Muitas mulheres o admiraram e o amaram pelo seu jeito de menino homem com sorriso e gestos da criança que fora um dia. Mas Macê nem sempre era assim.
O ancião puxou do seu cachimbo e soprou sobre Macê e cantou numa língua muito antiga que resistia às invasões. Cantou que a voz e os gestos devem conter amor, firmeza e o grito e o murmúrio de guerra da paz. Soprou em Macê o espirito do seu povo que cuida e não mal trata. Que honra os antepassados, os pais e os filhos que trouxe ao mundo. Nesse sopro Macê desmoronou-se, caiu sobre o chão e toda sua negatividade saiu em jorros, misturando-se com o húmus junto a uma grande samambaia.
' Não se trate mal nem trate mal ninguém! Muito menos as mulheres que te amaram e que de você geraram filhos. Se os seus povos cometeram injúrias com os nossos não repita essas injúrias. Fechemos o ciclo da violência com a nossa voz, os nossos cantos, com as nossas medicinas. Não permitamos que falem por nós, que nos estudem sem se relacionarem com a nossa gente, sem reciprocidade que traga benefícios para o nosso povo, sem uma relação de confiança que nos conceda a autonomia de sermos quem somos, sem fazer do nosso território um grande pasto e violentarem as mulheres do nosso povo, defendendo que gostam de se misturarem. Macê, é bom nós nos nos misturarmos mas onde há amor e respeito. Não queira mal a ninguém e não crie na tua cabeça que te querem mal. Volte às suas raízes e volte para a casa de saberes dos seus ancestrais. Nós somos povos guerreiros, guardiões da grande natureza e você faz parte dela assim como os seus descendentes."
Em silêncio, Macê ficou um longo tempo abraçado a essa grande samambaia sentido a verdade que vinha da força do núcleo central da terra, escutando a voz anciã que habitava dentro dele mesmo.
dedicado a Macê ( nome fictício), meu ex companheiro
A Piu
Brasil, 25/10/2020
imagem: criança yanomami - Claudia Andujar
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