sábado, 26 de fevereiro de 2022

AMOR, PAIXÃO E/OU FANTASIA



Got a feeling inside (Can't explain)/ It's a certain kind (Can't explain)
I feel hot and cold (Can't explain)/ Yeah, down in my soul, yeah (Can't explain) - ' I Can't Explain', The Who
Talvez toda a aquela história pudesse ser contada numa cassete de 90 minutos. Noventa minutos seriam o suficiente para colocar silêncios, hesitações, desejos, fantasias, esperas prolongadas, expectativas, apreensões,mal entendidos, admirações e também respeito mútuo? Caberia numa cassete de 90 minutos tempos imemoriais, quem sabe de vidas passadas?
A fita da cassete destrambelhou. Ainda bem que havia a velha bic laranja de escrita fina para enrolar a bichinha. Sempre acontecia no mesmo lugar. Assim que o Morisson começava a cantar " Riders on the storm" a fita fugia. E ela convidava-o, a ele, telepaticamente, a ficar, a ter paciência para escutar e olhar bem como voltar a colocar a fita direitinha. Ele era um pouco reativo. Até um certo ponto compreensivel. Além de nunca ter conversado pessoalmente com ela havia aquele emaranhado do irmão, como a fita da cassete que decidia desandar no "storm" dum lado e do outro " I love to love" cantado pela Bjork em criança.
Esse emaranahdo com o irmão talvez fosse o mais desafiador de desemaranhar. A fita cassete do lado desse emaranhado entre dois manos era batata.
Certa vez ele colocou vários piercings na sobrancelha. Qual o significado por detrás desse gesto, dessa ação? Uns defendem que é reflexo de ousadia, coragem, por um lado. Por outro, ainda se acrescenta que é confiança demasiada em algo ou alguém. Para outros ainda significa aprisionamento da mente. A mulher não fazia nem juízos de valor nem se aprisionava a uma só teoria. Se na prática era ousadia e coragem tinha sido certeira na paixão por aquele homem. Paixão ou amor mesmo que há distância? Se ele confiava demasiado em alguém ou algo isso tinha os seus lados positivos, mas também negativos. Confiar é importante, principalmente em quem está mais próximo como um irmão por exemplo mas era nessa parte que a mulher ficava apreensiva... Teria ele coragem, ousadia de enfrentar as babaquices do mano, sem deixar de ser seu amigo e até ficar de boa? Pelo menos para que este não voltasse às suas brincadeirinhas de mau gosto. Essa era a parte da fita que talvez precisasse duma bic cristal da escrita normal ou seria melhor manter-se na bic laranja da escrita fina para que essa fita entre os dois não voltasse a desandar da cassete dos Red Hot Chili Peppers na faixa " The Zephery Song" onde do lado b estava The Who" I can't explain".
Enquanto isso ela aguardava pacientemente há anos que ambos se desenmaranhassem. A esperança é a última a sucumbir e talvez não se explique por palavras e sim por pulsações, vibrações. E do longe se faria perto.
A Piu
Br, 26/02/2022

CARTA A CLARICE


Querida Clarice, ontem na minha imersão entre arterapia e arte e educação conheci uma contemporânea tua: Lygia Clarck!! Conterrânea? Porque não!?.... Ela nasceu no mesmo planeta terra que tu, no mesmo ano que tu - 1920- mas num território do outro lado do mundo que viria a te acolher, a ti e à tua família judia vinda da Ucrânia, fugindo à perseguição russa que vem da época do Czar e que Stalin deu continuidade.

Acreditas, querida Clarice, que volvidos 102 anos, depois de teres chegado ao Brasil, a Ucrânia ainda tem que levar com esses marmanjos da Rússia?Acreditas que ainda haja quem, em nome dos direitos dos trabalhadores, da reforma agrária e da distribuição de capital dê vivas ao Lenin, Stalin e Putin?!?!?! Primeiro: colocar o Lenin no mesmo baralho do dos outros dois, sendo que tudo indica que este foi assassinado pelo camarada Stalin, Já o Putin , que pertencei à KGB, está no poder há uma mão cheia de anos depois da Perestroika. Volvidos 33 anos da cortina de ferro aparentemente cair esta volta a ameaçar erguer-se. O que é estonteante é como ainda haja quem aplauda o Putin, como se fosse um camarada que vem trazer a dignidade aos trabalhadores e meios de produção. Isso é ser teimosamente comunista ou psicopata que se apropria de ideologias? Esses aí são só a face duma mesma moeda. Talvez esta moeda tenha um formato escanifobético: EUA dum lado, Rússia do outro, Médio Oriente ( ou Oriente Médio...) do outro, China, Japão, Alemanha, Itália, França, Inglaterra.... Enfim, a Humanidade ainda repete as mesmas coisas com mais ou menso sofisticação em prole duma lógica patriarcal, neo liberal, de sede de poder, de dominio por aquilo que não lhe pertence, por desprezo pela vida. Agora coloquemos isso no micro: quem persegue alguém seja com menor ou maior intensidade é fascista. Quem acha que perseguir alguém, só por diversão,por exemplo ser hacker e cometer bulling via internet é apena suma brincadeirinhas precisa de ser avisado  firmemente.: além de ser babaquice, isso pode causar danos morais a quem não tenha jogo de cintura para lidar com essa piada de muito  mau gosto, ao limite é uma atitude fascista. Pode até postar coisinhas fofinhas que está do lado das feministas. Talvez seja para provar uma ou outra e palitar os dentes com várias? Qual o homem contemporâneo, informado que se quer sensivel às conturbações da Humanidade e do planeta quer compactuar com isso ou ser confundido com essa babaquice? 

Sim o Stalin e o Putin estão no saco dos fascistas. E você, homem que se quer e deseja inteligente, sensível e justo é estético e ético ter atitudes de fascistazinho de bolso? Sim, porque há os de bolso e outros de mala de porão. Os de bolso nós sacudimos para ver se arejam as ideias, já os de porão deixá-los estar no porão para ver se se decompoeem e se transmutam em luz celestial, para não desmentir que estamos nesta virada para a Nova Era. Porque mais parece o retorno da Velha Bera*.

Mais tarde vou novamente mergulhar no trabalho da artista visual e arte terapeuta Lygia, que é tão inspirador como eu teu trabalho literário que já conheço há muito. No próximo texto falarei sobre essa questão das pobres meninas ricas e essas questões das oportunidades e privilégios.

* bera- termo da giria portuguesa que significa que tem boa aparência, mas nenhum valor. Que revela mau carácter, maldade, malevolência.

A Piu

Br, 26/02/2022

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

AS SELFIES INSTâTANEAS DE ALBERTINA DESATINA


 Maria Albertina encontrou um estilo muito dela, mas não é  só dela. É dela porque é dela, com as suas referências ao karate kid, ao teatro kabuki e ao balinês, fazendo também referência ao cinema mudo dos anos 20 como também à banda punk rock The Clash com a melodia " Should I stay or shouldo I go" ( fico ou vou/ fico ou caio fora, bazo, dou de frosques)

Albertina Desatina descobriu o karaoke eedecidiu fazer um teledisco/ um vídeo clipe para ser mais moderna.

ATÉ JÁ COM ALBERTINA DESATINA

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

PARA QUANDO SERÁ O PRÓXIMO CARNAVAL?- e aí brazuca? fala a tuga!

 

" Brincante" é um termo que aprendi no Brasil. Conheçia, usava e uso "pantomineiro", "brincalhotice"," folguedo". Também nunca tinha feito a distinção entre cultura popular e erudita, desde que aqui cheguei. Para mim isso já seria um debate que tinha ficado lá atrás, tipo anos 30, 40... Porque nos entretantos vieram uma série de fusões mais a cultura pop. tenho para mim que essas distinções polarizadas são resquicios de fossos sociais enormes,onde o classismo está presente. Assim como o racismo.
Já tinha ouvido falar em Portugal sobre o trabalho do Antônio Nobrega. Por alto. Há umas semanas dei de caras com o filme " Brincante", um documentário sobre o trabalho do Nóbrega em parceria com a sua esposa Roseane Almeida. Encantada googlei e encontrei o Instituto Brincante, que já conhecia por lives mas não associava a esses dois seres carismáticos que falam da cultura popular brasileira com tanto carinho, paixão, respeito e admiração pelos três eixos que constituem essa riqueza artistica, cultural, espiritual de re existência.
Neste final de semana tive a honra de acompanhar três aulas on line oferecidas pelo Nóbrega, Roseane e Maria Eugênia ( filha de ambos). Dancei na minha sala um tanto de maracatu rural e também conheci caboclinho e outras danças que para mim são novidade. Já sabia da existencia do cavalo marinho, do maracatu, do bumba meu boi mas essa riqueza imensa é um mundo ancestral novo para mim. Antropologia na prática, no campo. Sem snobismo nem teorias para boi dormir.
Nóbrega refere-se aos três eixos constituintes como os indigenas "misigenados", aos africanos e afro descendentes escravizados e aos portugueses desassistidos, que são os degredados vindos da ralé, do povão, do lado oposto da coroa portuguesa. ISSO É DAR DIGNIDADE ÀS RAÍZES E À HISTÓRIA. É conhecer a mesma e enxergar com o coração todo esse duro processo histórico com as suas diferenças de classe e as suas resistências. Foi das poucas vezes, se não a única, que ouvi alguém brasileiro referir-se aos portgueses duma forma lúcida e também honrando essa diáspora de desassistidos. Esse termo diz muita coisa. É um termo vindo de alguém que defende o povo e que tem a nitida noção de que a cultura popular é uma ode à vida, à união, ao riso, à brincadeira, à utopia.
Depois desse bálsamo quase quase desisti de dar importância aquela página de mulhereres brasileiras que justamente dão o seu depoimento como imigrantes pelo mundo e as inúmeras situações de xenofobia, racismo, machismo que sofrem. Até aí subscrevo e apoio, mas quando os comentários são puros discursos de ódio e ignorância com base nas frases e ideias feitas que o povo portguês é todo burro, estúpido e explorador. Aí a porca torce o rabo e a vontade é dar aquela puxada de colarinhos até perto da ponta do nariz, com máscara obviamente, e olhos nos olhos perguntar: " O que vocês conhecem das lutas anti fascistas e anti colonialistas portuguesas? Essas suas liberdades de expressão fajuta só é possivel em Portugal porque muitos lutaram pela liberdade de expressão e muitos foram torturados, presos e mortos até 1974. Baixa a bolinha que o guarda redes/ goleiro é anão!" Aí a(s) pessoa(s) já se sente(m) agredida( e ainda capaz(es) de difamar que lhe batemos. Já me aconteceu ser alvo de calúnia e difamação. Pois é! Não são só as brasileiras. Deve fazer parte do combo de sermos forasteiras e em algum momento não sermos bem vindas em algum lugar por pura ignorância. O mais curioso é perceber que há quem acredite sem averiguar as difamações. Aí é a prova dos novesde quem é realmente amigo ou faz-se. E o tempo é muito sábio, pessoal. É necessário confiar nesse sujeito, no tempo.
Assim sendo opto por escrever e denunciar às redes sociais eventuais discursos de ódio com cara de democracia, feminismo e direitos humanos. Se eu vos contasesse as roubadas xenófobas e machistas que eu já vivi no Brasil, idênticas às que as brasileiras vivem fora do Brasil, só que no caso eu tenho uma nacionalidade que me cataloga de tal e tal e as brasileiras teem um infortunio de serem vistas muitas das vezes como garotas de programa, como se estas garotas de programa não merecessem igual respeito.
Até ao próximo texto sobre encontros amigáveis e desfazeduras de equivocos e desperpetuações de ranços marafados.
Beijos e abraços sinceros e amigáveis dispensando a tal da cordialidade dúbia.
A Piu
Br, 21/02/2022
foto tirada em Campinas SP em 21/02/2012



segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

OPORTUNIDADE OU PRIVILÉGIO DE CONHECER? - III


As primeiras noticias que me chegaram sobre a Bahia foi na infância e adolescência, através dos romances de Jorge Amado que faziam parte do campo visual lá de casa duns discos de 1970. Um deles era um vinil LP da Maria Bethânia com Toquinho e Vinicius de capa verde que também fazia parte desse campo visual e auditivo. Assim com um pequeno single que a minha tia trouxe de Angola em tempos de guerra. Esse single, além de ser inspirador, continha uma história de resistência, de finta na censura. Ora nesses tempos, na época do fascismo que foi   dos anos 30 até 1974, a censura era efetiva e as consequências de quem a ludibriasse poderiam ser nefastas. Adianto que não consta na minha família que alguém tivesse sido preso por ter em casa discos e livros proibidos. Sorte! Mas que eles existiam no lar, existiam. Um dos exemplos, além desse da Maria Betânia, era o do José Mário Branco. Assim sendo, car@ leitor@ que vê em Portugal uma possibilidade de viver por motivos vários e até participar como cidadão nesse mesmo país. CONHECER A OBRA DE JOSÉ MÁRIO BRANCO, JOSÉ AFONSO, ADRIANO CORREIA DE OLIVEIRA, SÉRGIO GODINHO E OUTROS É FUNDAMENTAL. Desconstrói as narrativas oficiais que o povo português é todo conservador e retrógado. E quem não conhece esses ícones e reproduz narrativas distorcidas e rançosas precisa sim de rever o seu conservadorismo retrógado.

A minha tia contava que consegui aquele single da Bethânia porque a censura chegava primeiro a Portugal e depois é que se estendia aos países africanos, ainda colonizados considerados na época províncias de Portugal. Outra coisa, car@s leitores brasileir@s: os moçambicanos e angolanos brancos, por exemplo, que estão em Portugal não emigrantes e sim retornados. Só para desfazer equívocos quanto à surpresa de alguns brasileir@ por estes retrornados, serem racistas em Portugal e ainda para mais na condição de emigrantes. Bem vistas as coisas @s brasileir@s brancos descendentes de portugueses ou até mesmo portugueses são igualmente retornados. Nos anos 70 os retornados eram vistos e tratados com desprezo pelos portugueses porque simbolizavam os exploradores, os colonialistas. Acredito que se cometiam algumas injustiças, mas muitos desses retornados são assustadoramente retrógados, racistas, sovinas meritocratas. Outros são muito à frente e não subscrevem essa postura. Os primeiros acham-se acima dos "pretos", passo a expressão. Muitos portugueses também se acham, assim como muitos brasileiros cuja população negra é uma fatia muito grande do território, não falando dos indígenas que muitos nem conhecem mas que se apropriam das suas lutas e imagens para proveito próprio. Essa é uma das verdades, pessoal. Obviamente não são todos assim, mas falar por essas pessoas com as suas ancestralidades e suas feridas abertas ou silenciando-as, concedendo-lhes caridosamente  voz sem as escutar realmente, atendendo às suas necessidades primordiais É DESRESPEITOSO. CAUSAS DO MOVIMENTO NEGRO E INDIGENA NÃO É BIBELÔ DE SALA NEM FOTO  DE REDE SOCIAL PARA PASSARMOS POR FOFINHO@S!

Nunca fui menina de tirar fotos durante a viagem. Sou do tempo da máquina e do rolo de fotos racionadas correndo o risco de  se queimarem. Eu sempre preferi fotografar na minha memória. Hoje posto esta foto tirada há uma semana atrás no Morro de São Paulo, certificando-me que não havia ninguém à volta tirei a máscara. Já conhecia a ilha dos tempos da minha gravidez em 2000. É linda a ilha. Muita mata atlântica e sem carros. Mas a História pesa e precisa de ser olhada e sarada com escuta e reverência a quem foi e tem sido vitima dela.  Este é um dos primeiros pontos onde os navegadores e colonizadores portugueses chegaram. Atento-me para essa ressalva quando falamos de História: ao invés de falar e escrever os portugueses referirmo-nos aos navegadores e colonizadores para não se correr o risco de narrativas xenófobas. Conheço o caso duma criança portuguesa que em sala de aula no Brasil foi rechaçada pelos coleguinhas. Ainda bem que a professora teve o bom senso de explicar às crianças o contexto histórico  e seus contornos.

Aqui estou eu em trajes de veraneio. Essa também ainda é uma questão: o corpo. O corpo respeitado, não invadido, não objetificado, exotizado e erotizado para prazer duma masculinidade tóxica. É tempo de nos desintoxicarmos dessa mentalidade que leva mais de 500 anos e que tanto tem causado sofrimento. É tempo de escolhermos evoluir pelo amor e não pela dor boçal, ignorante, gananciosa, inconsciente. 

No meu ponto de vista um corpo livre não é um corpo libertino submetido ao ego. Um corpo livre tem alma, faz escolhas, age por consentimento mútuo. É um corpo com amorosidade.  Essa de se lambuzarem com as estrangeiras por puro exotismo e vaidade. É RETRÓGADO E COLONIALISTA. Bilhaque! Caria!  Num presta!

Abraços libertários! Até jazz!

A Piu

B'Olhão Geral Zen 07/02/2022


 


quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

PRIVILÉGIO OU OPORTUNIDADE? - II

Niguém merece ser alvo de preconceito, seja de forma pejorativa ou com as expectativas lá no alto. Ou merece? Ser se visto e tratado a partir duma ideia pré concebida, cheia de generalizações e em muitos casos de informações distorcidas,  anulando a observação e a escuta não é também uma violência?

Até ter sido alvo de preconceito, assim que saí do meu paízinho à beira mar plantado, achava que não havia razões para tal, que eu estava imune. Preconceito da minha parte! Preconceito de achar que não existem razões para eu sofrer de preconceito. A primeira vez que senti na pele esse preconceito foi quando fui estudar com uma bolsa para a Paris da França. Poizé!... Eu achava que eles eram muito evoluidos e civilizados, cívicos digamos, cidadãos do bem diria, com acesso à educação, liberdade e igualdade... Preconceito meio. Uns serão assim, mas outros não. Porém, está latente a arrogância de se acharem o centro do mundo apoiados por outros povos com complexo de vira lata dos ditos países periféricos, ao limite chamados de terceiro mundo. O Brasil, por exemplo, fica naquele impasse entre os States e Paris, falando da Europa como se essa capital fosse o continente. Uma fatia considerável da população brasileira tem um deslumbramento eurocêntrico, mesmo quando critica a colonização identitária, cultural.

Também já senti preconceito no Brasil. Umas vezes de forma mais escancarada, mas na maioria das vezes subtil, sutil. SUBETIL, VÁ! Ou SU~.Para ninguém ficar de fora. A mais escancarada, como escrevi em textos anteriores, foi com um ex companheiro, pai da minha primeira filha. Levei anos a entender esse fel que ele jogava em cima de mim. Levei 23 anos, sendo mais especifica. Apesar de com ele terem sido "apenas" três anos de convivência. Conclui que além de ele ser machista e misógino, não é o único e sim um perfil de sujeito, ele reproduz uma narrativa de ódio que eu já escutei e observei de muit@s brasileir@s, duma forma mais 'sub~' ou descarada. Somos todos uns europeus arrogantes colonizadores, invasores com medo de sermos invadidos e no caso de Portugal é um país lixo. O que é curioso é escutar isto de cidadões e cidadãs cujo sonho, o seu grande sonho era morar na Europa e que de um dia para o outro Portugal virou a terra das oportunidades. Nesse compasso ' bom de mais' , do "super maravilhoso"sem averiguar, nesse deslumbramento de rebanho que engole sem digerir a informação mediática lá vai sem se avisar do que se pode esperar. Sim, sem dúvida que duma forma geral o povo português é direto na sua fala, se não gosta já demonstra na cara dura. Sim, é neurótico. Perde a calma com muita facilidade, esquece de ser gentil muitas das vezes. Como portuguesa, a viver há 10 anos no Brasil, conhecendo este imenso território desde 1996 tenho sérias dúvidas se voltaria a viver em Portugal a longo prazo. Há décadas que eu escolhi o Brasil para viver, muito antes da crise financeira e desemprego que assolou Portugal durante 2007 e 2017. Eu amo o Brasil e a diversidade do seu povo de múltiplas manifestações culturais, artísticas, espirituais. Os bambambam deixam-me com um pouco de azia, mas bambambans há em todo o lado e com os que falam a mesma lingua que eu o papo aí fica mais reto.

" Mãe, aqui na Bahia eu acho que passo por baiana". Compreensivel. Filha de negro angolano. Sim,porque também há negros alemães, como brancos angolanos. Se isso ainda é dúvida para alguém precisa de se informar melhor, pois isso já nem deveria ser debate... Sim, estes dias tivemos a oportunidade de viajar até ao litoral baiano onde a mata atlântica ainda nos lembra que antes do ser humano existir a natureza já era nossa mãe. Foi um privilégio ou uma oportunidade de começar o ano dando uns belos mergulhos para descarregar energias densas e carregar baterias para este ano de 2022 com dias como o dia de hoje cheio de combinações mágicas: 02/02/2022?

De vez em quando visito uma página no insta que é um muro de lamentações de mulheres brasileiras no mundo. O alvo predileto é Portugal. Continuo a perguntar-me: o que faz alguém vender tudo, atravessar o mar, deixar o seu emprego mais ou menos qualificado para ir trabalhar num call center ou numa cafetaria durante 8, 10 horas para receber uma ninharia e ainda ser tratada com preconceito por ser brasileira? Sinceramente não entendo... É aquel velho sonho de viver na Europa e depois vai para uma parvónia provinciana qualquer em Portugal que se está a levantar aos poucos da crise e fica muito decepcionada e só cospe o tal do fel em relação ao país e ao povo todo que lá vive? E ainda diz que os portugueses sentem inveja dos brasileiros? Grande emaranhado. A pessoa que age em rebanho sem se avisar não terá tecido a sua própria armadilha? Embora não concorde em absoluto com tratos preconceituosos e maldosos vindos de parte a parte. Sejamos honest@s.

Da minha parte, eu fico apreensiva com alguém que já fala que a outra pessoa tem é inveja. Por exemplo, eu ter inveja da avalanche de brasileiros deslumbrados e desavisados de como opera o povo português, com as suas qualidades e lacunas? My dog! Isso sim é provinciano. Eu ter inveja de alguém se enfiar no provincianismo? Ó mama mia que o gato já pia! Se alguém é execelente ou bom no que faz e realiza-se eu admiro e inspiro-me nessa pessoa e em muitos casos faço por chegar mais perto. E aqui no Brasil tem lugares e  tantas, mas tantas mesmo, pessoas que admiro que nem sei se uma vida inteira dá para tudo. 

Beijus e até já!

A Piu

Br, 02/02/2022