terça-feira, 27 de outubro de 2020

ABANANDO DESDE AS IDEIAS E A ALMA- RITA, A ROCKEIRA FEMINISTA


 Chata

Chata
Chata
Tão boazinha
Tão certinha
Tão discreta
Tão correta
Tão modesta
Tão honesta
Tão decente
Tão boa gente
Tão cordata
Tão sensata
Tão tão tão
Tão tão... chata, chata
Tão chata, chata
Chata, chata
Tão chata, chata
Tão risonha
Tão idônea
Tão sincera
Tão galera
Tão normal
Tão legal
Tão jovem
Tão nobre
Tão dotada
Tão centrada
Tão tão tão
Tão tão... chata, chata
Tão chata, chata
Chata, chata
Tão chata, chata
Tão gentil
Tão servil
Tão segura
Tão doçura
Tão cristã
Tão irmã
Tão na luta
Tão enxuta
Tão grata
Tão exata
Tão tão tão
Tão tão... chata, chata
Tão chata, chata
Chata, chata
Tão chata, chata
Cha-cha-cha-cha-chata
Cha-cha-cha-cha-chata
Cha-cha-cha-cha-chata
Tão boazinha
Tão certinha
Tão discreta
Tão correta
Tão modesta
Tão honesta
Tão decente
Tão boa gente
Tão cordata
Tão sensata
Tão tão tão
Tão tão... chata, chata
Tão chata, chata
Chata, chata
Tão chata, chata
Chata, chata

Rita Lee - Tão




Todas, todos e todes sabemos que a Rita é a p...ra louca ela é veio abanar as estruturas mentais e da alma. Ela é uma politicamente incorreta do bem!!! Ei sso faz também ser tão galera.!!! Ihihih  Vejam ela ri-se da antítese dela mesma que é também ela!!! Ri-se da sua antítese e da sua síntese. Quem conhece a biografia desta monstra do rock e também do pop sabe que ela é exemplo e não é para ela mesma e para todas e para ninguém. Ela é centradamente desconcertada, também é cintura e e enxuta e já foi tão cristã e tão irmã. Discreta não é, mas é doçura. Rita vem abanar as estruturas da bela, recatada, do lar ou não, politicamente correta e até espiritualmente elevada nos seus juízes de valor, como a Rita e como nós todos. Ela faz uma música sem mencionar quem é a chata. E isso é incrível, ético e ao mesmo tempo provocador. Quem não conhece uma chata? Quem nunca foi chata? Quem se chateia com as chatas? Quantas chatas nós já chateamos? A RITA É DIVERTIDA , É UMA MENINA OÇA MULHER ANCIÃ, E TOCA NAQUELE NERVINHO CENTRAL. IHIHIH

O ESTADO DE PALHAÇA NÃO SERÁ UM ESTADO ROCKEIRO DO BEM?

VIVA O ROCK E O RISO!!! PODEM SER EMANCIPATÓRIOS!

A Piu 
Br, 27/10/2020

Curta a página " AR DULCE AR" e se puder, quiser, se se tocar apoie este projeto de palhaçaria feminina sobre relações abusivas. https://www.facebook.com/AR-DULCE-AR-162965127817209/

domingo, 25 de outubro de 2020

MACÊ - um ser de luz e sombra como todos nós


Macê precisava de voltar a casa, às suas raízes e aconchegar-se no grande espirito da floresta para se lembrar quem ele ainda era e sempre foi. Andara meio que perdido no mundo levando dentro de si a dor do seu povo carabinado, violentado, desrespeitado. 

Muitas mulheres o admiraram e o amaram pelo seu jeito de menino homem com sorriso e gestos da criança que fora um dia. Mas Macê nem sempre era assim. 

O ancião puxou do seu cachimbo e soprou sobre Macê e cantou numa língua muito antiga que resistia às invasões. Cantou que a voz e os gestos devem conter amor, firmeza e o grito e  o  murmúrio de guerra da paz. Soprou em Macê o espirito do seu povo que cuida e não mal trata. Que honra os antepassados, os pais e os filhos que trouxe ao mundo. Nesse sopro Macê desmoronou-se, caiu sobre o chão e toda  sua negatividade saiu em jorros, misturando-se com o húmus junto a uma grande samambaia.

' Não se trate mal nem trate mal ninguém! Muito menos as mulheres que te amaram e que de você geraram filhos. Se os seus povos cometeram injúrias com os nossos não repita essas injúrias. Fechemos o ciclo da violência com a nossa voz, os nossos cantos, com as nossas medicinas. Não permitamos que falem por nós, que nos estudem sem se relacionarem com a nossa gente, sem reciprocidade que traga benefícios para o nosso povo, sem uma relação de confiança que nos conceda a autonomia de sermos quem somos, sem fazer do nosso território um grande pasto e violentarem as mulheres do nosso povo, defendendo que gostam de se misturarem. Macê, é bom nós nos nos misturarmos mas onde há amor e respeito. Não queira mal a ninguém e não crie  na tua cabeça que te querem mal. Volte às suas raízes e volte para a casa de saberes dos seus ancestrais. Nós somos povos guerreiros, guardiões da grande natureza e você faz parte dela assim como os seus descendentes."

Em silêncio, Macê ficou um longo tempo abraçado a essa grande samambaia sentido a verdade que vinha da força do núcleo central da terra, escutando a voz anciã que habitava dentro dele mesmo.


dedicado a Macê ( nome fictício), meu ex companheiro

A Piu

Brasil, 25/10/2020


imagem: criança yanomami - Claudia Andujar

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

O MARAVILHOSO MOVIMENTO DE OLHAR PARA O OUTRO COMO PROTAGONISTA DA SUA HISTÓRIA

 O meu nome é Piu. Como o som dos pássaros. Ana Piu. Na verdade quem oficializou o meu apelido de Piu, foi a querida Natércia, produtora cultural já falecida, e que coincidentemente fizemos uma turnê de teatro pelo Matogrosso. Entre vários lugares, apresentamos na aldeia Bakairi no ido ano de 1999, onde dormimos numa escola abandonada construída se a memória não me falha por jesuítas. Somos portuguesas. Bem, a Natércia nasceu no Ceará/ Brasil em 1935, mas fez a sua vida toda em Portugal. Não é motivo nem de vaidade nem de vergonha ser portuguesa ou deixar de ser. É um facto. E como somos sujeitos, sujeitas e sujeites históricos temos a possibilidade agir no tempo e no espaço. A Natércia foi uma militante defensora de justiça, igualdade e direitos dos trabalhadores e que chegou a ser presa várias vezes já na democracia, quando o neo liberalismo afiava as garras em prol duma união europeia onde os interesses económicos falavam mais alto. Chegou a me dizer que entre uma prisão e outra nunca quis fugir de Portugal, pois acreditava nos seus princípios e era lá que deveria estar e não fugiria como uma cobarde. Quem tu ' cu bardia'  tem medo, quem tem utopia voa mesmo quando tentam aprisionar. Tiro o chapéu a pessoas assim e nelas eu me inspiro, embora sem as romantizar ou idolatrar. Mas eu não vim aqui falar da Natércia, que se fosse viva faria este ano 85 anos.

Vim inicialmente expressar o  meu profundo agradecimento a todos os encontros profundos de troca, escuta e aprendizagem que tenho vivido no Brasil principalmente desde 2012, que foi quando me mudei definitivamente para cá. Que território instigante pela sua diversidade! Mesmo vivendo aqui há oitos anos e tendo uma filha brasileira desde o inicio deste século e milénio eu não vou nem quero negar a minha origem e o território que me viu nascer e também fez crescer, ao ponto de a um dado momento já me sentir um tanto ou quanto apertadinha nesse quintalito à beira mar plantado que se chama Portugal, e que em uma dada época foi denominado de Lusitânia.

A primeira vez que eu tive uma espécie de descarga elétrica desde o cérebro até ao dedão do pé, foi quando me veio parar à mãos um livro de capa preta, da Companhia das Letras, organizado pela antropóloga Manuela Carneiro da Cunha com 27 historiadores e antropólogos dum grupo de estudo da USP. " História dos Índios no Brasil. Encontrei esse livro numa biblioteca libertária no interior de Portugal. Essa descarga elétrica deveu-se ao facto de nunca me ter sido apresentado esse lado da História, nem na escola nem em lugar nenhum. Fiquei profundamente impressionada por constatar que quando não se contemplam e escutam todos os lados a História que nos é contada tem um monte de inverdades, mentirinhas e mentironas, manipulações e conveniências perversas. Devo dizer que a Manuela Carneiro da Cunha, que tive a oportunidade de assistir a uma aula dela, é portuguesa. Assim como o João Salavisa, co realizador do filme " Chuva é cantoria na Aldeia dos mortos" falado praticamente todo na língua dos Krahô e legendado, é português. E este filme realizado por uma mulher branca paulista e paulistana e contou com o apoio do Instituo Camões, ICA - Instituto de Cinema e Audiovisual, ambos pertencentes ao Estado português. É no mínimo justo e digno que assim seja para que os encontros e as trocas sejam respeitosas, criando vínculos de  confiança e alguns reparos, mesmo que ainda pequenos diante do que tem acontecido nos últimos 500 anos. O filme é incrível, tem uma fotografia que é como pintura.

Hoje é a abertura do incrível festival de documentário DOCLISBOA que está na 18° edição. A sessão de abertura será com o filme do realizador português José Barahona: Nheengatu- A Língua da Amazónia. Ótimo! Com esta me despeço, principalmente dos brasileiros e brasileiras chatos e chatas que desconsideram os indígenas, achando que são estorvo ou que já nem existem, ou os exotizam e os olham com paternalismo querendo vir dar lições de moral a alguém só porque tem nacionalidade portuguesa. " Vocês vieram-nos (?!?!?!?)" colonizar. Ihihih É melhor rir do que chorar, mas o que é facto é que a colonização e o genocídio a esses povos ainda está em curso e não houve ainda um único governo brasileiro que deixasse de ser responsável por isso. 

Com esta me vou e me fico para continuar a assistir ao seminário de escritores e escritoras indígenas. Muito bom os brancos abraçarem a causa e produzirem artística e intelectualmente como esses povos, mas agora quero ir na fonte e estar ao serviço do que puder apoiar, sem exotismo nem paternalismo e sim com humildade para absorver as suas vozes e silêncios.


A Piu

Campinas, SP 22/10/2020

 

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

MANO A MANO COM O ROMANO - quando as fichas pedem para cair




Romano vinha dum povo que se encontrava num enclave entre terras e continentes. Uma terra com recorte de bota. Uma bota que caminha sobre o mar, sobre as águas. E o que são as águas se não os sentimentos? E o que é a terra se não o enraizamento que atravessa a crosta terrestre até chegar ao núcleo central, essa grande bola de fogo filha do sol? Há muito desconectado do céu, mar de estrelas e mistérios cómicos que se revelavam para aqueles que confiam numa energia maior que os dias sucedidos de maratonas, batalhas e conquistas ora bem sucedidas ora frustradas. 

Romano talvez nunca tinha conhecido uma Celta, tataraneta de Lilith aquela que foi à sua vida quando não se subjugou a Adão e lhe disse com todas as letras que ele sim vinha dum ventre feminino fecundado pela grande via láctea e que essa história dela vir da sua costela era pura vaidade sua e desejo de controle. Já não falando que Lilith acreditava no toque de pele como um diálogo e não como se ela fora uma marioneta para satisfazer os instintos mais básicos de Adão. Lilith foi pelo mundo e levou essa sabedoria a muitas mulheres, mesmo que estas fossem perseguidas elas manteriam esse segredo da sua força de poder, a que batizaram de kundalini. 

Romano talvez quisesse conhecer todos esses mistérios que guarda uma mulher como Celta. Porém, habituado a invadir terras alheias para as conquistar e fazer delas um Império escapou-lhe a informação dos códigos de conduta e liberdade de Celta e do seu clã. Códigos esses, que tinham a ver com  a escolha dos seus parceiros quando sentiam firmeza e respeito da parte destes. Além disso, Romano, sabe-se lá porquê, achava que todas as mulheres eram bobinhas que não havia sequer uma que o sacasse à distância. Então, regozijava-se com as mentirinhas, as intriguinhas que o mesmo criava para si confundindo os demais ao ponto daqueles que confiavam nele não poderiam acreditar que fosse realmente possível.  Muitas vezes tomavam o seu partido por desconhecerem a versão ou as outras versões do outro lado. 

Foi nessa época que Romano tornou-se amigo de Suevo, eram como irmãos. Suevo voltara aquela terra para re encontrar Celta, desde a primeira vez que se encontraram nesse campo de girassóis que tinha virado um campo de batalha. Mas Celta já partira desde a chegada do povo de Romano. Romano também queria encontrar Celta. Não se sabe ao certo se para fazer dela um troféu, uma conquista carnal descartável ou se inconscientemente inspirar-se nessa liberdade interior que há muito perdera e esquecera-se como era. Romano sentia saudades de si mesmo, da criança espontânea e inocente que fora um dia. Só que o habito de invadir sem pedir permissão em chegar suavemente e perseguir estava tão presente que mesmo sabendo que a ética é uma prática que deve superar a teoria aquilo era mais forte que ele. Queria entender ou chamar a atenção duma forma distorcida. 

O seu povo já se apropriara de todo o conhecimento do povo de Grécia, com a diferença que a democracia grega deu lugar ao Império Romano. Até hoje Grécia dança com os dedos para Romano quando este cita filósofos gregos mas só cita. E Grécia pergunta: E a ética? E a vida? E a liberdade?

Verdade seja dita, que Grécia vinha duma democracia onde haviam escravos e as mulheres nãos eram consideradas cidadãs da Pólis. Porém os tempos mudaram e Romano tinha de entender que nem as mulheres, nem os homens - principalmente aqueles que gostam dele como Suevo e até mesmo Galego- não são nem bobinhos nem pau para toda a obra. 

No próximo texto falarei de como Suevo entendeu que uma mulher é como uma rosa, os espinhos são para lembrar que esta deve ser segurada com delicadeza e cuidado para que as pétalas se mantenham lindas e exuberantes. Uma mulher exuberante não significa que seja vadia. Suevo chegará à conclusão, talvez com Romano, que há milênios que os homens reprimem a exuberância do feminino, relegando-o a algo pecaminoso logo desprezível. Por fim, respirarão de alívio quando encontrarem dentro de si a sua energia criativa que celebra a vida caindo as máscaras das inverdades. E se eventualmente invocarem Celta com o devido respeito, talvez esta surja por detrás das montanhas. 


A Piu

Br, 15/10/2020

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

A EMOÇÃO DE LIDAR

 Os diminutivos são lixados. São ou não são? " Ai que bonitinho!", " Que velhinho tão fofinho!", " " Fica boazinha!", " Eu ajudo muito os pobrezinhos." Já não falando daquela música rock português 80's: " Ou tás quietinhos ou levas no focinho!" que se traduz no Brasil como: " Ou você fica quietinho ou você apanha no focinho"... É basicamente a mesma coisa. Sendo que aparentemente nós humanos não temos focinho e sim rosto com nariz, boca e olhos. Muitos consideram que nós somos os únicos animais racionais, embora possamos cometer algumas irracionalidades. Passo a dar um exemplo, que foi o que me trouxe aqui com a devida autorização duma querida amiga que me contou esta história da sua ilustre irmã, que acredito que essa amiga não quererá de deixar de ser irmã da mesma por este e outros eventuais episódios. A questão é que estão num patamar de entendimento sobre aqueles dois propósitos de vida universais: nós viemos aqui para servir ao todo naquela expansão de consciência nova era ou viemos para nos servir única e exclusivamente a nós mesmos, naquele swing do individualismo new age? 

Diz a irmã dessa amiga assim para ela: " Olha só que tão bonitinha, a minha faxineira! Ela prefere ir vender bolos do que receber o auxilio emergencial!" Pessoal, malta que não está habituada a este tipo de mentalidade: ISTO EXISTE E É O PÃO NOSSO DE CADA DIA! E quem  reagir de pronto ou tentar  explicar que o auxilio emergencial é um direito que deveria atender a todos por variadíssimos motivos: para as pessoas evitarem o contágio nos seus trabalhos já precarizados, para as pessoas que trabalham como prestadoras de serviços nas mais variadíssimas áreas, e que muitos contratos estão suspensos pela situação atípica atual, É ROTULADO DE COMUNISTA A ESTA ALTURA DO CAMPEONATO! Ehehehe Ah! Imagina se dissermos à pessoa que se ela acha bonitinho a sua faxineira não recorrer ao auxilio emergencial porque é que a mesma, que é funcionária pública num órgão federal com todos os benefícios salariais e fiscais que isso possa ter nem que seja a segurança de ter um emprego talvez até vitalício, não aumenta o salário da sua faxineira e diminui a carga horária da mesma para que esta não se exponha tanto nos transportes públicos com a probabilidade de levar o vírus de casa em casa de cada patroa? 


Ah! Mas isso é impensável! Sim! Porque ela precisa de trabalhar e não tem como limpar a sua casa! Ok! Se ela precisa de trabalhar para ganhar a vida e se o seu trabalho é valorizado, porque é que o da faxineira não há de ser valorizado com dignidade e a senhora funcionária pública juntamente com o seu marido, se esta for casada, partindo do principio que a mesma é hetero, limpam e ordenam a sua habitação de quando em vez. Isso faz muito bem à saúde: limpar e ordenar o nosso próprio espaço sem esperar que a faxineira ou a esposa que também trabalha o faça. Enfim, fica aqui a reflexão. 

Essa questão do valor do trabalho e quem o exerce, se é mulher se é homem ou outro género dá pano para mangas. Aí voltamos lá acima aos propósitos de vida: se viemos para dar as mãos uns aos outros porque estamos juntos nesta aeronave que o planeta terra, ou se achamos que somos as tais e os tais que é mesmo assim  cada um por si em beneficio próprio, achando que a existência e o trabalho da outra pessoa não é passível de apreço, de valorização que talvez até nem seja trabalho. 

No meu ponto de vista, a questão já nem é se a pessoa é privilegiada ou não. Na realidade esse termo de privilegiado nunca o escutei tanto como no Brasil. Pudera! É dos países mais desiguais do mundo. Mas já que existem seres que tem acesso ou a oportunidade de ter acesso a saneamento básico, a saúde, a comida, a habitação digna, a informação de qualidade, a educação popular que desconstrói narrativas que são meramente para servir sim meia dúzia de privilegiados, ´porque não compartilham esses " privilégios", essas oportunidades de sermos mais seres humanos ligados pelo racional, mas também pelo afeto.

Olhem, eu tenho agradecido muito a oportunidade de estudar a arteterapia. Encontrei nessa área a mistura fina que procurava há anos: arte e saúde para levar ao máximo de pessoas, através da arte, a oportunidade de aprofundar no auto conhecimento como um caminho de cura.

Obviamente que estou a mergulhar no trabalho da Nise da Silveira, uma mulher brasileira médica e pioneira no movimento anti manicomial e que conversa com praticidade com  Carl Jung. Que vem revolucionar com a sua emoção de lidar com as pessoas, ao invés de lhes dar electro choques e coisas assim e tal, muito ruim e muito mal. Ela era uma mulher privilegiada, porque pode estudar medicina numa época em que ela era a única mulher. Filha duma pianista e dum professor de matemática. Mas nem por isso deixou de ser leal aos seus princípios até ao final da sua vida, mesmo tendo sido presa durante 18 meses e afastada da profissão quase uma década entre os anos 30 e 40 durante o governo do ditador populista Getúlio Vargas. Para ela não deveriam haver classes sociais, toda a gente deveria ter direito a uma vida digna. Todos sem exceção! Os que estão dentro da caixinha, os que estão fora, os que estão dentro e fora. E o que caixinha é essa? Alguns saem da caixinha quando o afeto é esquecido. E todos e todos no fundo precisamos de dar e receber afeto sem "inhos", porque no momento que a irmã da minha amiga achou bonitinho não recorrer ao auxilio emergencial esqueceu que a sua irmã recebe esse mesmo auxilio. Por essa ordem de ideias a insensibilidade é que é sim "feinha".

Deixemos-mos, então, afetar pelo afeto ao invés de andarmos afetados com as nossas ( salvo seja) maniazinhas meritocratas. Lidar com afeto com os meritocratas também é uma emoção que requer despojamento de cinismo. Já que o que nos incomoda nos outros diz algo de nós, não necessariamente o mesmo. Isto é, o que precisamos de trabalhar dentro de nós para manter a lucidez do afeto, mesmo quando escutamos ou assistimos a algo que nos possa tirar do eixo. Voltar ao eixo é o grande desafio; Enfim, já é mais que tempo de nos cair a ficha que tudo isto é uma grande mandala com outras mandalas interligadas de geometria cósmica.

Ah! A emoção de lidar é uma expressão da Nise da Silveira, mulher inspiradora e muito corajosa por enfrentar uma lógica de agressividade exercida por médicos e psiquiatras do seu tempo. Mudemos a página DOS TEMPOS COM AFETO  E EMOÇÃO DE LIDAR. 


A Piu

Br, 14/10/2020






sábado, 10 de outubro de 2020

UMA LONGINQUA HISTÓRIA DE AMOR - quatro personagens para um caso

Este é uma história de amor muito, mas muito, muito, muito antiga. Desde o antes, do antes, do antes do ontem. Aconteceu com Celta, Romano, Suevo e Galego. Galego era mais um intermediário, uma espécie de bobo  da corte. Não perdia quase nenhuma oportunidade de comentar. Umas vezes era mais feliz nas suas sacadas de entendimento pelo amor e inocência, em outras mancava um pouco mais no seu convencimento que o sarcasmo e o moralismo o redimiam de algo que não gostava tanto em si mesmo. Galego era  mesmo assim e por isso um personagem fundamental. 

Até onde a memória vai foi Romano que iniciou toda esta epopeia, toda essa tal história de amor muito, mas muito, muito, muito antiga. Desde o antes, do antes, do antes do ontem. Romano era um mano que curtia conquistar. Tanto é que o Império já ia grande. Romano gostava de medir forças e desconfiava um tanto do amor, logo desconfiava de si próprio. Chamava amor a invasão e evasão. Um dia reparou na existência de Celta, uma amazona com cabelo de raios de sol envolto em algumas nuvens . Celta era uma mulher interindependente. Precisava do coletivo para sobreviver mas não temia subidas de montanhas e descidas aos pântanos. Não se sabe ao certo se Romano a apreciava, a admirava ou simplesmente escarnecia do brilho que Celta trazia dentro de si, mesmo quando algumas vezes era envolta em nuvens. Nuvens essas que logo logo regariam uma bela plantação de girassóis. 

Nesse tempos haviam muitas batalhas campais, Alguns campos de girassóis ficavam devastados e regados em corpos trespassados por espadas. Havia algum tempo que Suevo e os seus companheiros barbudos e cabeludos desciam até aquele enclave para o conquistar. Quem os avistou ao longe foi Galego que foi avisar Romano. Nessa época Galego nem sabia da existência de Celta. Passava o dia a comer, a dormir e a jogar pedras a pássaros, porque no fundo sentia rancor por não ter asas como eles.

Suevo descia com os seus companheiros, prontos para tudo! Ao longe Celta passava num cavalo veloz e de aspecto selvagem. Faísca era o seu nome.  Dum momento para o outro Celta e o seu cavalo foram enlaçados numa armadilha colocada por alguém que não dava, nem nunca deu, as caras. Celta pediu ajuda e Suevo correu. Como nos romances cor de rosa que algumas vezes imitam a vida, quando Celta e Suevo trocaram de olhares foi amor à primeira vista. 

Escutaram-se urros, Suevo tinha que partir depois duma longa troca de olhares como um longo beijo. Suevo e Romano travaram uma batalha. Galego não sabia de que lado havia de ficar, pois assistira à demonstração de amor se Suevo por Celta, mas Galego aprendera que deveria ficar do lado dos machos conquistadores. Galego preferiu assim escolher o que não é ao que já é. E o que já é que já era, pergunta você que chegou até aqui? Pergunte-se a si mesme. Todes nós trazemos as respostas dentro de nós.

Passaram-se muitos anos, séculos, quase um milénio e Romano, que iniciara esta saga quando da primeira vez que abordara Celta, e em que Suevo olhou Celta de perto e de longe e aos poucos foi a enxergando como mulher menina e não como uma menininha que cabia debaixo do ombro. Galego aos poucos foi aprendendo o que é o amor ao observar esse amor, muitas vezes subtil, que ia de Suevo até Celta e de Celta até Suevo. Quanto a Romano falarei no próximo texto como este se reconciliou com a vida, com ele mesmo propriamente, com Celta, Suevo e Galego ainda brindou a tudo isso!


A Piu

B'Olhão Geral Zen 10/10/2020



sexta-feira, 9 de outubro de 2020

QUIS SABER QUEM SOU E O QUE FAÇO AQUI - série de corpo e alma com espírito


 Dando continuidade aos textos sobre este oficio teatral, que além de requerer estudo e aprofundamento é uma profissão, na comemoração dos 25 anos de atriz profissional e os 31 de amante e amadora desta expressão artística abro aqui uma série de textos, que promovem a leitura e a democratização dos saberes e conhecimentos nesta incrível ferramenta tecnológica internáutica, cibernaútica, cosmonáutica. 

Esta série tem como objetivo refletir sobre  o que é o meu, o nosso corpo, no caso feminino na sociedade - principalmente latina, embora  não goste muito dessa definição de latina porque hegemónica, mas por ora a usarei até criar um neo logismo - e na cena performática, dentro das linguagens que obviamente desenvolvo. 

Primeiramente.... ihihih bora ao que interessa! Fora e dentro da nossa bolha. Um dos maiores desafios nos últimos anos, principalmente depois da minha chegada ao Brasil, tem sido perceber qual a feminilidade que me diz respeito como portuguesa, nascida e crescida em simultâneo com a queda do fascismo e os passos curtos, mais largos e retrocedidos dessa jovem menina mulher que é a democracia. Como estou no Brasil devo lembrar que mesmo assim a ditadura que aqui se viveu acabou (?) quando eu tinha por volta de 11 anos. Naturalmente a minha vivência será muito diferente de muitas mulheres brasileiras que nasceram e cresceram na terra da Carmen Miranda ( que nasceu em Portugal e veio com dois anos), da Leila Diniz ( a carismática atriz e provocadora brasileira que morreu prematuramente, mas talvez isso a tenha salvo de muitos mais dissabores desses anos de chumbo tropicais).

Nós portuguesas, pelo menos até à minha geração, temos sido educadas para sermos mosquinhas mortas, cheias de " ai credo!", abrutalhadas ou atrapalhadas no que se refere à sensualidade, à sedução. Não, não fomos educadas desde os tempos mais remotos para expressar a nossa feminilidade duma forma livre, alegre, brincalhona, saudável. Aliás! Muitos machos alphas menosprezam-nos achando mais graça ao exotismo das "colonizadas", por isso objetificadas. 

Assim sendo, vou finalizar este primeiro texto legendando-o do canto inferior direito até chegar no canto superior esquerdo. Isto é, da direita baixa para a esquerda alta como se designa no palco:

A primeira foto que é a última cronologicamente falando trata-se da palhaça Bell Trana de Tall, naturalmente anti fascista, numa situação de em vias que a modos que no canal da via de emancipação que é assumir na totalidade o seu corpo, a sua gestualidade e a sua LIBERDADE DE SER E ESTAR invocando homens, mulheres e outres géneros que se prestam a erradicar o machismo, a misoginia, a xenofobia, o classismo e outras fobias. Anti fascismo não rima nem com machismo, transfobia, xenofobia e o culto exacerbado do ego que acha que os outros seres estão ali para nos servir sem vontade própria muito menos almejo de amorosidade e amor. Já não falando do tal do menino respeito quer nos identifiquemos ou não com as escolhas alheias.

A foto seguinte tem vinte anos, sou eu mesma também com uma bandeja fazendo de escudo. Essa foto dá sequência aquela onde está o elenco todo, unicamente masculino, com o querido diretor John Mowat . Naturalmente é uma paródia aos homens viscoses que assediam as mulheres. Para mim é uma honra acreditar que existem homens que estão dispostos a se reverem e a parodiar com os pequenos grandes machismos do dia a dia do quotidiano da rotina. 

Depois vem uma foto duma personagem matrafona que fiz no primeiro trabalho profissional. Uma verdadeira roliçona. Ela não é propriamente abrutalhada e sim tem uma relação com o seu feminino de brincar com inocência sem se preocupar em ser a a gostosona, conceito distorcido por uma mentalidade que objetifica a mulher e a torna um troféu descartável. 

Já a foto da direita alta é uma foto de exercício de escola dirigido pelo professor belga Alan Legros em cima de " Berenice" de Racine. Foi dos poucos trabalhos em que trabalhei a sensualidade e suas respirações duma forma sublime e descolonizada, invocando o desejo e a paixão alinhado ao corpo com alma e com espirito.

Até ao próximo texto que falarei sobre os bigodes no feminino e a sua importância na desconstrução da essência do ser social, cultural, espiritual e tal e tal. 


A Piu

Br, 09/10/2020


sábado, 3 de outubro de 2020

VAMU KI VAMU NO REMELEJO DA QUEBRADA


Cada imagem tem uma história, uma memória repleta dum leque de emoções que talvez nem uma música possa descrever. Agora imagina várias imagens juntas. Mas bom! Propus-me a falar da importância da intimidade, do intimismo, do desejo vinculado à nossa criança interior curada das feridas muitas vezes ancestrais, embutidas no inconsciente coletivo. Vou escrever sem me condicionar pelas regras do instagram. Quem quiser ler aqui no blogue ou no facebook, mesmo que seja só uma pessoa BE-LE-LÊ. Não me tenho proposto a atingir as massas nem a colecionar seguidores. Sou talvez antes da velha das velhas guardas da bicho grilagem. Embora, o objetivo seja chegar ao máximo de pessoas, mas olho no olho. Sentimento no sentimento.
Faz agora 25 anos que trabalho profissionalmente com teatro. O que isso significa? Significa que esta arte, como todas as outras, são profissões que requerem dedicação, trabalho, estudo, pesquisa, escola, seja essa ou não institucionalizada, assim como sermos naturalmente remunerados por isso dum forma digna.
Lá em cima estão duas fotos de 1978, no meu aniversário dos 5 anos. Foi o meu pai quem nos fotografou e atrás de mim estão os meus dois avôs, na frente o meu primo. Esse aniversário é memorável, pois foi uma sessão de cócegas em que ri tanto que lembro até hoje. Esse meu avô foi o primeiro dos quatro a partir. O de blusinha cor de tijolo, bem anos 70. Eu gostava e gosto muito dele. Um menino homem brincalhão e inseguro logo chato com a sua esposa minha avó, quando dava uns goles a mais, que ao que consta um menino homem que não recebeu muitos carinhos na sua infância. Tempos rurais , pontuados de privações e de dureza do trabalho. Tempos muito diferentes daqueles em que nasci e cresci pontuados, mesmo assim, pela liberdade de expressão, democracia, mesmo que duvidosa, e aquele consumo em ascensão dando a sensação às pessoas, no caso portuguesas, que a sua qualidade de vida melhorava, e melhorou claro mas só até um certo ponto. Porque o neo liberalismo é implacável. Por isso ate à data ainda me surpreendo com a sua narrativa, manobras induzindo as pessoas na ilusão e no individualismo que nos trata, ou tenta tratar como gado, rebanho entre um discurso de crise financeira e desemprego e uma otimização no pib e uma curvinha moderada à esquerda. Ai Piu respira e acredita com sinceridade na co criação da tua realidade e manda esse pessoal dançar o fandango.
Eis uma foto dum dos cursos de ator, bem do lado dessas duas fotos de aniversário que rodeiam a central da carinha branca do criado da Mirandolina, sim eu fazia de criado quase mudo meticuloso e amedrontado - o prazer que me dava brincar com o ridículo da subjugação!!! Seja ela a que nível for, mesmo quando somos pegos por essa marafada, a tal da subjugação. Nessa foto de escola estou eu cá em baixo de cabelo curtíssimo, sentada entre a rapaziada. Eu lembro aquelas jovens moças mulheres que se tornaram isotéricas e veganas e com isso se tornaram IN-SU-POR-TÁ-VEIS. ISOSHISTÉRICAS. Porquê? Porque a sua intolerância com quem faz escolhas diferentes de nós ou que já entendeu que é preciso mudar de hábitos, mas isso custa e demora É IN-SU-POR-TÁ-VEL. Na verdade não era esse o caso. Eu sempre fui, talvez ainda seja, a mosca na sopa. Talvez um pouco insuportável... Oooops No ano da graça do senhor de 1992 virem falar de burgueses como sendo os outros, só porque é chique (ahahha chique) ser artista de esquerda não burguês mas com hábitos pequeno burgueses. Ahaha ADORO Até hoje me riu, volvidos quase trinta com esse loucura. Ainda bem que existe a loucura para nos rirmos. Ainda bem que ainda há gente que se diverte com o absurdo de la vida. De la vie, para ficar mais chique choque.
A foto com a cabeleira também é de 1995, é todo um conceito de feminilidade que não poderei deixar de dissertar num próximo texto. Assim como a importância de viajar e apresentar para toda a população sem elitismos bla bla bla status cocorocco. A ultima foto é o resumo deste texto. Viemos para abrir espaço. Ah! Esqueci-me de falar do meu avô Mário, aquele de blusa branca e fumante, com nome de poeta mas um pedreiro de profissão. Técnico da construção de casas para os outros por tuta e meia. Tenho muito orgulho nele porque além de ser meu avô não explorou ninguém, embora tinha sido explorado. Em suma, se o nosso trabalho nos dignifica o valor justo do mesmo ainda mais, dispensando retóricas de cartilha do lalala, somos todos iguais mas há uns mais iguais que outros. . Eheh É BOM RIR. RIR LIBERTA! Principalmente da tal da esquerda que hoje se define como esquerda gourmet engajada pela televisão, mas que não sobe ou desce à quebrada.
Ah! A foto da cortina vermelha foi no auge da crise especulativa neo liberal em Portugal antes da febre individualista e mediática (? perguntar é perguntar) de " Portugal é bom demais", sempre mantendo a pose para não mandar tudo para o ar. Apesar de tudo muitos de nós estamos vivos, com a certeza que um dia partimos, a questão é sabermos intima e profundamente que legado queremos deixar para as gerações futuras. Mesmo assim, gratidão profunda e sincera a Portugal pela sua negligencia para com os seus cidadãos e eleitores que espero que se cure o quanto antes das mentirinhas maquiadas e que comemore com dignidade os 45 anos de independência dos países africanos de expressão lusófona.

Agradeço também ao Brasil que me tem acolhido com a sua profundidade espiritual e de empreendedorismo, mesmo com as tais das mentirinhas e mentironas institucionais. Gratidão honesta e sincera.
Bom, enfim, vamu ki vamu! Façamos cada um e cada uma a nossa parte que a vida sorri e o todo, o coletivo agradece.
Até ao próximo texto!
Beijus
A Piu
Brasil, 03/10/2020

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

MIL NOVECENTOS E OITENTA E NOVE

 

Onde você estava em mil novecentos e oitenta e nove? Provavelmente, alguns de vós outros ainda não eram nascidos ou eram "piquinininhos", fofinhos e inocentes. Mas o mundo já andava aí às reviravoltas anunciando as ruinas dos dogmas, do despotismo maquiado de " para o bem de todos". Foi em 1989 que comecei a fazer teatro amador numa escola pública através dum professor de filosofia. Aquela foto do canto foi tirada por uma das minhas amigas desse grupo, a Djanira que era filha duma portuguesa, a minha professora de inglês, e dum sujeito brasileiro de origem indígena como os olhos rasgados e o seu cabelo escuro e forte confirmavam. Íamos para o laboratório de teatro mesmo em época de férias. Agora lá vai cliché al entrevista com atores das telenovelas que começaram pelo teatro: " Foi aí que o bichinho do teatro me mordeu e eu nunca mais abri mão dessa paixão à primeira vista." Ihihih a questão é que essa é a mais pura da verdade!
Nessa mesma idade, por volta dos 16 anos, também já era A FÃ do querido Quino, que desencarnou ontem dia 30 de Setembro no dia das comemorações da criação do teatro lambe lambe pelas nordestinas Denise Santos e Ismine Lima. Aos 15 anos eu faço um trabalho para a disciplina de História sobre a condição da mulher, onde uso inúmeras tirinhas da Mafalda com a sua mãe. A minha professora de História dá me nota máxima e diz-me à parte: " És das minhas. És radical!" Como eu não sabia o que era radical fui perguntar à minha tia que me tinha emprestado várias revistas " Mulheres" para o trabalho. " É alguém que vai contra o que está instituído. Que se afasta do discurso oficial." Devo dizer que eu não me identifiquei com essa definição, pois achava eu que já seria óbvio para todos nós que as mulheres tem o direito a serem elas próprias, a se realizarem, a trabalhar naquilo que gostam, serem reconhecidas por isso e terem com isso a sua autonomia não só financeira como emocional. Amigas, amigos, amigues admirar, respeitar e amar uma mulher é o kit básico. Sem isso é farsoliçe. Assim como é farsoloiçe ainda acreditar ou defender regimes e ideologias que subjugam, que reprimem e criam muros, visíveis ou invisíveis, entre nós.
A primeira vez que fui para cena foi encarnando a personagem da Lili Marlene. Aquela que cantava para os aliados durante a segunda grande guerra mundial. Fazia um play back em alemão. Essa apresentação foi num bar no Bairro Alto em Lisboa: Janela Indiscreta. Uma alusão ao filme do Hitchcock.
Por falar em janela indiscreta ou discreta! Nesse ano de 1989 nascia uma linguagem baseada nos fotógrafos lambe lambe e nos peep show - a pessoa olha para dentro duma caixa e vê imagens que não são necessariamente obscenas. Como depois o termo foi apropriado para espetáculos " eróticos" com mulheres ao vivo para deleite de homens cuja fantasia ainda passa por objetificar a mulher ao invés da desejar de igual para igual e escuta-la com intimidade e intimismo sem que ela vire alvo de desrespeito e um produto descartável. Essa linguagem, a do teatro lambe lambe, é uma janela que se abre para que nós artistas, tantos profissionais como amadores, possamos nos expressar e levar os nossos poemários visuais ao máximo de pessoas possíveis. Porque a arte tem um poder curativo incrível. Pode ser uma grande ferramenta pacifista e reconciliadora!
No próximo texto falarei sobre a importância da intimidade, do intimismo, do desejo vinculado à nossa criança interior curada de feridas muitas delas ancestrais, embutidas no inconsciente coletivo.
SALVÉ O HUMOR, O AMOR E O DESTEMOR DE SERMOS FELIZES E MAIS PERTO UNS DOS OUTROS SEM MUROS NEM AMEIAS!!!
A Piu
Br, 01/10/2020