quarta-feira, 20 de novembro de 2019

AS VANTAGENS DO OLHAR FORASTEIRO COM PROXIMIDADE E DISTANCIAMENTO

" Nunca esqueça de quem você é e de onde você vem." - conselho do pai na partida de Marjane Strapi do Teerão, Irão para Viena de Áustria

" Escute. Eu não gosto de dar lição de moral, mas vou te dar um conselho que te servirá para sempre. Na vida você encontrará muitos imbecis. Se eles te machucarem diga para você mesma  que é besteira que os empurra de fazer mal. Isso evitará que responda à maldade deles. Pois nada há pior no mundo que o rancor e a vingança. Seja sempre digna e integra com você mesma. - conselho da avó na partida de Marjane Strapi do Teerão, Irão para Viena de Áustria ( versão filme)

in: Satrapi, Marjane "Persépolis"
Título: Persépolis
Autora: Marjane Satrapi
Ilustradora: Marjani Satrapi
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2007 (Edição Completa)
Páginas: 352







Hoje no Brasil comemora-se o dia da consciência negra. Se todos nós tivessemos acesso a fazer constelações familiares provavelmente encontraríamos avós, bisavós, trisavós de outros continentes e pigmentações. Desde os primórdios somos seres tanto nómadas como sedentários com necessidade de pertença.
O Brasil, por exemplo, é um caldeirão de origens do mundo inteirinho e arredores. Humanos que já aqui vivem há milhares de anos e que há também quem diga que vieram da Ásia através dum estreito. Humanos que vieram em navios negreiros, outros em navios de todas as partes do mundo em busca da promessa do Novo Mundo. Refugiados, exilados, emigrantes, degredados, deportados, conquistadores e conquistados. Esse lugar de trânsito, em circunstâncias muitas vezes se não sempre de vulnerabilidade e alguma precariedade, possibilita separar o trigo do joio, quando estamos dispost@s a aprender, mesmo que possamos bater com a cara e o corpo todo no chão porque desavisados de alguns códigos de conduta e umas tantas imbecilidades daqueles que se consideram donos do bairro, movidos por preconceitos, fobias e um auto desconhecimento considerável que levam a disputas desleais. Alguém que compete com um estrangeiro, forasteiro um espaço que já conhece ao invés de acolher está tendo um comportamento imbecil. Um estrangeiro que também chega chegando sem respeito também precisa de se rever. Não significa que a pessoa seja sempre imbecil, mas não se dá conta por vezes que está sendo imbecil. Embora haja quem se orgulhe da sua imbecilidade, argumentando, justificando que exerce uma relação abusiva sobre outra pessoa, porque esta por algum motivo não é confiável. Por vezes pelo simples facto desta ser forasteira, estrangeira, diferente ou aparentemente diferente. Os narcisismos das pequenas diferenças e o medo do desconhecido leva a imbecilidades. Então pode ocorrer à calúnia e difamação. Se num primeiro momento pode dar vontade de saltar para o colarinho da pessoa, aliás do pescoço mesmo e abanar, dizendo: Se liga, meu ou minha! Aqui é papo reto sem frufru! Você acha que estou aqui para enganar os outros ou ser enganada?!?! Você acha que andei isto tudo para explorar ou ser explorada? Para zombar ou ser zombada? Para oprimir ou ser oprimida com aquele sorrizão oba oba? Estou aqui para T-R-A-B-A-L-H-A-R E M-E T-R-A-B-A-L-H-A-R . Ai a minha vida! Terei que explicar com laranjas? Se liga!!! Estou aqui por motivos maiores que a mesquinhez da competição e da solidariedade manca!"

A raiva existe, o sofrimento que vem antes também, mas sabermos as suas causas para superá-las com inteireza e dignidade já é muito revolucionário.  Transformar a rancor em ações benéficas onde a vingança não cabe. Transformar a raiva nociva em raiva construtiva. Não deixarmos desermos nós sem perder a ternura e a firmeza dum basta ou de um "estou aqui para compartilhar com quem valoriza". Assim como não reproduzirmos micro e macro violências quando ocupamos alguns lugares em que naquele momento temos poder. O poder da palavra, por exemplo, que também pode ser bastante construtiva como destrutiva. O poder da ação que pode ser inclusiva ou excludente. Por exemplo, um professor de artes, ou outro professor, é uma responsabilidade potente para estimular ou desestimular e até deprimir alguém que queira seguir determinado caminho. Quem nunca teve um professor, por exemplo de artes, que nos falou que nunca seriamos nada e que era melhor desistir? Isso é uma violência. Fica a reflexão para tod@s nós que tanto somos alunos, estudantes, pesquisadores como professores e diretores em diversas situações. Responsabilidade ética é o que a avó e o pai da Marjane Satrapi chamam a atenção. 

2019, um ano excelente para repensarmos as nossas condutas e as aberrações que os governantes representam ou não do mais intimo do nosso ser bem lá no fundinho longe das luzes da ribalta e do glamour.

Beijos e abraços sinceros neste feriado da Consciência Negra que é a consciência que somos todos de carne, osso, alma, espírito com as nossas semelhanças e diversidades. 


A Piu
Brasil, 20/11/2019






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