sexta-feira, 15 de novembro de 2019

CRÓNICAS DE VIAGEM - a prosperidade dos bons vínculos

A luta mais antiga da Humanidade é a luta de classes? - perguntou-me.
Não!- respondi. A primeira luta mais antiga é da sobrevivência fase à fome, sede, frio, calor e outros seres vivos que não humanos. A segunda luta mais antiga de toda a Humanidade é a luta de egos, em que o poder, o prestigio, o controle sobre os outros e os territórios são manifestações desses egos que algumas vezes não enxergam que somos UM cada um no seu lugar, com a sua função e o seu propósito em consonância com a Natureza. 

No Museu do Ouro, em Bogotá, estão expostas algumas esculturas de um homem sentado onde se pode ler mais ou menos isto: os homens sentam-se para meditar sabiamente ou para se sentar em cima dos outros. Ora, no meu ponto de vista, um homem que se senta para meditar logo silenciar a mente e conectar-se com a sua batida do coração e respiração celebra a simplicidade profunda que é o sopro da vida, dando-lhe valor e compreendendo o que é equanimidade. Mas isso tem a ver com o propósito pelo qual se senta. Dar uma explicação homogénia à história da Humanidade é redutor, porque esta é complexa nas suas diferentes eras com inúmeras sociedades e culturas.

A luta de classes, como enxergamos nos nossos dias, tem a ver com o capitalismo, ao limite com o  neo liberalismo e socieadade de consumo desenfreado. Numa primeira fase mercantilista e numa fase seguinte com a revolução industrial. Anteriormente a isso, e também em simultâneo, tem a ver com o feudalismo. Com a posse de terras duma, coroa, duma instituição religiosa, dum latifundiário que emprega ou escraviza a população, o povo.

Desconheço territórios e/ou países onde não existam classes sociais. Porém existem lugares onde a renda é mais distribuída que em outros onde o valor do trabalho de terceiros é desconsiderado por quem detêm o poder ou imagina que o detém


É " compreensível " que países como os da América Latina, por terem uma história de colonizados tanto pelos europeus como seus descendentes que hoje habitam a América mais a norte a narrativa do perigo komuna ainda seja um fantasma para muitos coronéis e outras patentes. 

O que está nas nossas mãos fazer? Primeiro que tudo fazer diferente. Valorizar o trabalho de todos com respeito, mesmo que não o apreciemos por algum motivo. Se em algum momento assumimos a chefia de algo ou até mesmo somos patrões do nosso empreendimento sermos honestos, justos e transparentes para com quem trabalha connosco, para nós ou para um projeto nosso. Assumir que somos falíveis e escutar os pontos onde temos de melhorar para mantermos vínculos de trabalho saudáveis. Prosperidade é criar bons vínculos com uma equipe e não só explorar para vantagem própria. No segundo caso a vida está aí para chacoalhar quem acredita que assim é.

Abaixo podemos apreciar dois desenhos feitos na prisão durante o regime fascista português que durou entre 1932- 1974 por Álvaro Cunhal, um líder carismático português do PCP. Podemos estar ou não de acordo com as suas ideias, e seus apoios a regimes como o da ex URSS. Quem conhece minimamente o que se passou nesse bloco durante a guerra fria, através de relatos de nativos, relatos literários, artísticos, etc saberá com certeza que foi um regime tão nefasto ou pior que o regime alemão do século passado. Regimes autoritários, totalitários independentemente dos dogmas seguidos são opressivos, logo não servem para celebrar o simples facto de estarmos vivos. Porém, acredito que muitos como Álvaro Cunhal tivessem boas intenções, nem que fosse num primeiro momento: justiça, igualdade, a terra é de quem trabalha, dignidade e direitos para quem trabalha. Mas o ego com a sua avidez de poder é lixado! Assim como os seguidistas que ao invés de exercitarem o questionamento preferem ídolos. Porém os regimes autoritários e/ou totalitários não permitem isso. Uma armadilha das boas causas que carecem de sentar e meditar sem nos sentarmos em cima dos outros. E isso vale para tudo! Principalmente para as micro relações que é que está mais ao nosso alcance de fazermos diferente. 

Façamos assim silêncio pela vítimas das boas causas autoritárias. Façamos silêncio pelas vezes que somos autoritários e opressivos. Pretendendo sermos os vencedores ao invés de vitoriosos no entendimento que só podemos evoluir pelo Amor.

A Piu
Br, 15/11/2019




Álvaro Cunhal - desenhos de prisão 
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Álvaro Cunhal

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