domingo, 20 de dezembro de 2020

O MUNDO QUE NOS HABITA QUANDO HABITAMOS NO MUNDO - comemorando a independência dos países africanos de expressão lusófona, entre outras expressões linguísticas e culturais

" O que peço no momento é silêncio e atenção.

Quero contar o sofrimento que eu passei sem razão.
O meu lamento se criou na escravidão...
Que forçado passei.

Eu chorei.
(Eu chorei)
Sofri as duras dores da humilhação.
(Humilhação)
Mas ganhei, pois eu trazia Nãnaê no coração." 

Mateus Aleluia - Cordeiro de Nanã

Estamos perante uma entidade quando escutamos a voz de Mateus Aleluia? Uma voz profunda, doce que carrega ancestralidade e as suas dores passadas e presentes. Infelizmente ainda não é nada simples nem fácil ser negro, indígena, afro indígena e todos aqueles que não tenham uma aparência branca ocidentalizada no Brasil. Os asiáticos, nomeadamente os japoneses, também sofrem de preconceito neste Brasil multi cultural mas muitas vezes de costas viradas uns para os outros. 

Sem nunca desconsiderar as injustiças e tragédias, muitas vezes com o pretexto que para sermos iluminados não precisamos de falar nem meter o dedo na ferida, o que estes últimos cinco séculos trouxeram de positivo - apesar dos pesares- é o encontro entre povos . Hoje duma forma mais rápida, devido à internet. Hoje, em dois segundos podemos ter acesso a movimentos, a ideias, a pensamentos, a produções artísticas, culturais, a práticas ecológicas de toda a parte do mundo. Andarmos informados, meio informados ou totalmente desinformados é responsabilidade nossa. Os estímulos, os canais de conhecimento são muito importantes, para não cairmos na cilada das fake news, das pessoas fake -por detrás de identidades falsas ou não- que fazem-se passar por informadas e até serem "das nossas" ( e o que é ser "das nossas" se assumirmos que somos metamorfoses ambulantes?). 

Ser " das minhas" é na base das bases das bases, básicas do básico, respeitar a integridade física, moral e espiritual de terceiros assim como se auto respeitar.  Também trago aqui, cá dentro dos peitos onde se encontra o coração, o tórax, os pulmanitos e outros adornos necessários ao funcionamento anímico, a importância de nos enxergarmos uns aos outros partindo do principio que a força da sua existência, co criação e trabalho deve ser incondicionalmente respeitada. 

Pessoalmente não admiro a função profissional dos policiais, burocratas e afins que assumem o controle do Estado. Porém, mesmo que em alguns casos tenha que fazer um exercício hercúleo para entender e respeitar o máximo possível, enxergo um policial, um carcereiro, um burocrata e outros como trabalhadores que estão a ganhar a sua vida pelo modo que escolheram ou que acreditaram que era a única escolha. Trabalhadores e trabalhadoras com as suas famílias ou não para sustentar e que muitas vezes são mal pagos e nem consciência de classe têm. Alguns terão. Calro!

Explorar o trabalho de terceiros, além de chato, é muito chato. Não enxergar a outra pessoa como trabalhadora, criando muitas vezes fantasias que esta eventualmente vive de rendimentos ou que o seu trabalho nem é trabalho e sim um hobby, um devaneio que nem família para sustentar terá.... Refiro-me agora à profissão artista, por exemplo ou puro exemplo.

Amo de coração escutar esta música do Mateus Aleluia e sempre fico ali enroscada  naquele verso " Quero contar o sofrimento que eu passei sem razão."

Mas isso fica para o próximo texto que falarei sobre a série " Sankofa - A África que te habita". Vale muito apena assistir. Está disponível on line essa introdução à história de alguns povos africanos que vieram escravizados para o Brasil e que alguns depois retornaram para o seu berço de origem.

Abreijos e até ao próximo texto!

A Piu

Campinas SP 20/12/2020













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