quarta-feira, 19 de junho de 2019

VITÓRIA A QUEM SE PERMITE AMAR

Rir do que é trágico é uma coisa muito séria. O abuso é um indicio do trágico. A violência é trágica. Há uns dias atrás passei pelo Rio de Janeiro em trabalho. O Rio é encantador e também assustador. Felizmente nunca tive nenhuma má experiência nessa cidade, mas quem lá mora tem inúmeras histórias para contar sobre os precalços do dia a dia. No VLT dois senhores dos seus 70 anos conversam. Um diz: " Existe a biblioteca, a videoteca, a discoteca e a tiroteca. Na tiroteca nem é preciso dançar, basta se atirar para o chão." Pois é, aqui temos um exemplo dum humor sarcástico em relação a algo muito trágico que essas pessoas sentem na pele ou próximo delas. Eu ri do absurdo da piada carioca, principalmente quando ambos continuavam que como isso podia acontecer em lugares onde haviam trabalhadores, famílias, mães com crianças. Aqui temos um exemplo do riso como forma de denúncia e descompressão diante de algo que deixa o cidadão comum quase que impotente.

Mais tarde uma querida amiga que me recebeu na sua casa e que por acaso é uma das percursoras da palhaçaria feminina no Brasil, a Ana Luisa Cardoso, dizia assim: " Pode ficar descansada que se escutar tiroteio é mais lá para cima no morro." Eu conheço a sua preocupação e o seu cansaço de viver no Rio por conta desse estado de alerta, mas fiz uma piada para mim e que no momento não compartilhei ( pois o assunto é sério e demora digerir) mas que compartilho agora: " Então 'tá! Se o tiroteio é mais para cima eu posso ficar aqui a beber o meu  champagne francês descansada!" Aqui temos outra piada para descomprimir acerca da questão da desigualdade social que se vive no Brasil que por si só é uma violência. Então como criar um espetáculo de palhaçaria feminina sobre violência contra a mulher sobre histórias pessoais? Precisamos de descer à cave, subir ao sotão e dar aquela bela faxinada na casa toda. E isso somos nós que temos que fazer. Cá nada de faxineiras! Cá nada de terceirizar esse trabalho interno de auto conhecimento, logo de auto observação!

Há outros dias atrás, durante uma entrevista para um documentário sobre o tema da violência doméstica ligada ao arquétipo da mulher palhaça, veio a pergunta derradeira. Pelo menos em mim deu aquilo baque no estômago, emudecendo um pouco o meu olhar. " Qual o conselho que dá para as mulheres que estão passando por uma situação de violência doméstica e/ou relação abusiva?"
Após uns segundos respondi que não havia uma resposta linear, pois cada caso é um caso e cada pessoa tem uma história e uma forma de se relacionar. Seria talvez mais fácil de responder como se proteger de uma relação abusiva e ao limite violenta antes mesmo desta se realizar. Observar antes de se envolver, auto conhecer-se através da prática de silenciar a mente escutando a respiração e a batida do coração, assim como a firmeza do corpo, deixando ir pensamentos e sentimentos parasitários. Isso é uma prática que pode e deve ser realizada por todo e qualquer ser humano. Meditar silenciosamente. Isto é, esvaziar a mente e focar-se na batida do coração, na  expiração e inspiração. Por outro lado observar e escutar com calma a pessoa que estamos interessados. Falo de UMA pessoa porque já é uma empreitada, pois essa de muitas pessoas numa cama só hmmmmm é necessário muito auto conhecimento, desprendimento, logo maturidade. Muita energia para gerir a médio, longo prazo. A curto prazo até pode ser que dê certo. Não sei. Nunca experimentei, mas disso estou ciente que precisamos de muito amor próprio e respeito mútuo. E selinhos e coisinhas é brincadeirinha de ocasião. Não vamos chamar a isso algo profundo de entrega. Tomem isto como um ponto de  vista, não como uma verdade absoluta. Mas só podemos amar quando nos amamos a nós mesm@s. Isso é certo. Mover-nos pelo ciúme, pelas suposições que levam ao ciúme é sermos fakes de nós mesmos e isso pode trazer consequências muito sérias. Somos fakes quando não estamos firmes no que somos na essência. Ser confiável é confiar na outra pessoa e também transmitir confiança. Respeitar quem a outra pessoa é, o que ela faz, o que ela estuda, o seu trabalho, a sua família, os seus amigos. Podemos não concordar com tudo, mas para nos envolvermos com alguém esse respeito e admiração precisam dum saldo mais que positivo.

 Não temermos demonstrar diretamente gestos e palavras de amor a quem queremos bem. Não temermos retribuir o amor que nos é dado com clareza, sem tercerizar. Clareza rima com leveza. Se não é o: Eu suponho que ele supõe que eu supus que supostamente ela traiu-me, logo também vou fazer das minhas. Eheheheh uma loucura! Ou existe mútuo acordo que cada um faz o que quer e respeitam-se na mesma ou então é uma roleta russa que vai entornar o caldo. No final da contas um desgaste de energia que poderia ser usado em afeto, carinho, entendimento, cumplicidade. Então, AUTO CUIDADO, AMOR PRÓPRIO, AUTONOMIA são bons ingredientes para nos relacionarmos com lucidez ao invés de carência.

Já quem está no olho do furacão precisa de saber que está no olho do furacão. Muitas vezes relativiza: 'Ah a pessoa é assim, mas ela me ama e eu também já me habituei!" Têêêêê Bola ao lado. Depois precisa de trabalhar a sua sabedoria para saber como se livra da situação, o que nem sempre é fácil pois o predador muitas vezes insiste. Essa sabedoria passa pela prática acima descrita. Relaxar através da imobilidade, foco na respiração, nos batimentos cardíacos e no seu corpo. Depois, precisa de procurar ajuda e se proteger. Nem sempre isso é evidente, pois existem relações muito viciadas, logo insanas que fica naquele um agride, o outro agride, viram as costas um ao outro e depois voltam ou uma das partes obriga a outra a ficar. enfim, um emaranhado que muitos se habituaram.

Então, antes de nos relacionarmos seja lá com quem for precisamos de nos relacionarmos com nós mesm@s e não permitir que sejamos tratad@s de qualquer maneira ou tratar de qualquer maneira. Estar na presença de alguém que seja uma honra e não um paliativo para um sofrimento interno que precisamos de saber as causas para o retirar cirurgicamente da nossa vida. E os nossos sofrimentos a nós dizem respeito a outra pessoa não é nosso saco de boxe, nem o depósito do nosso lixo emocional, tampouco o nosso placebo para atenuar as nossas carências. Que o encontro de corpos seja o encontro de almas, quando assim não for tenhamos a coragem de saber que estamos a ser fake para nós mesm@s, logo saímos do lugar de vitimas e passamos a nos responsabilizar pelos nossos atos. As pessoas de quem nos enamoramos não trazem uma bula colada na testa e muitas vezes são sedutoras ao ponto de acharmos que aquela é uma fase e que depois já está tudo bem. No meu ponto de vista, quem agride tem de se rever, se agride recorrentemente precisa de se curar. Espiritualmente falando. Resumindo e concluindo: conectar-se com o "outro" é conectar-se consigo mesm@. A vida é preciosa para cairmos constantemente nas ciladas que aramamos para nós mesm@s. Onde há firmeza, acolhimento, clareza na intenção há confiança, logo amor o resto é converseta para boi dormir.

VITÓRIA À VIDA E AO AMOR PRÓPRIO E AO PRÓXIMO

A Piu
B'Olhão Geralzen 19/06/2019







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