quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

PRIVILÉGIO OU OPORTUNIDADE? - II

Niguém merece ser alvo de preconceito, seja de forma pejorativa ou com as expectativas lá no alto. Ou merece? Ser se visto e tratado a partir duma ideia pré concebida, cheia de generalizações e em muitos casos de informações distorcidas,  anulando a observação e a escuta não é também uma violência?

Até ter sido alvo de preconceito, assim que saí do meu paízinho à beira mar plantado, achava que não havia razões para tal, que eu estava imune. Preconceito da minha parte! Preconceito de achar que não existem razões para eu sofrer de preconceito. A primeira vez que senti na pele esse preconceito foi quando fui estudar com uma bolsa para a Paris da França. Poizé!... Eu achava que eles eram muito evoluidos e civilizados, cívicos digamos, cidadãos do bem diria, com acesso à educação, liberdade e igualdade... Preconceito meio. Uns serão assim, mas outros não. Porém, está latente a arrogância de se acharem o centro do mundo apoiados por outros povos com complexo de vira lata dos ditos países periféricos, ao limite chamados de terceiro mundo. O Brasil, por exemplo, fica naquele impasse entre os States e Paris, falando da Europa como se essa capital fosse o continente. Uma fatia considerável da população brasileira tem um deslumbramento eurocêntrico, mesmo quando critica a colonização identitária, cultural.

Também já senti preconceito no Brasil. Umas vezes de forma mais escancarada, mas na maioria das vezes subtil, sutil. SUBETIL, VÁ! Ou SU~.Para ninguém ficar de fora. A mais escancarada, como escrevi em textos anteriores, foi com um ex companheiro, pai da minha primeira filha. Levei anos a entender esse fel que ele jogava em cima de mim. Levei 23 anos, sendo mais especifica. Apesar de com ele terem sido "apenas" três anos de convivência. Conclui que além de ele ser machista e misógino, não é o único e sim um perfil de sujeito, ele reproduz uma narrativa de ódio que eu já escutei e observei de muit@s brasileir@s, duma forma mais 'sub~' ou descarada. Somos todos uns europeus arrogantes colonizadores, invasores com medo de sermos invadidos e no caso de Portugal é um país lixo. O que é curioso é escutar isto de cidadões e cidadãs cujo sonho, o seu grande sonho era morar na Europa e que de um dia para o outro Portugal virou a terra das oportunidades. Nesse compasso ' bom de mais' , do "super maravilhoso"sem averiguar, nesse deslumbramento de rebanho que engole sem digerir a informação mediática lá vai sem se avisar do que se pode esperar. Sim, sem dúvida que duma forma geral o povo português é direto na sua fala, se não gosta já demonstra na cara dura. Sim, é neurótico. Perde a calma com muita facilidade, esquece de ser gentil muitas das vezes. Como portuguesa, a viver há 10 anos no Brasil, conhecendo este imenso território desde 1996 tenho sérias dúvidas se voltaria a viver em Portugal a longo prazo. Há décadas que eu escolhi o Brasil para viver, muito antes da crise financeira e desemprego que assolou Portugal durante 2007 e 2017. Eu amo o Brasil e a diversidade do seu povo de múltiplas manifestações culturais, artísticas, espirituais. Os bambambam deixam-me com um pouco de azia, mas bambambans há em todo o lado e com os que falam a mesma lingua que eu o papo aí fica mais reto.

" Mãe, aqui na Bahia eu acho que passo por baiana". Compreensivel. Filha de negro angolano. Sim,porque também há negros alemães, como brancos angolanos. Se isso ainda é dúvida para alguém precisa de se informar melhor, pois isso já nem deveria ser debate... Sim, estes dias tivemos a oportunidade de viajar até ao litoral baiano onde a mata atlântica ainda nos lembra que antes do ser humano existir a natureza já era nossa mãe. Foi um privilégio ou uma oportunidade de começar o ano dando uns belos mergulhos para descarregar energias densas e carregar baterias para este ano de 2022 com dias como o dia de hoje cheio de combinações mágicas: 02/02/2022?

De vez em quando visito uma página no insta que é um muro de lamentações de mulheres brasileiras no mundo. O alvo predileto é Portugal. Continuo a perguntar-me: o que faz alguém vender tudo, atravessar o mar, deixar o seu emprego mais ou menos qualificado para ir trabalhar num call center ou numa cafetaria durante 8, 10 horas para receber uma ninharia e ainda ser tratada com preconceito por ser brasileira? Sinceramente não entendo... É aquel velho sonho de viver na Europa e depois vai para uma parvónia provinciana qualquer em Portugal que se está a levantar aos poucos da crise e fica muito decepcionada e só cospe o tal do fel em relação ao país e ao povo todo que lá vive? E ainda diz que os portugueses sentem inveja dos brasileiros? Grande emaranhado. A pessoa que age em rebanho sem se avisar não terá tecido a sua própria armadilha? Embora não concorde em absoluto com tratos preconceituosos e maldosos vindos de parte a parte. Sejamos honest@s.

Da minha parte, eu fico apreensiva com alguém que já fala que a outra pessoa tem é inveja. Por exemplo, eu ter inveja da avalanche de brasileiros deslumbrados e desavisados de como opera o povo português, com as suas qualidades e lacunas? My dog! Isso sim é provinciano. Eu ter inveja de alguém se enfiar no provincianismo? Ó mama mia que o gato já pia! Se alguém é execelente ou bom no que faz e realiza-se eu admiro e inspiro-me nessa pessoa e em muitos casos faço por chegar mais perto. E aqui no Brasil tem lugares e  tantas, mas tantas mesmo, pessoas que admiro que nem sei se uma vida inteira dá para tudo. 

Beijus e até já!

A Piu

Br, 02/02/2022




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