sexta-feira, 9 de outubro de 2020

QUIS SABER QUEM SOU E O QUE FAÇO AQUI - série de corpo e alma com espírito


 Dando continuidade aos textos sobre este oficio teatral, que além de requerer estudo e aprofundamento é uma profissão, na comemoração dos 25 anos de atriz profissional e os 31 de amante e amadora desta expressão artística abro aqui uma série de textos, que promovem a leitura e a democratização dos saberes e conhecimentos nesta incrível ferramenta tecnológica internáutica, cibernaútica, cosmonáutica. 

Esta série tem como objetivo refletir sobre  o que é o meu, o nosso corpo, no caso feminino na sociedade - principalmente latina, embora  não goste muito dessa definição de latina porque hegemónica, mas por ora a usarei até criar um neo logismo - e na cena performática, dentro das linguagens que obviamente desenvolvo. 

Primeiramente.... ihihih bora ao que interessa! Fora e dentro da nossa bolha. Um dos maiores desafios nos últimos anos, principalmente depois da minha chegada ao Brasil, tem sido perceber qual a feminilidade que me diz respeito como portuguesa, nascida e crescida em simultâneo com a queda do fascismo e os passos curtos, mais largos e retrocedidos dessa jovem menina mulher que é a democracia. Como estou no Brasil devo lembrar que mesmo assim a ditadura que aqui se viveu acabou (?) quando eu tinha por volta de 11 anos. Naturalmente a minha vivência será muito diferente de muitas mulheres brasileiras que nasceram e cresceram na terra da Carmen Miranda ( que nasceu em Portugal e veio com dois anos), da Leila Diniz ( a carismática atriz e provocadora brasileira que morreu prematuramente, mas talvez isso a tenha salvo de muitos mais dissabores desses anos de chumbo tropicais).

Nós portuguesas, pelo menos até à minha geração, temos sido educadas para sermos mosquinhas mortas, cheias de " ai credo!", abrutalhadas ou atrapalhadas no que se refere à sensualidade, à sedução. Não, não fomos educadas desde os tempos mais remotos para expressar a nossa feminilidade duma forma livre, alegre, brincalhona, saudável. Aliás! Muitos machos alphas menosprezam-nos achando mais graça ao exotismo das "colonizadas", por isso objetificadas. 

Assim sendo, vou finalizar este primeiro texto legendando-o do canto inferior direito até chegar no canto superior esquerdo. Isto é, da direita baixa para a esquerda alta como se designa no palco:

A primeira foto que é a última cronologicamente falando trata-se da palhaça Bell Trana de Tall, naturalmente anti fascista, numa situação de em vias que a modos que no canal da via de emancipação que é assumir na totalidade o seu corpo, a sua gestualidade e a sua LIBERDADE DE SER E ESTAR invocando homens, mulheres e outres géneros que se prestam a erradicar o machismo, a misoginia, a xenofobia, o classismo e outras fobias. Anti fascismo não rima nem com machismo, transfobia, xenofobia e o culto exacerbado do ego que acha que os outros seres estão ali para nos servir sem vontade própria muito menos almejo de amorosidade e amor. Já não falando do tal do menino respeito quer nos identifiquemos ou não com as escolhas alheias.

A foto seguinte tem vinte anos, sou eu mesma também com uma bandeja fazendo de escudo. Essa foto dá sequência aquela onde está o elenco todo, unicamente masculino, com o querido diretor John Mowat . Naturalmente é uma paródia aos homens viscoses que assediam as mulheres. Para mim é uma honra acreditar que existem homens que estão dispostos a se reverem e a parodiar com os pequenos grandes machismos do dia a dia do quotidiano da rotina. 

Depois vem uma foto duma personagem matrafona que fiz no primeiro trabalho profissional. Uma verdadeira roliçona. Ela não é propriamente abrutalhada e sim tem uma relação com o seu feminino de brincar com inocência sem se preocupar em ser a a gostosona, conceito distorcido por uma mentalidade que objetifica a mulher e a torna um troféu descartável. 

Já a foto da direita alta é uma foto de exercício de escola dirigido pelo professor belga Alan Legros em cima de " Berenice" de Racine. Foi dos poucos trabalhos em que trabalhei a sensualidade e suas respirações duma forma sublime e descolonizada, invocando o desejo e a paixão alinhado ao corpo com alma e com espirito.

Até ao próximo texto que falarei sobre os bigodes no feminino e a sua importância na desconstrução da essência do ser social, cultural, espiritual e tal e tal. 


A Piu

Br, 09/10/2020


Sem comentários:

Enviar um comentário