quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

CARTA ABERTA AO CHICO

Chico,

estive a pensar sobre a sua opinião acerca do trabalho do músico Criolo em que diz que " este suposto artista foi fabricado pelos meio de comunicação do universo fonográfico brasileiro. Criolo virou apenas uma marca, por sinal de péssima qualidade, para iludir os consumidores apressados e desmerecendo a história e a luta dos verdadeiros e heroicos crioulos em nosso Brasilzinho racista. Temos de ficar cada vez mais atentos para não sermos enganados por esta indústria impiedosa que a tantos tem feito mal."

Entendo e concordo plenamente que "andamos todos" muito iludidos e apressados nesta roda neo liberal. O que causa fragmentação entre as pessoas. Eu vejo notoriamente com a minha arte, que é a da palhaçaria e do teatro, essa arte tão efêmera e aparentemente fácil.  Para ter uma ideia de como dou comigo a pensar o que perguntar às pessoas que veem ter comigo e que querem ser palhaços e subir ao palco dum dia para o outro: "Você o que faz? Ao que se dedica?" ; daí a pessoa responde, por exemplo: " Sou jornalista. ou: "Sou músico?" ou: "Sou pedreiro.". Ué! Mas você precisou de se dedicar a esse oficio para o fazer bem, não? O mesmo se aplica a ser artista. O que me faz mais confusão é um músico, por exemplo, achar que faz dois dias de aula de palhaçaria e já é palhaço! Não estou a inventar. Já vivenciei isso!... Publicamente escrevo aqui que considero isso uma desconsideração pelo trabalho dos colegas, dos profissionais que se dedicam e tentam viver disso. E essa consideração pela arte, pelos artistas sejam estes populares, eruditos, mestiços,começa em casa e na escola.

Por outro lado, a esta altura do campeonato quase a entrar para 2017 tenho algumas dúvidassobre os heróis que defenderam a História. Tenho essas dúvidas, pois onde há muito ego e sede de poder o heroísmo é opaco. Cada vez considero mais que o nosso heroísmo está nos pequenos gestos de amizade e alteridade no dia a a dia. Pessoalmente eu não levanto nenhuma bandeira por algum busto. Penso que o grande paradigma do século XXI está em aceitarmos as nossas incoerências sem nos sentirmos hipócritas ou cobrar isso aos outros. Cada um tem a  sua consciência e cada um tem o dever e o direito de cuidar da sua. O Criolo, como nós todos, tem a sua. Mas que ele, quer gostamos quer não, traz poesia do jeito dele para as pessoas traz.

abraço com muita amizade
Ana

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