Madrid foi a primeira capital que conheci com mais afinco, mesmo antes de conhecer Lisboa e na mesma viver e transitar como quem olha para a palma da mão. Até aos 18 anos o limite das minhas viagens eram a tal da Península Ibérica, que contempla o " meu Portugalito" e a vizinha Espanha, que muitos de nós diplomaticamente e até solidariamente designamos referimo-nos como " nuestros hermanos". Subscrevo essa de serem " nuestros hermanos" para o que der e vier, no louvável e no menos louvável e no pseudo louvável. Embora com todos os possíveis narcisismos das pequenas diferençs os " espanhuelos" mesmo assim são muito mais arriba no que toca a fiesta e até um certo ponto mais cosmopolitas. Vai lá num povoado em Portugal, perto da fronteira, e passa para um povoado em Espanha. Dum povoado fantasma, de todos fechadinhos em casa a assistir tv ou travadinhos no café central mais próximo, na vizinha Espanha tem crianças a correr na praça central até altas horas da noite e toda a minha gente cá fora a conversar, a dançar, a rir e a consumir... Também. Por supuesto.
Por falar em nuestros hermanos! Aqui estou eu "con mi hermano" e o seu respectivo Kispo, nesta época ele também usava calçado nacional, antes do made in China chegar em grande, os ditos ténis Sanjo. Já eu eu tinha que levar com umas botas ortopédicas fizesse chuva, frio ou calor. UM HORROR! Principalmente no Verão!!! Talvez esteja explicado essa re existência a tudo o que seja ortopédico, nomeadamente ideias e ideologias processadas, que envolve referências de autores e até ditadores e suas reproduções sem questionamento carente de cunho pessoal, de autonomia e criatividade no refletir e produzir conhecimento.
Aqui estamos os dois no meio duma enorme estátua do Dom Quixote e do Sancho Pança no centro de Madrid. Nunca li Cervantes, mas assisti aos desenhos animados e gostava muito do cachorrito escanzelado que os acompanhava e quando o Dom Quixote lutava contra moinhos imaginários. Eu sentia carinho pelo cavaleiro da triste da figura, embora fosse alucinado à deriva apoiado pelo Pança, esse bonacheirão.
Nesta estadia madrilena, um tanto prolongada para a minha realidade da época, pois estivemos talvez um mês por motivos profissionais dos adultos que nos acompanhavam ihihih ( eram eles que nos acompanhavam e não nós, crianças), eu e aqui o meu hermano ficamos certa vez embasbacados, como um boi que olha para um palácio, na frente duma vitrine que tinha um tv a cores!!!! Uma tv a cores!!!! Os nossos acompanhantes adultos tiveram de nos arrancar da frente da vitrine da loja encerrada. Nós que só assistíamos os desenhos animados e afins a preto e branco, nomeadamente o Ursinho Jackie que em Madrid até tinha uma caderneta de cromos da marca dum yogurte muito conhecido! Eramos assim introduzidos ao consumismo!!! Ah! Já não falando dos refrigerantes amaricanos que eram um must, principalmente com gelo e limão. Enfim, isto no final dos anos 70. No inicio de 90, Budapeste era muito mais americanizado, no sentido de fast food e afins, que Lisboa , no particular, e Portugal no geral alguma fez foi e é.
Nessa época as novelas brasileiras também chegavam ao quintalinho luso que sempre esteve, de alguma forma, isolado do resto da Europa. Para mim soava estranho, ainda soa, quando alguém na novela dizia: " Vou para a Europa para esquecer de tudo isto! Vou viajar pela Europa e depois logo se vê!" Eh eh eh. Essa do "depois logo se vê" é uma frase idiomática lusa que eu coloquei agora, mas é por aí tipo: "seja o que deus quizé!". E porque me soava e soa estranho? Porque não entendia a que Europa a(S) pessoa(S) tropicais se referiam. Por outro lado eu sempre achava que essas pessoas deviam ser muito ricas para viajar pela Europa toda assim duma vez só. Ainda também acho engraçado quando alguém está em Portugal e anuncia assim: " Estou aqui na Europa!". Primeiro, o portuga comum tem o complexo do patinho feio face à Europa. Aliás, quando saímos da Península dizemos que vamos à Europa. E quando chegamos a um desses países, alguns de nós, como ostentação dizemos aos outros que estamos na Europa. Adoro essas ridiculitudes que nos trespassam se não prestarmos atenção. Porquê ridiculitude? Porque além de nem toda a gente viajar é uma fala eurocêntrica. Eu gosto e admiro a Europa até um certo ponto, mas além de não ser o centro do mundo como os States tem aí umas dívidas históricas com outros continente que precisa de limpar o tal do campo energético.
No próximo texto falarei do meu assombro quando saio do Brasil e viajo para um país da América do Sul, parece que até certo ponto estou a viajara para a vizinha Espanha... Falarei também sobre o que me intriga sobre carmas coletivos que atravessam os tempos imemoriáveis. Serão textos de questionamento e não de afirmações, pois são assombros intrigantes meus que com certeza tenho algumas respostas factuais, porque históricas, e outras do campo do invisível, da não matéria.
Beijus e até ao próximo texto. Ah! E não nos esqueçamos de nivelar por cima, para irmos limpando a mediocridade interna e externa e assim olharmos o horizonte com excelência. Dando assim o nosso melhor.
A Piu
Br, 21/09/2020
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