quinta-feira, 15 de outubro de 2020

MANO A MANO COM O ROMANO - quando as fichas pedem para cair




Romano vinha dum povo que se encontrava num enclave entre terras e continentes. Uma terra com recorte de bota. Uma bota que caminha sobre o mar, sobre as águas. E o que são as águas se não os sentimentos? E o que é a terra se não o enraizamento que atravessa a crosta terrestre até chegar ao núcleo central, essa grande bola de fogo filha do sol? Há muito desconectado do céu, mar de estrelas e mistérios cómicos que se revelavam para aqueles que confiam numa energia maior que os dias sucedidos de maratonas, batalhas e conquistas ora bem sucedidas ora frustradas. 

Romano talvez nunca tinha conhecido uma Celta, tataraneta de Lilith aquela que foi à sua vida quando não se subjugou a Adão e lhe disse com todas as letras que ele sim vinha dum ventre feminino fecundado pela grande via láctea e que essa história dela vir da sua costela era pura vaidade sua e desejo de controle. Já não falando que Lilith acreditava no toque de pele como um diálogo e não como se ela fora uma marioneta para satisfazer os instintos mais básicos de Adão. Lilith foi pelo mundo e levou essa sabedoria a muitas mulheres, mesmo que estas fossem perseguidas elas manteriam esse segredo da sua força de poder, a que batizaram de kundalini. 

Romano talvez quisesse conhecer todos esses mistérios que guarda uma mulher como Celta. Porém, habituado a invadir terras alheias para as conquistar e fazer delas um Império escapou-lhe a informação dos códigos de conduta e liberdade de Celta e do seu clã. Códigos esses, que tinham a ver com  a escolha dos seus parceiros quando sentiam firmeza e respeito da parte destes. Além disso, Romano, sabe-se lá porquê, achava que todas as mulheres eram bobinhas que não havia sequer uma que o sacasse à distância. Então, regozijava-se com as mentirinhas, as intriguinhas que o mesmo criava para si confundindo os demais ao ponto daqueles que confiavam nele não poderiam acreditar que fosse realmente possível.  Muitas vezes tomavam o seu partido por desconhecerem a versão ou as outras versões do outro lado. 

Foi nessa época que Romano tornou-se amigo de Suevo, eram como irmãos. Suevo voltara aquela terra para re encontrar Celta, desde a primeira vez que se encontraram nesse campo de girassóis que tinha virado um campo de batalha. Mas Celta já partira desde a chegada do povo de Romano. Romano também queria encontrar Celta. Não se sabe ao certo se para fazer dela um troféu, uma conquista carnal descartável ou se inconscientemente inspirar-se nessa liberdade interior que há muito perdera e esquecera-se como era. Romano sentia saudades de si mesmo, da criança espontânea e inocente que fora um dia. Só que o habito de invadir sem pedir permissão em chegar suavemente e perseguir estava tão presente que mesmo sabendo que a ética é uma prática que deve superar a teoria aquilo era mais forte que ele. Queria entender ou chamar a atenção duma forma distorcida. 

O seu povo já se apropriara de todo o conhecimento do povo de Grécia, com a diferença que a democracia grega deu lugar ao Império Romano. Até hoje Grécia dança com os dedos para Romano quando este cita filósofos gregos mas só cita. E Grécia pergunta: E a ética? E a vida? E a liberdade?

Verdade seja dita, que Grécia vinha duma democracia onde haviam escravos e as mulheres nãos eram consideradas cidadãs da Pólis. Porém os tempos mudaram e Romano tinha de entender que nem as mulheres, nem os homens - principalmente aqueles que gostam dele como Suevo e até mesmo Galego- não são nem bobinhos nem pau para toda a obra. 

No próximo texto falarei de como Suevo entendeu que uma mulher é como uma rosa, os espinhos são para lembrar que esta deve ser segurada com delicadeza e cuidado para que as pétalas se mantenham lindas e exuberantes. Uma mulher exuberante não significa que seja vadia. Suevo chegará à conclusão, talvez com Romano, que há milênios que os homens reprimem a exuberância do feminino, relegando-o a algo pecaminoso logo desprezível. Por fim, respirarão de alívio quando encontrarem dentro de si a sua energia criativa que celebra a vida caindo as máscaras das inverdades. E se eventualmente invocarem Celta com o devido respeito, talvez esta surja por detrás das montanhas. 


A Piu

Br, 15/10/2020

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