quinta-feira, 28 de novembro de 2019

A SENSUALIDADE DE SER UM HOMEM DE ALMA FEMININA E MASCULINA

" Eu sempre ouvindo as vozes femininas (...) eu sempre me apaixonei pela voz de mulher e não gostava muito de voz de homem. Porque para mim a mulher cantava com o coração. As mulheres. E os homens queriam demonstrar o poder da voz que eles tinham. Então, eu imitava todas."
Milton Nascimento ¹



Dando continuidade à celebração do dia consciência negra, no feriado nacional brasileiro 20 de novembro, uma consciência não vem só. Trazer para a consciência de que somos iguais com as suas diversidades e características abre-nos caminhos para que possamos repensar paradigmas, valores, coisinhas e coisadas, práticas que urgem diluírem-se. Como estamos aqui numa página sobre violência contra a mulher, relações abusivas e palhaçaria feminina talvez seja importante relembrar que o olhar, a narrativa é de amor. Porque discursos de ódio, raiva descontrolada, inimizades e desirmandades é o que mais rola por aí. Então é urgente irmos na contra mão dessas toxidades, por mais que as tentemos justificar.

Olhemos para esta foto do Milton e a fala dele retirada dum documentário. Primeiro que tudo ele lembra uma matriarca, uma mama África. Isso compromete a sua virilidade? E o que é uma virilidade comprometida, posta causa? Como canta o outro: " Ser um homem feminino não fere o meu lado masculino".  A sua fala, no meu ponto de vista claro, é uma sacada duma postura patriarcal muitas vezes também praticada por mulheres !!! Através de algo, duma expressão artística no caso, querer demonstrar poder ao invés de sentir com o coração, colocar sentimento e compartilhar para sermos seres mais leves, descartando o peso da competição tóxica. Quando se coloca sentimento a forma é secundária, assim como o virtuosismo. Hoje não falarei dos supostos intelectuais que se resumem à reprodução de  pensamento ou só dão valor à parte esquerda do cérebro, menosprezando a intuição e poder da criatividade. Zimbora, continuemos. Cantar com o coração, pensar com o coração, agir com o coração é estar em consonância com ambas as partes direita do cérebro. 


O Milton, com a sua arte de poeta, compositor e cantor, desconstrói uma lógica falocêntrica ( em outros textos esmiuçaremos o que é uma lógica falocêntrica, que essa sim compromete a masculinidade sã) , patriarcal que temos que ter poder sobre algo ou alguém, logo sermos proprietários. Ter propriedade sobre algo não é o mesmo que sermos proprietários. Termos propriedade é estarmos familiarizados, principalmente com nós mesmos. Ter (auto) conhecimento para caminhar no mundo. Já ser ou pretender ser proprietário é querer tudo controlar, mas no exterior, no plano das ideias e da subjugação destas sobre algo ou alguém.

Estamos numa fase de transição que já leva uns bons pares de décadas. Principalmente quando as mulheres começam a sair de casa, ali logo a seguir `Revolução Industrial no final do século XIX e às grandes guerras, para ocupar lugares antes somente ocupadas por homens.


Depois de toda esta loucura que foi o último século, pelos  conflitos nacionais e internacionais, avanços e retrocessos no que se trata de viver numa sociedade mais saudável não podemos descurar o papel do desejo e da sexualidade no meio de toda essa história toda. Nos últimos milênios o que nos chega é a história de batalhas, impérios, povos se aniquilando mutuamente, violência, matanças e  estupros. Sempre foi assim ou isso é parte duma Era onde a energia feminina na sua plenitude e o masculino não distorcido foram menosprezados?

As mulheres falarem que os homens são todos machistas é justo? Os não brancos dizerem que todos os brancos são racistas é justo? E por aí vai. Talvez já seja tempo de focar o nosso olhar para quem já está aí há um tempo rompendo com esses paradigmas do poder pelo poder, da subjugação dum ser pelo outro ser. 

No fundo, no fundo todos nós queremos ser aceites e acolhidos. Mesmos os mais arredios e que acham gracinha em serem mal intencionados e vingativos. Olhando com compassividade percebemos que são seres entristecidos, porém precisam de limites. É isso, temos que saber lidar com as frustrações, porque estas fazem parte da jornada. Saber lidar com a frustração e com a raiva. Porque vamos combinar: essa de sentir raiva é politicamente incorreto e até mesmo espiritualmente incorreto é uma balela, uma treta. Sim, como sentimos amor também sentimos raiva. Como sentimos esperança também sentimos frustração. A questão é como lidamos com isso sem jogar as nossas emoções tóxicas para cima dos outros e ao limite virarmos uns faxixi, uns Adolfitos e umas Adolfinhas. Naõ podemos definhar nas nossas obscuridades. Somos todos luz. As nossas mães deram-nos à luz. Num é memo? Referenciar a vida é reverenciar essa mãe que nos deu à luz. Então não cabe menosprezar, desprezar, perseguir, mal tratar as mulheres. é um desrespeito para com nós nós mesmos. Pois num é?

Assim sendo, deixo aqui uma outra passagem do livro do médico psiquiatra Flávio Gikovate para dar aquela degustação para o próximo texto aqui publicado:

"  Surgem, com a vaidade adulta e o desejo visual, as mostras mais claras de humilhação: aquele que deseja, tenta se aproximar do objeto do desejo e se percebe rejeitado e experimenta uma sensação terrível, inversa à que corresponde ao prazer erótico da vaidade. Trata-se duma dor muito forte, que complica o psiquismo de inúmeros rapazes ao longo dos primeiros anos de vida adulta. Há mais de 30 anos venho correlacionando essa frustração masculina própria do início da adolescência com as manifestações típicas do machismo, entre elas o enorme empenho de tantos homens - inclusive alguns autores ilustres do passado - de rebaixar as mulheres e tentar provar, na medida do possível, sua inferioridade. " ²

 A Piu
Brasil, 28/11/2019



¹ in: Documentário "Sobre Amigos e Canções"

Direção e Roteiro: Bel Mercês e Leticia Gimenez Edição: Thais Cortez Apoio: TV PUC / TV Cultura

² Gikovate, Flavio " Sexualidade sem fronteiras". Mg EditorasSP: 2013

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