As primeiras noticias que me chegaram sobre a Bahia foi na infância e adolescência, através dos romances de Jorge Amado que faziam parte do campo visual lá de casa duns discos de 1970. Um deles era um vinil LP da Maria Bethânia com Toquinho e Vinicius de capa verde que também fazia parte desse campo visual e auditivo. Assim com um pequeno single que a minha tia trouxe de Angola em tempos de guerra. Esse single, além de ser inspirador, continha uma história de resistência, de finta na censura. Ora nesses tempos, na época do fascismo que foi dos anos 30 até 1974, a censura era efetiva e as consequências de quem a ludibriasse poderiam ser nefastas. Adianto que não consta na minha família que alguém tivesse sido preso por ter em casa discos e livros proibidos. Sorte! Mas que eles existiam no lar, existiam. Um dos exemplos, além desse da Maria Betânia, era o do José Mário Branco. Assim sendo, car@ leitor@ que vê em Portugal uma possibilidade de viver por motivos vários e até participar como cidadão nesse mesmo país. CONHECER A OBRA DE JOSÉ MÁRIO BRANCO, JOSÉ AFONSO, ADRIANO CORREIA DE OLIVEIRA, SÉRGIO GODINHO E OUTROS É FUNDAMENTAL. Desconstrói as narrativas oficiais que o povo português é todo conservador e retrógado. E quem não conhece esses ícones e reproduz narrativas distorcidas e rançosas precisa sim de rever o seu conservadorismo retrógado.
A minha tia contava que consegui aquele single da Bethânia porque a censura chegava primeiro a Portugal e depois é que se estendia aos países africanos, ainda colonizados considerados na época províncias de Portugal. Outra coisa, car@s leitores brasileir@s: os moçambicanos e angolanos brancos, por exemplo, que estão em Portugal não emigrantes e sim retornados. Só para desfazer equívocos quanto à surpresa de alguns brasileir@ por estes retrornados, serem racistas em Portugal e ainda para mais na condição de emigrantes. Bem vistas as coisas @s brasileir@s brancos descendentes de portugueses ou até mesmo portugueses são igualmente retornados. Nos anos 70 os retornados eram vistos e tratados com desprezo pelos portugueses porque simbolizavam os exploradores, os colonialistas. Acredito que se cometiam algumas injustiças, mas muitos desses retornados são assustadoramente retrógados, racistas, sovinas meritocratas. Outros são muito à frente e não subscrevem essa postura. Os primeiros acham-se acima dos "pretos", passo a expressão. Muitos portugueses também se acham, assim como muitos brasileiros cuja população negra é uma fatia muito grande do território, não falando dos indígenas que muitos nem conhecem mas que se apropriam das suas lutas e imagens para proveito próprio. Essa é uma das verdades, pessoal. Obviamente não são todos assim, mas falar por essas pessoas com as suas ancestralidades e suas feridas abertas ou silenciando-as, concedendo-lhes caridosamente voz sem as escutar realmente, atendendo às suas necessidades primordiais É DESRESPEITOSO. CAUSAS DO MOVIMENTO NEGRO E INDIGENA NÃO É BIBELÔ DE SALA NEM FOTO DE REDE SOCIAL PARA PASSARMOS POR FOFINHO@S!
Nunca fui menina de tirar fotos durante a viagem. Sou do tempo da máquina e do rolo de fotos racionadas correndo o risco de se queimarem. Eu sempre preferi fotografar na minha memória. Hoje posto esta foto tirada há uma semana atrás no Morro de São Paulo, certificando-me que não havia ninguém à volta tirei a máscara. Já conhecia a ilha dos tempos da minha gravidez em 2000. É linda a ilha. Muita mata atlântica e sem carros. Mas a História pesa e precisa de ser olhada e sarada com escuta e reverência a quem foi e tem sido vitima dela. Este é um dos primeiros pontos onde os navegadores e colonizadores portugueses chegaram. Atento-me para essa ressalva quando falamos de História: ao invés de falar e escrever os portugueses referirmo-nos aos navegadores e colonizadores para não se correr o risco de narrativas xenófobas. Conheço o caso duma criança portuguesa que em sala de aula no Brasil foi rechaçada pelos coleguinhas. Ainda bem que a professora teve o bom senso de explicar às crianças o contexto histórico e seus contornos.
Aqui estou eu em trajes de veraneio. Essa também ainda é uma questão: o corpo. O corpo respeitado, não invadido, não objetificado, exotizado e erotizado para prazer duma masculinidade tóxica. É tempo de nos desintoxicarmos dessa mentalidade que leva mais de 500 anos e que tanto tem causado sofrimento. É tempo de escolhermos evoluir pelo amor e não pela dor boçal, ignorante, gananciosa, inconsciente.
No meu ponto de vista um corpo livre não é um corpo libertino submetido ao ego. Um corpo livre tem alma, faz escolhas, age por consentimento mútuo. É um corpo com amorosidade. Essa de se lambuzarem com as estrangeiras por puro exotismo e vaidade. É RETRÓGADO E COLONIALISTA. Bilhaque! Caria! Num presta!
Abraços libertários! Até jazz!
A Piu
B'Olhão Geral Zen 07/02/2022
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