalho profissionalmente com teatro. O que isso significa? Significa que esta arte, como todas as outras, são profissões que requerem dedicação, trabalho, estudo, pesquisa, escola, seja essa ou não institucionalizada, assim como sermos naturalmente remunerados por isso dum forma digna.
Lá em cima estão duas fotos de 1978, no meu aniversário dos 5 anos. Foi o meu pai quem nos fotografou e atrás de mim estão os meus dois avôs, na frente o meu primo. Esse aniversário é memorável, pois foi uma sessão de cócegas em que ri tanto que lembro até hoje. Esse meu avô foi o primeiro dos quatro a partir. O de blusinha cor de tijolo, bem anos 70. Eu gostava e gosto muito dele. Um menino homem brincalhão e inseguro logo chato com a sua esposa minha avó, quando dava uns goles a mais, que ao que consta um menino homem que não recebeu muitos carinhos na sua infância. Tempos rurais , pontuados de privações e de dureza do trabalho. Tempos muito diferentes daqueles em que nasci e cresci pontuados, mesmo assim, pela liberdade de expressão, democracia, mesmo que duvidosa, e aquele consumo em ascensão dando a sensação às pessoas, no caso portuguesas, que a sua qualidade de vida melhorava, e melhorou claro mas só até um certo ponto. Porque o neo liberalismo é implacável. Por isso ate à data ainda me surpreendo com a sua narrativa, manobras induzindo as pessoas na ilusão e no individualismo que nos trata, ou tenta tratar como gado, rebanho entre um discurso de crise financeira e desemprego e uma otimização no pib e uma curvinha moderada à esquerda. Ai Piu respira e acredita com sinceridade na co criação da tua realidade e manda esse pessoal dançar o fandango.
Eis uma foto dum dos cursos de ator, bem do lado dessas duas fotos de aniversário que rodeiam a central da carinha branca do criado da Mirandolina, sim eu fazia de criado quase mudo meticuloso e amedrontado - o prazer que me dava brincar com o ridículo da subjugação!!! Seja ela a que nível for, mesmo quando somos pegos por essa marafada, a tal da subjugação. Nessa foto de escola estou eu cá em baixo de cabelo curtíssimo, sentada entre a rapaziada. Eu lembro aquelas jovens moças mulheres que se tornaram isotéricas e veganas e com isso se tornaram IN-SU-POR-TÁ-VEIS. ISOSHISTÉRICAS. Porquê? Porque a sua intolerância com quem faz escolhas diferentes de nós ou que já entendeu que é preciso mudar de hábitos, mas isso custa e demora É IN-SU-POR-TÁ-VEL. Na verdade não era esse o caso. Eu sempre fui, talvez ainda seja, a mosca na sopa. Talvez um pouco insuportável... Oooops No ano da graça do senhor de 1992 virem falar de burgueses como sendo os outros, só porque é chique (ahahha chique) ser artista de esquerda não burguês mas com hábitos pequeno burgueses. Ahaha ADORO Até hoje me riu, volvidos quase trinta com esse loucura. Ainda bem que existe a loucura para nos rirmos. Ainda bem que ainda há gente que se diverte com o absurdo de la vida. De la vie, para ficar mais chique choque.
A foto com a cabeleira também é de 1995, é todo um conceito de feminilidade que não poderei deixar de dissertar num próximo texto. Assim como a importância de viajar e apresentar para toda a população sem elitismos bla bla bla status cocorocco. A ultima foto é o resumo deste texto. Viemos para abrir espaço. Ah! Esqueci-me de falar do meu avô Mário, aquele de blusa branca e fumante, com nome de poeta mas um pedreiro de profissão. Técnico da construção de casas para os outros por tuta e meia. Tenho muito orgulho nele porque além de ser meu avô não explorou ninguém, embora tinha sido explorado. Em suma, se o nosso trabalho nos dignifica o valor justo do mesmo ainda mais, dispensando retóricas de cartilha do lalala, somos todos iguais mas há uns mais iguais que outros. . Eheh É BOM RIR. RIR LIBERTA! Principalmente da tal da esquerda que hoje se define como esquerda gourmet engajada pela televisão, mas que não sobe ou desce à quebrada.
Ah! A foto da cortina vermelha foi no auge da crise especulativa neo liberal em Portugal antes da febre individualista e mediática (? perguntar é perguntar) de " Portugal é bom demais", sempre mantendo a pose para não mandar tudo para o ar. Apesar de tudo muitos de nós estamos vivos, com a certeza que um dia partimos, a questão é sabermos intima e profundamente que legado queremos deixar para as gerações futuras. Mesmo assim, gratidão profunda e sincera a Portugal pela sua negligencia para com os seus cidadãos e eleitores que espero que se cure o quanto antes das mentirinhas maquiadas e que comemore com dignidade os 45 anos de independência dos países africanos de expressão lusófona.

Agradeço também ao Brasil que me tem acolhido com a sua profundidade espiritual e de empreendedorismo, mesmo com as tais das mentirinhas e mentironas institucionais. Gratidão honesta e sincera.
Bom, enfim, vamu ki vamu! Façamos cada um e cada uma a nossa parte que a vida sorri e o todo, o coletivo agradece.
Até ao próximo texto!
Beijus
A Piu
Brasil, 03/10/2020

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