segunda-feira, 10 de junho de 2019

O QUE É QUE AGORA?

No dia 8 de Março de 2017 seria a estreia do meu solo de palhaça " Os Numbros de Bell Trana D'Tall" no festival Palhaças do Mundo em Brasília. Aceitei o desafio da queridona Manuela Matusquella! Aceitei sim essa vertigem de me lançar no tempo e no espaço para montar um solo a solo. Esse trabalho tem a ver com a minha resiliência e re existência como mulher, mãe, artista, cidadã que sempre fez da arte a sua profissão e decide atravessar o mar, por chamados que a lógica cartesiana não cobre, para continuar a pagar as suas contas, a se sustentar com o mesmo. Um dos motivos pelos quais eu vim para o Brasil, entre outros motivos que a cartesiana lógica fica aquém do além do aquém, foi vir ao encontro do movimento de palhaçaria feminina.

Criei a minha disciplina para escrever o espetáculo e montá-lo com recursos financeiros zero para esse empreendimento, mas agora ou vai ou racha!

Foi uma honra ter recebido essa proposta e dignamente voltaria para casa com um cachê.
Eu não sou menina para bater selfies a torto e a direito, mas aquele momento de embarque no aeroporto compartilhei pela imensa felicidade de realizar um dos meus objetivos, estar juntos de outras mulheres palhaças e poder compartilhar o meu trabalho. Qual não foi a surpresa de ter um comentário naquela publicação que estava configurada para ser vista por todos, independentemente de estarem adicionados à minha conta: " Estou louco para te encontrar em São Paulo". Naturalmente apaguei logo essa loucura que poderia ser lida e interpretada como um gesto carinhoso e amistoso por quem não conhecesse a situação. Apaguei para cortar e não preocupar os que me são próximos e moram à distância. Depois começou in box uma série de impropérios num linguajar que nem dá para responder para não alimentar a coisa. Nunca bater muito de frente com alguém que não está no eixo! É um conselho que dou para mim. Podem levá-lo. Mas teria de tomar uma atitude. Não poderia guardar aquela situação só para mim. A primeira coisa que me perguntei foi porque é que aquele sujeito que há anos não dava sinais de vida nem para saber da filha, muito menos para contribuir com a sua parte que é prevista na lei, agora aparecia assim. Seria porque eu ia a Brasilia e isso o assustava? Quem não deve não treme. Mas continuava a se achar no direito de me intimidar, principalmente por ver que era um imenso grupo de mulheres que se mobilizava no dia internacional da mulher. Sim, porque normalmente um ser masculino seja lá de qual cunho nacional for tem comportamentos pouco ou nada corajosos. Se sabe que um homem o fará frente já baixa a bola. Se for a autoridade aí mete o rabinho entre as pernas se prezar a sua liberdade. Mas se sabe que pode ou que acha que pode avançar já vem com sete pedras na mão quando menos se espera.

Resultado: contatei às pressas a Geni Viegas perguntando se ela iria também a Brasilia. Precisava de ajuda. Ela não iria, mas ficou a par de tudo o que estava acontecer e me orientando tanto para manter a calma como proceder caso o sujeito não abrandasse. Depois abrandou, mais tarde quando a sua filha já maior à distância exigiu respeito, caso contrário não queria qualquer contato.

E foi assim que a Geni lançou o desafio seguinte: e se montássemos um espetáculo sobre estas nossas histórias para curá-las uma vez por todas? Aceitei essa interessante proposta e assim não nos sentirmos tão isoladas quando alguém insiste em armar o barraco e a gente se pergunta: O que é que é agora?

Mil gratinados à queridona Geni e a toda a equipe! Esatmaos junt@s!

A Piu
Brasil, 10/06/2019


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