quarta-feira, 30 de março de 2022

ONDE É QUE VOCÈ 'TAVA EM 1985?


 Na minha terra natal, Portugal, tem uma pergunta certeira ( acho que viralizada pelo humorista Herman José):"  Onde é que tu estavas no 25 de Abril de 74?". Eu sei onde estava. No berço. Dizer que saí à rua de punho erguido com um cravo vermelho a cocegar as nuvens e gritando: FASCISMO NUNCA MAIS! É fake. Não o fiz. Não tinha idade para isso. Mas sempre comemorei o feriado nacional que marca o dia da liberdade, o fim do fascismo, da guerra contra os países africanos até então colonizados e que se tornaram independentes. 

Por isso sempre me pergunto até hoje: porque é que o Brasil não tem um feriado nacional que marca um fim da ditadura militar que foi de 31 de março de 1964 a 1985. Onde é que você estava a 15 de janeiro de 1985, nas eleições? Da minha parte eu estava a viver o meu primeiro luto que ocoreu a 11 de janeiro desse ano. Fiquei orfã da minha mãe. Punk, mas contornável. E logo alguém, penso que a minha tia,ofereceu-me o segundo livro da Mafalda para eu rir e voar.

Passei, então, a minha adolescência a rir com o Quino, o cartonista argentino, não só com a turma da Mafalda mas com as restantes charges de humor contra generais, elites cafonas, e promessas de democracias comprometidas e ascensão do povo à pequeno burguesia. Há um tempo atrás constatei que o meu humor primeiro funda-se no  trabalho do Quino e do Herman José. Depois vieram outros, nomeadamente os Monty Pythons. Isto para falar dos primódios do meu riso. 

Para mim, rir é fundamental. Libertador. Há uns dias encontrei, finalmente, ao vivo e a cores uma amiga nordestina, lá do Recife, que agora mora em São Paulo. Conhecemo-nos nas oficinas e encontros virtuais no auge do confinamento. Foi humor à primeira vista! Conversa puxa conversa, fiz-lhe uma pergunta só por fazer: " E namorados?" Se fosse com alguma amiga conterrânea perguntaria logo para começarmos a rir: " Como é que estamos de namorados?" Bem sei que o humor não se explica, mas desta vez eu vou fazê-lo. Primeiro: o que é que eu tenho a ver com a vida amorosa alheia? Segundo: como é que estamos de namorados?!! Falar no plural, partindo do principio que a pessoa não para e ainda me incluir num lugar de confidente forçada a dar ares de psicóloga: como é que estamos.... Em suma, prometi que escreveria um texto entitulado depois do relato da dita: ALI BABACA E OS 43 MEDALHÕES. 

Abro já aqui o coração: espero que os caros leitores do sexo masculino reflitam duma forma divertida e desconstruida sobre a treta de pensar somente com a cabeça de baixo e colecionar brotos ( brotos soa a gíria de Roberto Carlos nos idos anos 60). Só para dar uma luzinha: abrir mão de ser macho alpha é abrir mão dum discurso e postura fascista. É abrir mão do privilégio de ser homem e achar que abafa tudo e todas. Esperemos, assim, que não se ofendam com esta provocação e sim agradeçam a oportunidade de se reverem e rirmos junt@s. Se existe alguma vitória é a vitória de termos o dever de sermos felizes e fazermos os outros seres viventes felizes com  transparência e de igual para igual sem estar sempre a partir de joguinhos, presupostos e reatividades. 

Como o carequinha de óculos dizia, lá na India: Seja a mudança que que quer ver no mundo.

Beijos e abraços! Até ao próximo texto!

A Piu

Br, 30/03/2022


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