segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

PARA QUANDO SERÁ O PRÓXIMO CARNAVAL?- e aí brazuca? fala a tuga!

 

" Brincante" é um termo que aprendi no Brasil. Conheçia, usava e uso "pantomineiro", "brincalhotice"," folguedo". Também nunca tinha feito a distinção entre cultura popular e erudita, desde que aqui cheguei. Para mim isso já seria um debate que tinha ficado lá atrás, tipo anos 30, 40... Porque nos entretantos vieram uma série de fusões mais a cultura pop. tenho para mim que essas distinções polarizadas são resquicios de fossos sociais enormes,onde o classismo está presente. Assim como o racismo.
Já tinha ouvido falar em Portugal sobre o trabalho do Antônio Nobrega. Por alto. Há umas semanas dei de caras com o filme " Brincante", um documentário sobre o trabalho do Nóbrega em parceria com a sua esposa Roseane Almeida. Encantada googlei e encontrei o Instituto Brincante, que já conhecia por lives mas não associava a esses dois seres carismáticos que falam da cultura popular brasileira com tanto carinho, paixão, respeito e admiração pelos três eixos que constituem essa riqueza artistica, cultural, espiritual de re existência.
Neste final de semana tive a honra de acompanhar três aulas on line oferecidas pelo Nóbrega, Roseane e Maria Eugênia ( filha de ambos). Dancei na minha sala um tanto de maracatu rural e também conheci caboclinho e outras danças que para mim são novidade. Já sabia da existencia do cavalo marinho, do maracatu, do bumba meu boi mas essa riqueza imensa é um mundo ancestral novo para mim. Antropologia na prática, no campo. Sem snobismo nem teorias para boi dormir.
Nóbrega refere-se aos três eixos constituintes como os indigenas "misigenados", aos africanos e afro descendentes escravizados e aos portugueses desassistidos, que são os degredados vindos da ralé, do povão, do lado oposto da coroa portuguesa. ISSO É DAR DIGNIDADE ÀS RAÍZES E À HISTÓRIA. É conhecer a mesma e enxergar com o coração todo esse duro processo histórico com as suas diferenças de classe e as suas resistências. Foi das poucas vezes, se não a única, que ouvi alguém brasileiro referir-se aos portgueses duma forma lúcida e também honrando essa diáspora de desassistidos. Esse termo diz muita coisa. É um termo vindo de alguém que defende o povo e que tem a nitida noção de que a cultura popular é uma ode à vida, à união, ao riso, à brincadeira, à utopia.
Depois desse bálsamo quase quase desisti de dar importância aquela página de mulhereres brasileiras que justamente dão o seu depoimento como imigrantes pelo mundo e as inúmeras situações de xenofobia, racismo, machismo que sofrem. Até aí subscrevo e apoio, mas quando os comentários são puros discursos de ódio e ignorância com base nas frases e ideias feitas que o povo portguês é todo burro, estúpido e explorador. Aí a porca torce o rabo e a vontade é dar aquela puxada de colarinhos até perto da ponta do nariz, com máscara obviamente, e olhos nos olhos perguntar: " O que vocês conhecem das lutas anti fascistas e anti colonialistas portuguesas? Essas suas liberdades de expressão fajuta só é possivel em Portugal porque muitos lutaram pela liberdade de expressão e muitos foram torturados, presos e mortos até 1974. Baixa a bolinha que o guarda redes/ goleiro é anão!" Aí a(s) pessoa(s) já se sente(m) agredida( e ainda capaz(es) de difamar que lhe batemos. Já me aconteceu ser alvo de calúnia e difamação. Pois é! Não são só as brasileiras. Deve fazer parte do combo de sermos forasteiras e em algum momento não sermos bem vindas em algum lugar por pura ignorância. O mais curioso é perceber que há quem acredite sem averiguar as difamações. Aí é a prova dos novesde quem é realmente amigo ou faz-se. E o tempo é muito sábio, pessoal. É necessário confiar nesse sujeito, no tempo.
Assim sendo opto por escrever e denunciar às redes sociais eventuais discursos de ódio com cara de democracia, feminismo e direitos humanos. Se eu vos contasesse as roubadas xenófobas e machistas que eu já vivi no Brasil, idênticas às que as brasileiras vivem fora do Brasil, só que no caso eu tenho uma nacionalidade que me cataloga de tal e tal e as brasileiras teem um infortunio de serem vistas muitas das vezes como garotas de programa, como se estas garotas de programa não merecessem igual respeito.
Até ao próximo texto sobre encontros amigáveis e desfazeduras de equivocos e desperpetuações de ranços marafados.
Beijos e abraços sinceros e amigáveis dispensando a tal da cordialidade dúbia.
A Piu
Br, 21/02/2022
foto tirada em Campinas SP em 21/02/2012



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