terça-feira, 19 de novembro de 2019

QUANDO OS HOMENS UTÓPICOS PARTEM AS SUAS UTOPIAS SEMPRE DEIXAM RASTRO

QUANDO OS HOMENS UTÓPICOS PARTEM AS SUAS UTOPIAS SEMPRE DEIXAM RASTRO
" Eu vim de longe, de muito longe. O que eu andei para aqui chegar. Eu vou para longe para muito longe onde nos vamos encontrar com o que temos para nos dar."
José Mário Branco
" Ai Ana!!! Está ali o Zé Mário Branco! Ai! Está a olhar para nós! Que vergonha! Ele é borracho! Ai que vergonha!" Ele há tias para tudo. A minha é assim e eu acho piada. Um borracho. Uma gíria da época para dizer que alguém é bonitão com estilo. Ora isto foi no Coliseu de Lisboa naquele concerto solidário: " Abraço a Moçambique" com vários artistas portugueses. Ora isto em 1985. Xina pá!!! Já fez esse tempo todo! Eu era uma menininha que nesse mesmo ano comecei a ir à Festa do Avante e a ler a Mafalda do Quino! Mas desde que me sei gente vasculhando os vinis lá de casa aparece um do Zé Mário Branco: " Margem de certa maneira" com uma dedicatória do tio Benjamim ao meu pai pelo seu aniversário, alegando que o disco acabara de ser censurado quando já o tinha em mãos. Vivia-se o ano da graça do senhor de 1972. Eu ainda não era nascida então esse é só registro material duma pequena irreverência familiar já no finzinho da Dita Dura Fazxixi na cueca velha e gasta.
Para mim o José Mário Branco foi e é uma lição, porque exemplo nas suas letras e composições, de anti colonialismo, anti imperialismo e dum homem feminista, se é que assim se pode chamar, preocupado com a condição da mulher enquanto mulher e trabalhadora.
Hoje, logo pela manhã recebi a noticia da sua partida através do meu pai. Assustei-me porque achei que fosse um familiar próximo. Josés há muitos, num é mesmo? Ele não era um familiar próximo mas fez parte da minha consciência de cidadã portuguesa no mundo. Isto sem nacionalismo, claro! Mas como português que se exilou em França durante a guerra com os países africanos que lutavam pela sua independência face a Portugal, este senhor merece ser respeitado, mesmo que muitos não concordem com as suas escolhas partidárias. Deve ser respeitado e conhecido. Principalmente no Brasil em que muitos desconhecem cidadãos portugueses deste calibre atribuem muitas vezes as suas maleitas atuais à Coroa Portuguesa. Vixi Mária Zeus nos acude! Conhecer e lembrar este senhor como o seu grande e querido amigo José Afonso, poeta, compositor, cantor, músico e tudo, são o exemplo de Homens inspiradores que nunca baixaram os braços no que toca a ser solidário. Sonharam um país mais justo, mais igualitário. Algumas vezes o gosto amargo da frustração sente-se nas suas letras. Principalmente nas do Zé Mário Branco. Então, gostaria de segredar ao seu ouvido dos seus 77 anos: mudar o mundo e mudar os outros como gostaríamos talvez seja um desafio hercúleo e um tanto ingrato. Manter a nossa paz de espirito e nos apaziguarmos com o que a realidade nos oferece sem nunca perder o trago doce de viver e inspirar uns tantos, por vezes não muitos ou muitos mas só na teoria já é um grande feito. ATÉ SEMPRE ZÉ MÁRIO BRANCO! MANDA CUMPRIMENTOS AO ZECA SE O ENCONTRARES NESSE OUTO PLANO? Para quem acreditar em outros planos, num é mesmo kamarada Zé Mário?  
A Piu
Br, 19/11/2019
foto
esquerda: José Mário Branco, direita: Zeca Afonso
" Abraço a Moçambique" - Tema destinado a promover a recolha de fundos para ajudar as populações mais carentes em Moçambique - 1985
O cantautor nasceu no Porto há 77 anos. O álbum mais emblemático de José Mário Branco foi "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades". José Mário Branco é autor de uma obra singular no panorama musical português, passando por géneros como a música de intervenção e o fado, entre outros.
Considerado um dos maiores nomes da música portuguesa, José Mário Branco morreu esta terça-feira.
https://www.rtp.pt/noticias/cultura/morreu-jose-mario-branco-aos-77-anos_n1186681
esquerda: José Mário Branco, direita: Zeca Afonso

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