terça-feira, 3 de novembro de 2020

CAMINHOS (DES)CONSTRUÍDOS


 Provavelmente Romano desconhece ou menospreza o poder de Celta e de suas semelhantes. Para Romano poder significava domínio, controle. Ainda precisava de viver mais um tanto para que outros caminhos com outros portais se abrissem diante dele. Despir-se  da armadura que se habituara a envergar, para assim conquistar um império que construíra na sua cabeça e que ao invés do tornar potente o enfraquecia no seu orgulho vão. E como todos os impérios, que são vãos porque orgulhosos do seu domínio efémero, mais tarde ou mais cedo caem em cacos, deixando na memória ruínas dum império que um dia faliu porque não se sustentava mais. Como todos os impérios

Ali estava ele deitado no chão e Suevo olhava para ele. Primeiro sem prestar muita atenção em cada detalhe, mas sabia do que Romano era capaz. No seu melhor e no seu pior. Talvez não soubesse que Romano tinha dificuldade em parar em saber parar. O que salvava e até protegia Romano era a imensa amizade que Suevo nutria por Romano. Ternura, como aquela que um irmão sente por outro irmão mesmo quando este faz burrada. Amor incondicional de querer o melhor para Romano. Mas Romano preferia manter-se cego e cabia a Suevo olhar no fundo dos olhos de Romano sem muitas palavras, sem nenhumas palavras nem justificações. A boçalidade, a insensibilidade não se justifica como um pano quente que omite e torna irrelevante o que terceiros sentem, seja amor, seja medo, seja desconfiança, seja esperança.

Suevo tomou essa responsabilidade, que era também um ato de coragem, de olhar para o seu irmão e ajudá-lo a se desenvencilhar dessa armadura. Debaixo desta encontrava-se um pedaço de lança enfiada no coração de Romano. Como uma lança atravessara a armadura e somente a ponta mantinha-se num dos lados do coração sem que este parasse ao ponto de Romano acreditar que esta fazia parte do seu organismo é um mistério. Pelo menos para Celta que mantinha-se do outro lado da montanha como proteção até que a decisão de Suevo em olhar nos olhos em silêncio fosse efetiva, incluindo Galego que aos poucos poderia adquirir a sabedoria de não se precipitar em suposições e conclusões acerca do que enxergava à superfície sem conhecimento de causa. Aos poucos Galego aprenderia a potêncoa do silêncio como um caminho para o discernimento.

Durante muito tempo Romano comprou e vendeu a ideia que todos os caminhos iam dar a Roma, pois no fundo nunca tinha olhado para o que lhe doía sem projetar nos outros sere human@s o seu desdém em construir amizades verdadeiras e profundas e o seu ressentimento em não conseguir ter na mão as conquistas e troféus que até então considerava importantes como vitórias para ostentar e de seguida menosprezar. Tinha a grande sorte de Suevo e também Galego gostarem dele esse trio formava um clã. Celta apreciava isso juntamente com o seu clã cujos princípios baseavam-se na ética e na liberdade de sermos quem somos sem oprimir nem permitir que nos oprimam. Também apreciavam, Celta e o seu clã, do sentido de justiça de Suevo.

Cabia a Suevo e a Galego tirarem essa ponta de lança do coração de Romano dando o exemplo do que é ser ser hu mano, onde se respeitam as minas e os manos.

Enquanto isso Celta mantinha-se do outro lado da montanha até que todos os muros construídos por Romano fossem derrubados e tod@s pudessem respirar de alivio sem dúvidas, desconfianças. Tod@s apaziguados com o que o já passou de negativo, rasteiro e malicioso até muito recentemente e que não voltaria a se passar. Para que isso acontecesse a palavra R-O-M-A teria de ser lida de trás para a frente. 

Agora Romano, assim como Suevo, Galego, Celta e todos os clãs saberiam sem sombra de dúvida: Todos os caminhos vão dar ao A-M-O-R. 

A Piu

Br, 03/11/2020

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