domingo, 4 de setembro de 2016

O LAICO E O RELIGIOSO E O RISO POLITICAMENTE (IN)CORRETO

Um Estado tem de ser laico, devendo no entanto acolher todas as religiões desde que estas se disponham a coabitar com outras. Um Estado que tem um cunho religioso já se torna complicado, pois dificilmente vai acolher outras religiões e ou ateus. Além de ser arcaico um Estado ter um viés religioso é anti democrático. Veja-se o caso do recente golpe no Brasil. Em nome da religião comete-se e legitima-se uma atrocidade reminiscente.
Rirmos da religião é politicamente incorreto? Depende do que estamos rindo, como estamos rindo e quem queremos que ria. Uma questão de ética. Se é para rir da crença alheia, ofendendo ostensivamente, é incorreto. É um discurso de ódio. Veja-se o sucedido em Paris no caso do “Je suis Charlie”. Ora o Charlie estava a contribuir para um discurso de ódio ao ridicularizar os muçulmanos, tendo conhecimento que há uma islamofobia galopante na Europa. Deu-se mal. Azar!... Deve ter encontrado no céu os fundamentalistas que zombava. Por outro lado, rir da religião que oprime a nossa sociedade é no mínimo um gesto ético. Como é que eu não me poderia rir da Igreja Católica Apostólica Romana que durante estes últimos 800 anos tem oprimido o meu povo português e por consequência outros povos além-mar? Não precisamos de falar agora da Inquisição para justificar tal facto. Também rir dos ivan bélicos é no mínimo uma forma de criar um traço de giz de proteção em torno de nós mesmos.
Rir é liberta dor, desde que saibamos com clareza que estamos a rir do que aprisiona e não do que liberta. Conheço muita gente que precisa de fé para se libertar. Isso merece respeito. Já a fé moralista… Já é caso para nos rirmos. Porque o moralismo é como um carrapato. Se deixarmos, suga-nos até ao tutano.
Se rir for para abrir a cabeça para que o horizonte se abra em mil possibilidades de respeito à vida, então bora lá rir numa gargalhada geral. Aquém e além-mar.
Brasil, 04.09.2016



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