domingo, 24 de junho de 2018

PAZ PAZ DO RAPAZ


Disseram num curso de economia criativa que para chamar audiência não podemos exceder um determinado número de caracteres. Mas no caso, se alguém já ler, outro reflectir ainda e outro se manifestar beleza. Tudo certo. Está sempre tudo certo, dependendo da forma como lidamos com o assunto.
Como diz o outro: " Como alguém age é o seu karma, como nós lidamos com isso é o nosso karma. " Sendo que karma é um padrão de comportamento que podemos transmutar. Esse é o nosso darma, o propósito de transcender um padrão que já não serve ou nunca serviu.
Atuar, escrever, musicar para uma pessoa só é igualmente uma honra. Tocar um coração engrandece o nosso.
Depois de ouvir " Could you be loved" do Bob Marley e agora " Liberdade" do Sérgio Godinho, esses must musicais do meu repertório que contribuem para a minha formação como cidadã falemos então de cidadania. Se alguém achar que escrevo muito ou que isto ou aquilo... Das duas uma ou das duas duas ou das duas nenhuma: temos que nos olhar mais e valorizarmos nos realmente ou cada um na sua ou dá um tempo.
Ora deu-se o caso de me lembrar esta semana de propor o meu teatro lambe lambe na feirinha dum campus universitário perto de chez moi ( falar por estas bandas franciu dá estilo. É cafona, mas vou aproveitar já que falo  Cafona com propriedade para que o respeito pela minha pessoa se aflore   )
Ora nesse campus que é a unicamp que se alega uma referência na América Latina e no mundo ( tá... Ok... Vamu lá. Por que não, atão? ) as relações de poder ainda estão bastante presente no mais infimo detalhe.
Para propor o meu trabalho teria de falar com o sindicato dos trabalhadores da unicamp, que esta em greve há um mês. Só me pergunto até que ponto esses grevistas sacrificam o seu salário de tanto paralisarem. E é uma prática comum na unicamp. Greve de três a quatro meses. Venho duma realidade que um dia ou uma manhã e viva o velho! Mas com todo o respeito pela luta trabalhista. Sem ironia, mas penso nisso principalmente por ser desde sempre trabalhadora autónoma, muitas vezes sem ter direito a contrato mesmo quando deveria ter.
Chegando ao sindicato a responsável não estava. A pessoa que me atendeu lembrava o Marley. Das vezes que me cruzei simpatizei com ele, sem conversar. Balde de água frio. Recebeu-me com sete pedras na mão. Disse que para estar naquela feirinha era preciso ser aluno, funcionário ou familiar de funcionário e que eu estava no Brasil e que qualquer um podia mentira visto que não se fazerem exames de DNA... Eu teria que provar burocraticamente a veracidade. Eu já fui aluna de mestrado daquela instituição e enjoei da mesma por esse tipo de trato arrogante, arcaico e boçal. Pedi para repetir toda a informação sem opinar. Opino agora publicamente, porque se estudamos é para defender um mundo mais justo e emocionalmente mais sustentável. Também pedi para repetir, porque vai que entendo linearmente, como portuguesa que sou   E os meus olhos ficam uns faróis quando surpresos mesmo sem falar. Fazerem-nos sentir estrangeiros e burrinhos, além de chato, é agressivo. Não deixo passar... E como já tive parceiros e amigos estrangeiros no meu país a serem tratados assim... Não podemos nos omitir. Faço-o também em honra da minha mãe que tinha tiróide. Essa magana que se instala no garganiço por não exprimirmos na plenitude pensamentos e sentimentos. O corpo manifesta-se.
Resumindo. O cara ficou ainda mais irritado comigo quando lhe pedi para confirmar o mail que ele disse que estava no boletim junto à água... Não me compreendia como eu não o compreendia... Desejei-lhe paz e que eu não o estava a tratar mal por isso agradecia que não fizesse isso comigo. E quem me conhece sabe que quando a tampa me salta ou piso na bola eu assumo, assim sendo não me coloco aqui como a coitadinha.
Concluindo, quando lhe desejei paz com tranquilidade o homem saltou da cadeira, deu um passo para trás, e em diagonal brada assim: "Eu não preciso de paz! Eu não quero paz! Estou em luta! Estou em greve"!
Só posso concluir que um sindicalista e grevista nem sempre tem um sentimento de solidariedade nem olha o outro como seu semelhante, sendo que ele por ser grevista está empregado e tem um contrato o que muitos não estão nessa condição por circunstâncias e opções. E alguém que grita que não quer nem precisa de paz... Bye bye! Au revoir! Adeuzinho! Sinto muito por ser assim e vindo dum negro que sabe o que é ser oprimido, agradeço pela lição de vida e eu te amo na tua essência como respeito pela vida num todo, mas não somos obrigados a estar em ambientes em que o bom trato é descurado. Estarmos atentos aos sinais é um caminho para a sabedoria e maturidade. Passemos pelas portas que se abrem de facto. As outras que se entreabrem ou se fecham, tomemos como aprendizado de algo que agrega para nos abrir mais a cabeça e o coração.
A Piu
Br, 2/06/2018
pintura: Pablo Amaringa

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