terça-feira, 22 de dezembro de 2020

AMOR EM TEMPOS DE GUERRA - - comemorando a independência dos países africanos de expressão lusófona, entre outras expressões linguísticas e culturais

' Com mãos se faz a paz se faz a guerra/ Com mãos tudo se faz e se desfaz/ Com mãos se faz o poema - e são de terra/ Com mãos se faz a guerra - e são a paz. (...)  De mãos é cada flor, cada cidade/ Ninguém pode vencer estas espadas: nas tuas mãos começa a liberdade" - Adriano Correia de Oliveira

Conheci a Isabel nas andanças do teatro, ainda em Lisboa. Em muitas ocasiões era ela quem fazia o bar do teatro recheando-o com os seus belos petiscos. Nunca conheci a sua história até que um belo dia, por pura coincidência - ou não, partindo do principio que os acasos sempre acontecem por um propósito maior - ela contou-me brevemente a sua incrível e tocante história. Naquela breve viagem de elétrico ( bonde) 28, contou-me que era Angolana e tinha vários pais. Foi encontrada no mato, teria uns 2/ 3 anos por tropas portuguesas. Durante muito tempo não soube a sua idade e quando conversamos mais profundamente para um trabalho em Antropologia sobre parentesco ela ainda desconhecia o paradeiro da sua família biológica e que não tinha a certeza se gostaria de voltar a Angola para os procurar. O tempo passou-se e as peças do puzzle ( quebra cabeças) foram se encaixado como se pode ler na matéria abaixo referida. Foi a Angola, encontrou os seus parentes, a sua tia que ao fugir com ela nas costas, achou por momentos que estava cercada de javalis.

' Não fujas que eu não te mato!'. Mas a tia fugiu com uma outra criança e a Isabelita ficou ali, pequenina, a olhar para um batalhão de homens. A maioria deles arrancados das suas vidas, das suas famílias para servir a uma guerra que servia  interesses de muito poucos. Um batalhão é constituído por homens, logo por seres humanos. Homens esses filhos dum Portugal rural, sob o jugo fascismo, onde o analfabetismo chegava aos 90%. A pobreza, a fome eram a pauta da maioria da população portuguesa nesses idos anos 60. Uns já se esqueceram, mas testamos para nos lembrarmos e não defender ideais fajutos, egoicos e nefastos. Homens esses, ainda jovens, que enviavam mensagens de feliz Natal e próspero ano novo através de filmagens realizadas pelo Estado Português. Sempre a sorrir a acenar, porque afinal de contas muitos não voltaram ou voltaram todos estropiados, com sonhos noturnos irreversíveis. Uns garotos que se tornaram adultos traumatizados de guerra.

Batata Doce foi um doce que lhes surgiu nas suas vidas por um fio: ou mato ou sou morto. A minha querida amiga Isabel surgiu no meio do mato, de madrugada, iluminando a noite longa e escura do Imperialismo e do fascismo.

Vivam as andanças do teatro, da poesia, da arte, da educação, da cidadania para nos sabermos gente de verdade com verdade. E o que é essa verdade? Cada um@ terá a sua. Mas não subjugar nem nos subjugarmos já é um pontapé de saída. E nunca esquecer do que nos une que é o amor à vida e respeito a nós e ao próximo. 

ref: https://www.dw.com/pt-002/achada-no-meio-da-guerra-a-hist%C3%B3ria-de-isabel-batata-doce/a-50420764

A Piu

Campinas SP 22/12/2020





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